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Baixar - Proppi - UFF

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A partir deste conceito, pode-se ver como há um conhecimento que é corporificado, ou<br />

seja que está presente dentro do meu corpo e que me garante andar no mundo. Este<br />

conhecimento é o resultado da constante interação entre o corpo e o mundo, entre o<br />

“eu” e o contexto, que estão sempre em contato e influênciando um ao outro.<br />

Esta idéia de Bourdieu nos leva a uma postura mais radical ainda, onde o corpo, o<br />

mundo e o indivíduo se entrelaçam e interagem de tal maneira que o dualismo cartesiano<br />

pode-se considerar superado. Trata-se da abordagem fenomenológica de Merleu-Ponty,<br />

fundamental para analisar o corpo em movimento na dança. Através desta abordagem,<br />

desconstrói-se a idéia de corpo como simples expressão de significado e, em seu lugar,<br />

ergue-se um corpo sujeito, produtor de significado e de discurso. Na obra A<br />

Fenomenologia da Percepção, Merleu-Ponty pergunta: “se o corpo é instrumento, quem<br />

o instrumentaliza? A resposta é o próprio corpo, na medida que é extensão do meu “ser”,<br />

torna-se dele o agente. No momento em que corpo e consciência são interagentes,<br />

deveria-se reconhecer certa subjetividade ao corpo (Merleu-Ponty, 1971).<br />

O corpo, segundo Merleu-Ponty, é o locus da manifestação da existência, dos atos<br />

incorporados, e é sujeito. É no corpo-próprio o lugar onde o sujeito “reconhece o corpo e<br />

estabelece com ele uma subjetividade incarnada, instaurada e instauradora de sentidos”<br />

(Julio). Tudo portanto está no corpo, e este é o veículo de comunicação do ser no mundo.<br />

Gestos e vozes são linguagens construídas através do meu corpo. O mundo então não<br />

pode ser pensado fora da experiência corporal, pois o corpo não é só suporte; ele é a<br />

janela da minha experiência no mundo (Merleu-Ponty, 1971).<br />

Esta visão fenomenológica de Merleu-Ponty vê um corpo, ou seja um sujeito, que<br />

não é somente “pensante”, mas que é também um sujeito que sente ao mesmo tempo.<br />

Este corpo está toda hora se deparando com o mundo, considerado pelo autor como algo<br />

concreto, como objetos não abstratos. O corpo é o ponto de vista sobre este mundo e se<br />

relaciona com os objetos, com as formas presentes ao seu redor de maneira efetiva e<br />

afetiva, pois o corpo não é só movimento, mas também sensibilidade, e a emoção é<br />

fundamental na experiência do mundo. É preciso portanto realizar experiências sensóriomotoras<br />

antes de tudo no próprio corpo, para poder entendê-las. De maneira parecida<br />

Sartre, no texto O Corpo, extraído de “O ser e o Nada: Ensaio de Ontologia<br />

Fenomenológica”, escreve que eu sou o que o mundo é capaz de apresentar para mim, e<br />

que o meu lado sensível emerge na hora que me coloco em relação com as formas do

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