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Baixar - Proppi - UFF

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movimento correspondente de maneira imediata, sabendo exatamente qual gestual<br />

acompanha qual toque, mesmo que cada um execute ele com estilo próprio:<br />

“Primeiro começou um xirê com todas as pessoas dançando em circulo com o<br />

mesmo movimento, cantando e todos mudando de movimento a cada toque<br />

diferente que os atabaques mandavam. Todas as pessoas no xirê reconheciam<br />

imediatamente o toque e a cantiga, cantada em iorubá, e executavam o movimento<br />

do orixá correspondente ao toque. Tudo isso ainda sem que nenhum “santo”<br />

estivesse presente nas pessoas. Os gestuais eram executados com leveza, sem<br />

exagero, apenas para simbolizar. Cada pessoa executava o gesto com seu próprio<br />

estilo, mas era possível reconhecer qual gesto era. Como espectador, fui capaz de<br />

reconhecer a maioria dos gestos e saber a qual orixá pertenciam, mesmo<br />

reparando a diferença entre a execução do gesto no xirê do ritual e na dança Afro,<br />

onde é muito maior e mais estilizado.” (diário, 27 Junho 2009)<br />

É interessante ver como, com o olhar de dançarina de dança Afro, o que capturou<br />

minha atenção foi a diferença na execução dos gestuais entre os filhos de santo que<br />

dançam no xirê religioso e o dançarino que representa a dança do xirê no palco.<br />

Mesmo tendo a mesma forma essencial, os gestos são executados com estilos<br />

diferentes em contextos diferentes, motivados por objetivos diferentes. Entretanto, o<br />

dançarino no palco, mesmo ampliando e estilizando mais o gestual e o movimento, é<br />

inspirado pela postura corporal dos filhos de santo durante o xirê. No seu livro A<br />

Dança de Yemanjá Ogunté: sob a Perspectiva Estética do Corpo, Suzana Martins<br />

escreve que todos os corpos no xirê assumem uma postura comum ao se<br />

locomoverem, mesmo com estilo diferente. Martins chama esta postura de “atitude<br />

corporal básica” que consiste em:<br />

“Alinhar verticalmente todo o corpo, acomodando a coluna vertebral em posição<br />

ereta mas curvando o tronco levemente para frente. A articulação dos ombros é<br />

acionada de maneira relaxada, com os braços semiflexionados e os cotovelos<br />

apontados para fora; os joelhos também se mantém semiflexionados. Mantendo<br />

essa atitude o corpo se desloca para frente, através de um pequeno passo que abre<br />

e que fecha para um lado e para o outro, alternando os pés, enquanto os braços<br />

semiflexionados balançam num movimento de “ir” e “vir” sutilmente acentuados<br />

pelos cotovelos” (Martins, 2008, p. 46)<br />

Esta postura descrita por Suzana Martins é retomada e adaptada na dança Afro. Como<br />

ela mesmo escreve, no afoaxé e no samba de roda por exemplo, adota-se esta atitude<br />

corporal basica enfatizando-a, ampliando e marcando os movimentos com mais<br />

ênfase.<br />

Durante o xirê, os filhos de santo incorporam o Orixá em um momento de êxtase bem<br />

marcante. O corpo do filho de santo começa a tremer ao receber seu “dono da cabeça”<br />

e a partir daquele momento, a roda vai ser composta por espíritos divinos dançando<br />

nos corpos dos iniciados. Corporalmente e cenicamente falando, é interessante

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