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Baixar - Proppi - UFF

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mundo (usando o conceito de Merleau-Ponty) diante de mim. O mundo é o encontro da<br />

sensação com a ação; ele é fruto de uma experiência vivida e da capacidade de imaginar<br />

esta experiência vivida. Não existe portanto um “fora” e um “dentro” do mundo (Sartre,<br />

1997).<br />

Voltando à teoria de Merleau-Ponty, pode-se afirmar que esta visão une inteligência, motricidade e percepção em um<br />

corpo-sujeito. Este corpo não é simplesmente uma coleção de orgãos, mas é organizado segundo um “esquema corporal” que, unindo<br />

os elementos de corpo, espaço e ação, expressaria a localização do corpo no mundo e permite entender como exprimir e situar seu<br />

corpo no mundo (Merleu-Ponty, 1971). Ao falar de espaço e localização, aparece um elemento fundamental na discussão de Merleau-<br />

Ponty: o movimento. O movimento não é somente ação locomotora; ele é provido de sentido e significado, e ele cria a consciência, a<br />

imagem corporal e o espaço. Na hora da execução do movimento, o sujeito não precisa pensar antes para poder executar; é algo que<br />

acontece simultaneamente. O corpo em movimento é portanto a demonstração da atividade do movimento. O ato do movimento não é<br />

mecânico; ele traz uma inteligência em si. Isso quer dizer que existe uma “compreensão corporal” que leva o corpo a se movimentar,<br />

respondendo fisicamente após compreender a situação. A resposta corporal já é interpretação; ela não é nem uma resposta mecânica,<br />

nem uma avaliação mental; esta resposta corporal já é uma compreensão da situação (Merleu-Ponty, 1971).<br />

Para entender o que isso significa praticamente na dança, trago aqui um momento de uma aula no Circo Voador, onde o<br />

corpo compreendeu a situação e executou o movimento sem que tivesse uma avaliação mental anteriormente. Nesta situação minha<br />

professora colocou vários ritmos diferentes de música, trocando toda hora e deixando-nos livres para executar qualquer movimento.<br />

Ao ouvir a música o corpo já respondia de certa maneira:<br />

“Durante a aula executamos movimentos variados ao mudar constante dos ritmos, rapidamente. Naquele momento o corpo está<br />

pensando; a gente reflete depois no movimento que já conhece por cada estilo de música, mas a memória está no corpo.” (30<br />

Março 2009).<br />

Neste caso, através do sentido da audição, o corpo compreendeu uma situação que, de acordo com as memórias de experiências<br />

passadas, pediu ao próprio corpo de se movimentar com um certo “estilo”. Como tudo aconteceu de maneira tão rápida, a<br />

interpretação da música foi a própria resposta corporal e não um pensamento anterior à movimentação. Isso indica que o corpo<br />

“pensou” e “lembrou-se” sozinho dos movimentos aprendidos e dos diferentes ritmos, e foi capaz de executar o que aprendeu na<br />

prática. Utilizando as palavras de Merleu-Ponty, ao falar de “adquirir o hábito de uma dança”, ele escreve: “é o corpo…que agarra e<br />

que “compreende” o movimento. A acquisição de um hábito é bem a apreensão de uma significação, mas é a apreensão motora de<br />

uma significação motora” (Merleu-Ponty, 1971, p. 154). A própria Eliete (minha professora), durante uma outra aula no Circo Voador<br />

na semana seguinte disse: “não se trata de copiar o movimento, é entender ele. O importante é sentir, cada um com seu jeito, prestar<br />

atenção aos detalhes e ver a ciência do movimento” (Eliete, 6 Abril 2009).<br />

Voltando à relação entre o corpo e o mundo, Merleau-Ponty diz que precisamos<br />

habitar o mundo do objeto para penetrar nele, ou seja, o corpo não pode se distanciar do<br />

objeto para conhecê-lo; ao contrário, precisa penetrá-lo. A visão fenomenológica propõe<br />

um abandono de si no outro, para poder conhecer o outro habitando e adotando-o. A<br />

divisão corpos-objetos do positivismo não está mais presente aqui. Segundo Merleau-<br />

Ponty os objetos são corpos e os corpos são objetos, e o mundo é mobiliado por corpos e<br />

objetos, por formas que se relacionam toda hora, criando várias possibilidades de<br />

encontros no espaço. Dentro deste espaço do mundo, o corpo tem seu mundo próprio,

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