Baixar - Proppi - UFF
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total envolvimento com o movimento executado. Uma das aulas viu como protagonistas<br />
os tambores na minha experiência pessoal de dançarina:<br />
“Hoje não conseguia parar, era como se fosse um desafio comigo mesma-queria ir<br />
até o final. Ainda bem que os tambores ajudaram. É incrível como eles abstraem a<br />
mente do esforço que estou fazendo. Senti o toque deles bem perto do meu<br />
trabalho e consegui realmente estabelecer uma conexão entre a música e os<br />
movimentos que estava fazendo. Foi muito bom.”(diário, 13 Maio 08)<br />
Esta experiência denota um caráter praticamente ritual do ensaio, onde o som dos<br />
tambores penetrou o corpo tão intensamente que o esforço e a dor conseguiu ser<br />
abstraídos para se chegar a um outro nível, mais que simplesmente material, cheio de<br />
sensações positivas. Esta conexão com o som dos tambores é algo de muito espiritual<br />
que, no contexto da dança afro, nos remete a uma experiência do contexto sagrado do<br />
candomblé. Como explica Monique Augras em O Duplo e a Metamorfose “Os tambores<br />
são personagens importantes na vida do candomblé. São considerados como seres vivos”<br />
(Augras, 1983, p. 72). Augras continua explicando que, no barracão de candomblé, os<br />
visitantes vão primeiro saudar os tambores, assim como depois farão os orixás e que “é o<br />
som dos tambores que chama os deuses. Cada orixá tem seus toques específicos, aos<br />
quais responde” (Ibidem, p. 73). Várias cantigas são cantadas para cada orixá, mas é<br />
somente o toque do atabaque que tem o poder de fazer os deuses “baixarem”.<br />
Mesmo não estando em um ritual de candomblé, os tambores na dança afro são<br />
extremamente importantes. Especialmente durante a dança de orixás, é o toque do tambor<br />
que chama o movimento. O corpo responde automaticamente com o movimento ao som<br />
do atabaque, simbolizando um determinado orixá. Em outra aula, pode-se ver como a<br />
conexão entre dançarino e orixá representado está presente:<br />
“É impressionante a sensação de cansaço mas também de leveza que se<br />
experiencia no final de um ensaio destes, dedicado ao estudo de dança das yabás.<br />
É como se um pouco da personalidade de cada uma das orixás femininas entrasse<br />
por dentro do dançarino, que consegue se aproximar de cada uma delas através da<br />
representação dos movimentos simbolizando cada entidade.”(diário, 17 Junho<br />
2008)<br />
Neste caso, o dançarino consegue incorporar o Orixá representado, “se aproximando” e<br />
sentindo dentro de si a personalidade de cada Yabá (orixá feminino). A sensação vivida<br />
pode ser analisada com o conceito de “jogo” de Turner, apresentado por Schechner. Este