Baixar - Proppi - UFF
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especialmente do Zebrinha (coreógrafo de dança Afro, atualmente coreógrafo do<br />
Ballet Folclórtico da Bahia). Ela contou de uma vez na qual “estas meninas brancas<br />
arrasaram no show e no final Zebrinha foi até dar os parabéns!” (diário, 27 Abril<br />
2009). Mudando de assunto, Eliete comentou sobre a aula de hoje no Circo, e falou<br />
que “o povo da aula é realmente interessado na dança Afro; parece que eles estão<br />
buscando uma identidade mesmo, apesar de ser todo mundo branquinho!” (diário, 27<br />
Abril 2009). A primeira história da Eliete mostra o preconceito que se há contra<br />
colocar dançarinos brancos em shows de dança Afro, especialmente na Bahia, onde<br />
quer-se manter e mostrar a dança Afro como o mais “pura” e “autêntica” possível.<br />
Durante uma entrevista com o professor de dança Afro Pakito em Salvador, ele contou<br />
de uma audição que ele fez para o Ballet Folclórico, e disse “a cor da pele me ajudou<br />
na audição; eu passei e outro loiro não” (Pakito, 26 Agosto 2009). A cor da pele na<br />
dança Afro aparentemente simboliza a capacidade de saber dançar ou não. O segundo<br />
comentário da Eliete evidencia como a cor da pele aparentemente deveria estar ligada<br />
a uma noção de identidade. A surpresa no afirmar que os alunos estão buscando uma<br />
identidade “apesar” de ser branco mostra a pre-noção do que somente os negros<br />
poderiam se identificar com a dança Afro.<br />
Durante minha vivência como dançarina branca de dança Afro senti muito os<br />
estereótipos raciais na pele, sendo muitas vezes classificadas como a que “dá conta do<br />
recado” ao dançar Afro. Após uma aula no Circo Voador um dia, uma das alunas,<br />
negra e baiana, comentou: “Você é italiana, não é negona e dança tão bonito. Acho<br />
isso tão legal!” (diário, 14 Setembro 2009). O tom surpreso do comentário feito indica<br />
a crença em uma incongruência entre as identidades “italiana e não negona”, e alguém<br />
que “dance bonito” o Afro. Outro exemplo mostra um comentário parecido:<br />
“Hoje a gente ensaiou no Centro Coreográfico, nos preparando para a<br />
apresentação. Ensaiamos muito a dança de Orixás e a coreografia do xirê, na qual<br />
eu danço para Nanã. No final do ensaio, algumas das meninas comentaram: “Ela é<br />
ótima dançando Nanã! Dança tão bem e é branca!” (diário, 30 Maio 2009).<br />
Mais uma vez o comentário indica o tom de incredulidade diante de uma branca<br />
dançando bem para Orixá. A naturalização das categorias é evidente, sendo a de<br />
“branco” ou “italiana” associada com a incapacidade de dançar o Afro, coisa que<br />
deveria ser natural para uma “negona”.<br />
Experiências como essas foram múltiplas ao longo do meu tempo no círculo da<br />
dança Afro. Em outra ocasião senti como a categoria de raça, junto com a de gênero<br />
são repletas de noções estereótipadas:<br />
“Um dia nosso grupo ensaiou na UERJ para se preparar para uma apresentaçãao.<br />
Após o ensaio eu e A. ainda ficamos para a aula da Eliete na mesma UERJ. Ao<br />
entrar na sala de aula juntos e suados, explicamos para os outros alunos que nós<br />
estávamos vindo de um ensaio de 3 horas com a Eliete, eles comentaram se<br />
referindo a mim: “como você aguenta?”. Mas ninguém falou nada para o A.”<br />
(diário, 3 Junho 2009)