Baixar - Proppi - UFF
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Pela descrição do espaço e da dinâmica do início do ritual, é evidente como este é<br />
parecido com um espetáculo de dança por exemplo. O cenário é preparado com objetos<br />
simbólicos representantes do tema da festa; o lugar de arrumação das pessoas parece com<br />
o camarim de um teatro; os espectadores vão chegando e se acomodando nas cadeiras<br />
preparadas para eles; por fim, imprevistos técnicos acontecem, como neste caso foi a<br />
chuva fortissima que caiu e causou uma reorganização e muito trabalho para que não se<br />
estragassem o cenário e os figurinos. Um cuidado particular foi reservado, como sempre<br />
é, para os atabaques, considerados sagrados na religião afro-brasileira. Eles são<br />
enfeitados com laços, posicionados em uma área própria, e somente os iniciados podem<br />
tocar neles. Os músicos que são autorizados a tocar neles, chamados de ogãs, são<br />
especialmente treinados e iniciados para aprender cada toque, cada ritmo e cantiga de<br />
Orixá. No ritual ketu há três atabaques: o Run, o maior deles, de tom grave, tocado com<br />
uma baqueta de madeira e uma das mãos, é considerado como o som que chama os<br />
Orixás; o Rumpi, menor que o Run, percutido por baquetas de madeiras chamadas<br />
aquidavis, e tem função de manter o ritmo; o Lê, atabaque pequeno com tom médio, com<br />
a mesma função do Rumpi (Pessoa de Barros, 2000). A sacralidade dos atabaques é algo<br />
que já foi mencionado no capítulo anterior ao falar da importância dos instrumentos<br />
percussivos na cultura afro-descendente. Na dança Afro, os atabaques e os toques<br />
executados com eles são fundamentais na execução dos passos e na performance do<br />
movimento. Além dos atabaques, outros instrumentos são usados no ritual de Candomblé,<br />
como o agogô ou o adja, instrumentos percussivos com som metálico, utilizados na<br />
dança de Orixás no contexto profano também.<br />
A primeira parte da festa pública no Candomblé é chamada de Xirê, onde os<br />
filhos de santo, guiados pelo toque da orquestra dos atabaques e pelas cantigas, formam<br />
uma roda e dançam em círculo, executando gestos e movimentos específicos de acordo<br />
com a música. O elemento da circularidade portanto aparece fortemente desde o início do<br />
ritual, pois a roda é um componente chave neste primeiro momento de danças do xirê. Ao<br />
se locomover em círculo, reparei que os filhos de santo dançam levemente, executando<br />
movimentos de maneira sutil e não completamente definida. Os atabaques e as cantigas<br />
seguem sem interrupção e, ao tocar certo ritmo, os filhos de santo no xirê executam o