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Baixar - Proppi - UFF

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observar o momento da “virada” do santo e a sucessiva fase de transe. Durante o xirê<br />

da festa da mãe R., minhas notas contam:<br />

“Quando começou-se a tocar para Xangô, as pessoas “viraram” e apareceram<br />

vários orixas. O momento foi um ápice, onde a energia aumentou, o toque rápido<br />

despertou um fluxo de energia e movimentação, houve gritos e cantigas em tom<br />

bem alto, com as equedes e a plateia incitando e acompanhando a virada dos<br />

santos, até que todos os filhos de santo foram levados para a casinha onde iam ser<br />

arrumados, cada um com sua roupa específica.” (27 Junho 2009)<br />

O momento da incorporação dos Orixás é o verdadeiro ápice do ritual, e a energia<br />

dentro do barracão aumenta incrivelmente, suscitando uma série de reações por parte<br />

dos participantes, tanto dos ogãs, quanto das equedes (filhas de santo que não são<br />

rodantes, ou seja não incorporam o santo), e da audience. Após virarem, os filhos de<br />

santo são ajudados pelas equedes, que retiram cada objeto material do corpo, como<br />

relógio, óculos ou sapatos, e colocam um pano da costa amarrado no tronco, chamado<br />

ojá. Os filhos de santo em união com os Orixás dançam segundo as cantigas especiais<br />

de cada um de seus Orixás, até eles serem retirados do barracão e seguem para o<br />

quarto reservado para sua arrumação. Este é geralmente o momento quando se há um<br />

intervalo, onde a platéia e os ogãs comem alimentos típicos do santo homenageado na<br />

festa, conversam e confraternizam. Após a pausa, o ritual recomeça e os Orixás<br />

entram, vestidos com suas roupas e seus adereços que irei descrever na próxima parte<br />

deste capítulo. Na festa pública trazida até agora como exemplo comecei a observar a<br />

dança dos Orixás:<br />

“Desta vez, cada um dançava muito bem, tendo seu estilo diferente. Ao dançar, me foi possível individuar uns elementos<br />

tipicamente “Afro” no movimento dos corpos: molejo constante, ombros sempre se movimentando, braços grandes e flexionados<br />

e ondulando, mãos abertas ou em punhos, pés leves no chão, joelhos flexionados. O gestual de cada orixá era muito parecido com<br />

o que a gente faz na aula, mas era executado de maneira mais leve, menos exagerado, não para palco” (27 Junho 2009).<br />

Este excerto mostra como a postura corporal dos Orixás dançando no terreiro de Candomblé tem muitos elementos presentes na<br />

corporeidade do dançarino de dança Afro, como o molejo, a movimentação dos ombros, joelhos e braços flexionados etc. Muitas<br />

vezes Eliete levou seus dançarinos para assistir a festas públicas de Candomblé, para poder fazer um estudo etnográfico e observar os<br />

movimentos e as posturas corporais para poder depois reproduzí-los na sala de aula ou no palco. Entretanto, como escrevi no meu<br />

diário de campo, os movimentos e os gestuais dos Orixás no ritual são geralmente muito mais sutis e menos estilisticamente<br />

trabalhados do que os gestuais que o dançarino treina e ensaia na dança Afro.<br />

Antes de analisar detalhadamente os gestuais, símbolos, mitos e personalidades carragedos por cada principal Orixá do<br />

Candomblé de Ketu, quero terminar esta parte da descrição do ritual mencionando o usual encerramento de uma festa pública, que na<br />

maioria das vezes se estende até 5 ou 6 horas da manhã, tendo o ritual durado a madrugada inteira. Para terminar a roda, depois dos<br />

ogãs ter tocado e cantado várias cantigas para cada Orixá, em uma ordem predeterminada, tocam-se músicas de despedida, até cada<br />

filho de santo incorporado sair de cena, de volta para o quarto de arrumação. O ritual acaba e a confraternização informal começa<br />

entre os que participaram ativamente e os que estavam observando. Geralmente é servida uma comida típica do santo homenageado na<br />

festa, junto com bebida, doces e lembrancinhas. Todo mundo senta e descontrai, come, bebe e conversa geralmente sobre a festa que<br />

acabou de acontecer ou sobre temas relacionados ao Candomblé. Durante uma destas confraternizações, após uma festa de Iemanjá em<br />

Nova Iguaçu, os comentários foram sobre a importância do ogã e dele tocar o ritmo certo: “a leveza dos atabaques é o que faz o<br />

candomblé” disse um dos participantes do ritual. Além de ressaltar a importância da música e do ritmo, foram feitos vários<br />

comentários sobre a dança dos Orixás. Todos admiravam a leveza do Orixá e diziam que o fato de um Orixá ser bonito ou não

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