Baixar - Proppi - UFF
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aços são as únicas partes do corpo deixadas nuas. Além da indumentária singular, o<br />
símbolo de Obaluaiê é o xarará, objeto formado pelas nervuras das folhas de palmeira,<br />
amarradas com tiras de couro e decorado com figuras de búzios, com o qual ele varre a<br />
peste para longe de nós (Pessoa de Barros, 2000). Umas cabaças são penduradas ao seu<br />
ápice, contendo os óleos e remédios deste “médico dos pobres”.<br />
Omolu dança seu ritmo específico, o opanijé, andando para direita e para<br />
esquerda, com três passos para cada lado. Ao mesmo tempo, as mãos espalmadas<br />
movem-se alternadamente para o alto (significando vida) e para baixo (significando<br />
morte), a cada movimento de braços que avançam e se recolhem (Pessoa de Barros,<br />
2000). O ritmo de Omolu tem uma cadência firme e marcada, e os movimentos são<br />
portanto lentos e cadenciados. Na festa pública de Candomblé observei Omolu entrar<br />
todo coberto de palha da costa, executando o movimento da mão aqui a pouco descrito,<br />
andando de maneira compassada e com muito molejo do corpo. Nas aulas de dança,<br />
reproduzimos este movimento típico de Omolu, prestando muita atenção ao molejo<br />
cadenciado do corpo, à posição inclinada para a frente e ao movimento significativo da<br />
mão. Nos ensaios exploramos outros movimentos de Omolu, nos quais as mãos ficam<br />
tremendo enquanto o corpo executa um giro de um lado e de outro e, a cada giro, os<br />
braços são jogados para o alto, como para expulsar as doenças do corpo (diário, 5<br />
Setembro 2009). Ao dançar Omolu a sensação do corpo é de tremor, para expulsar tudo<br />
de ruim e doente de dentro. É uma sensação também de vergonha e indignação por ter<br />
sido abandonado. O corpo que dança para Omolu está muito ligado à terra, tendo<br />
momentos nos quais até se ajoelha e bate com o punho fechado no chão, na terra, seu<br />
elemento natural. É um corpo que anda pausadamente, com um molejo bem acentuado,<br />
como para marcar o alto e o baixo, representando mais uma vez a vida e a morte.<br />
OXUMARÊ