Baixar - Proppi - UFF
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sujeito imaterial, psíquico e racional. Foi somente a partir das últimas décadas que o<br />
corpo tem alcançado um outro tipo de argumento. Com esse novo argumento<br />
estabelece-se uma ruptura com a visão cartesiana, em direção a uma teoria<br />
construtivista do corpo. Através de uma viagem entre algumas teorias antropológicas<br />
do corpo, com as quais me familiarizei no curso de antropologia do corpo do primeiro<br />
semestre 2009, mininstrado pelo Prof. Julio Tavares, este capítulo visa a explorar a<br />
construção da corporeidade como meio comunicativo e como sujeito constitutivo do<br />
real e, mais especificamente, pretende apresentar um corpo como protagonista na<br />
construção de significados na performance da dança Afro.<br />
Começando a analisar como o corpo é produto da sociedade, Marcel Mauss, no<br />
texto As Técnicas Corporais, escreve como o corpo humano é moldado e adaptado às<br />
condições estabelecidas pelas disciplinas e pelos elementos de poder na sociedade. Ele<br />
enfatiza a transmissão da tradição, querendo dizer que as técnicas corporais são ensinadas<br />
e o corpo é o produto de uma adaptação. O modo de olhar, assim como o modo de andar<br />
e o comportamento são atividades resultantes de um trabalho fisiológico e são produto da<br />
transmissão cultural (Mauss, 1934). Mauss portanto fala de um homem total, constituído<br />
pelo lado físico, psicológico e sociológico. Mesmo que nos textos de Mauss esteja<br />
presente uma dicotomia entre corpo e alma, ele começa a reconhecer a interação e<br />
cooperação entre estes elementos.<br />
Mauss traz exemplos de como o corpo aprende coisas diferentes a partir de<br />
situações diferentes, tais quais a questão de gênero, idade e ambiente. O homem consegue<br />
utilizar seu corpo e produzir técnicas corporais dependendo do ambiente, e acostuma o<br />
corpo a determinada ação. O corpo é definido por Mauss como o instrumento e meio<br />
técnico do homem, e as técnicas são procedimentos incorporados ligados à tradição e à<br />
transmissão, especialmente oral. Segundo Mauss, o processo é inconsciênte, onde o corpo<br />
é um elemento da natureza que absorve a consciência coletiva da sociedade e da cultura.<br />
O corpo portanto é considerado como um produto de um pensamento coletivo. Mesmo<br />
tendo elementos inovadores na análise de Mauss, ele não consegue quebrar<br />
definitvamente com o dualismo cartesiano que sempre influenciou as ciências ao se falar<br />
de corpo e alma como duas coisas distintas onde a alma é considerada a parte pensante,<br />
ou seja o “eu”. No entanto, ao introduzir o corpo na sua discussão, Mauss contribui para<br />
se entender o corpo como sujeito pensante e como pessoa.<br />
Falando da noção de pessoa, Mauss também escreve sobre a formação da<br />
categoria do “eu” e sobre as várias formas de ser um determinado sujeito em determinado