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Baixar - Proppi - UFF

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fato de ser o único grupo de dança Afro presente, que foi recebido com muita resistência<br />

e preconceito:<br />

“As pessoas não sabiam o que esperar da gente, tinha muita resistência. Quando<br />

nos viram nos arrumarmos começaram a olhar torto para nossa roupa. Éramos os<br />

únicos e éramos diferentes” (2 Maio 2009).<br />

O olhar preconceituoso dos outros é algo vivenciado muitas vezes por Eliete e nosso grupo, assim como por outros grupos de dança<br />

Afro. Essa resistência contra a dança Afro cria várias dificuldades em conseguir praticar essa arte. Durante uma entrevista em<br />

Salvador, a professora de dança Afro Tatiana disse:<br />

“A gente passa por muito preconceito. Se se falar que faz-se afro aqui, você nem imagina. Pra conseguir espaço é difícil<br />

porque nos falam que a gente faz barulho”(26 Agosto 2009).<br />

Neste caso, Tatiana nos informa da dificuldade em conseguir um espaço para dar aula de dança Afro, por causa da concepção do que<br />

durante uma aula de dança Afro se faz “barulho”. Nosso grupo CorpAfro sofreu um preconceito parecido quando, ao ensaiar nosso<br />

espetáculo na Escola de Arte Martins Pena, uma professora de música que estava na sala de baixo, entrou na nossa sala gritando<br />

“parem de fazer barulho!” (2 Outubro 2009). Se prestarmos atenção a este vocabulário usado, “fazer barulho”, pode-se ver o<br />

desprezo e a não consideração existentes com o som dos tambores e com a arte de dançar Afro. Muitas vezes, a origem do<br />

preconceito vem de causas religiosas, como analisei no capítulo 3, ao confundir a dança Afro com “macumba”, a qual também sofre<br />

muito preconceito no Brasil. Outras vezes, a discriminação é racial, coisa que o povo brasileiro custa admitir mas que está muito<br />

presente nesta sociedade.<br />

Quis trazer essa minha experiência no campo onde o corpo sentiu na pele as<br />

consequências das divisões e categorias raciais, com a esperança de quebrar alguns<br />

preconceitos e estereótipos. Afinal, o racismo não se combate com mais racismo.<br />

Concluo este capítulo expressando um desejo de igualdade, tolerância e entendimento das<br />

diversidades, usando as palavras de Franz Fanon no seu livro Pele Negra Máscaras<br />

Brancas:<br />

“Eu, homem de cor, só quero uma coisa: que jamais o instrumento domine o<br />

homem. Que cesse para sempre o domínio do homem pelo homem…<br />

Ambos (o negro e o branco) têm que se liberar das vozes desumanas de seus<br />

ancestrais para que nasça uma autêntica comunicação…<br />

Superioridade? Inferioridade? Por que, simplesmente, não tentar alcançar o outro<br />

sentir o outro, revelar-me ao outro?” (Fanon, 1983, p.189)<br />

Com a esperança e a crença do que a dança Afro contribua para uma autêntica<br />

comunicação, para que se possa e se queira realmente alcançar o outro, sentir o outro<br />

e se entregar ao outro.

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