Baixar - Proppi - UFF
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depois Omolu, deus que espanta as doenças, e enfim Iansã, rainha dos<br />
ventos e da tempestade. Além da diferença nos movimentos próprios de<br />
cada orixá, o que pude reparar foi a diferença na qualidade do<br />
movimento e do corpo ao dançar:<br />
“Na hora de dançar Iemanjá, foi como se a sensação do<br />
movimento da água tivesse entrado dentro do corpo. Cada passo e<br />
cada gesto era sinuoso, tinha uma qualidade de leveza e sutileza, e<br />
tinha um aspeto ondulatório, como se fossem as próprias ondas do<br />
mar. Ao mudar para a dança de Omolu, o corpo começou a se<br />
movimentar diferentemente. Mais do que ondulação, agora era<br />
um certo tremor a caracterizar os movimentos. O tronco e os<br />
joelhos assumiram um molejo intenso e os braços, mãos e coluna,<br />
ficavam se tremendo, como se fosse para deixar sair as doenças.<br />
Finalmente, a dança de Iansã fez o corpo se movimentar com<br />
extrema rapidez, força e energia, parecendo ser carregado pelo<br />
vento e mostrando a qualidade de ar presente na dança de Oya.”<br />
(5 Setembro 2009).<br />
É aqui evidente como os mitos e as qualidades de cada orixá são<br />
incorporadas no corpo dançante. Na dança, o sentido do movimento<br />
pode-se entender diretamente pela qualidade do movimento, seja esta<br />
sutil e ondulatória, firme no chão, ou rápida e aeréa que nem uma<br />
ventania. Ao mesmo tempo é esta qualidade do movimento que produz o<br />
significado de um certo mito ao re-atuá-lo e incorporá-lo.<br />
Este capítulo visou fazer uma viagem através de várias teorias<br />
sociológicas e antropológicas do corpo, enriquecidas e exemplificadas<br />
por casos etnográficos e de auto-etnografias, bem como experiências<br />
corporais vividas no campo da dança Afro. Começou-se por analisar as<br />
visões construtivistas do corpo, que consideram este último como<br />
produto da sociedade, instrumento do homem e suporte das<br />
classificações sociais. Vimos como, mesmo não inteiramente, estas