Baixar - Proppi - UFF
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todos os sentidos corporais se envolviam para curtir e compreender o espetáculo. Em dois<br />
momentos em particular, na apresentação de Oxum e na entrada final de Oxalá, meu<br />
corpo começou a se arrepiar e se emocionar de tal maneira que cheguei a chorar. Agora,<br />
racionalmente falando, não havia razão alguma para que eu tivesse esta reação, mas<br />
entendo que houve, como hipótese, uma compreensão corporal que aconteceu, estimulada<br />
pelos gestos presentes na performance, assim como no ritual.<br />
Para resumir estas construções de significados a partir da conversa de gestos entre<br />
indivíduos, Mead fala sobre o aspecto da memória. O autor considera a memória como<br />
um catálogo de experiências de gestos. As memórias e os gestos só se configuram através<br />
da experiência e a memória é produto da atividade pública do indivíduo. Algo só tem<br />
significado se for construído pela ação; portanto, se não há memória da experiência, o<br />
gesto visual não possui significado. Este gesto será percebido mas não será<br />
compreendido, pois não tem consciência sem a experiência (Mead, 1967). Analisaremos<br />
agora mais esse aspecto do gesto dentro do contexto da memória corporal para<br />
chegarmos ao conceito de “embodiment”, que está na base de toda a discussão<br />
desenvolvida até agora sobre corpo e dança.<br />
Memória corporal e Embodiment<br />
Evidenciei já no capítulo 1 e ao longo deste capítulo também a forte conecção que<br />
existe entre performance e ritual, entre o contexto sagrado e o profano; no caso deste<br />
trabalho as experiências performáticas no campo profano da dança Afro oferecem uma<br />
clara noção de quanto este campo profano se aproxime do contexto sagrado do ritual de<br />
Candomblé, onde os “santos” são incorporados pelos sujeitos do ritual. Com respeito a<br />
este campo sagrado, é interessante olhar para uma análise do corpo em estado de<br />
possessão, e por isso podemos fazer uso dos estudos de Paul Stoller sobre “Spirit<br />
possession”. Na obra Embodying Colonial Memories, Stoller explora o campo dos<br />
sentidos e das sensorialidades, analisando as performances dos corpos envolvidos na<br />
possessão de espíritos em rituais e olhando para as sensações, as vibrações e as emoções<br />
presentes nos sujeitos destes eventos. Ele considera o corpo como fundamental, assim<br />
como “os cheiros, os sabores, as texturas e as sensações” (Stoller, 1995, p. 22).