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Baixar - Proppi - UFF

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experiências vividas em primeira pessoa sobre esta questão. Muitas<br />

vezes, ao falar que pesquiso e que faço dança Afro, a reação das pessoas<br />

é de surpresa e incompreensão. Dois exemplos mais recentes destas<br />

reações vieram um de uma professora acadêmica de dança e outro de<br />

um amigo de uma minha amiga. Ao falar da minha pesquisa, a<br />

primeira me perguntou: “Como você se envolveu e porque você estuda<br />

algo tão longe de você?”. O segundo comentário que recebi foi com tom<br />

mais surpreso ainda e disse: “Você faz dança Afro? Como assim? Você<br />

é branca!”. Analisando estas reações é possível ver como, pelo menos<br />

por quem é de fora e não me conhece, uma branca, e ainda mais não<br />

brasileira, não se encaixa nas noções assumidas de quem deveria ser um<br />

dançarino de Afro, cujo componente racial é, evidentemente, um<br />

componente do imaginário vinculado a tal categoria. Voltarei a analisar<br />

esta questão da “noção de pessoa” sugerida por Mauss com mais<br />

detalhes no próximo capítulo sobre corpo e identidade, onde falarei<br />

também do corpo do pesquisador no campo pesquisado.<br />

Voltando a explorar mais uma visão construtivista do corpo, a<br />

autora Mary Douglas no seu livro Pureza e Perigo fornece um exemplo<br />

de como analisar a construção do discurso e ver como os elementos<br />

estão interligados. Metodologicamente, querendo comprender o<br />

conjunto, ou seja o sistema, ela trabalha com elementos da semiologia<br />

cuja unidade de análise é o signo. O corpo para ela é o signo que dá<br />

conta da estruturação dos sistemas de classificação, e é uma forma de<br />

produzir um sentido. O signo portanto é visto como mediador da<br />

cultura, e o corpo, sendo um signo, é considerado como um elemento de<br />

comunicação e da cultura. A cultura, segundo Douglas, é a mediação<br />

das experiências dos indivíduos e ela reduz, controla, reforça, classifica

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