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Baixar - Proppi - UFF

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frente de espectadores, os outros membros precisam não revelar o erro até o fim da<br />

apresentação (Goffman, 1959, p. 89). Esta situação aconteceu algumas vezes durante as<br />

apresentações do grupo CorpAfro, durante as quais, se algum de nós errasse na<br />

coreografia, isso seria comentado somente no camarim após a apresentação.<br />

O fato de comentar abertamente os erros só longe da presença do público, evidencia a<br />

presença nas performances de regiões distintas que Goffman chama de “front region” e<br />

“backstage”. A região de frente é onde a performance está acontecendo e os bastidores<br />

são a região na qual acontecem ações relacionadas com a performance mas que não são<br />

coerentes com a aparência da performance (Ibidem, p. 134). Antes de uma apresentação,<br />

portanto, toda a fase de arrumação, de maquiagem, de últimas repetições das coreografia<br />

faz parte dos bastidores. Ao entrar no palco, entra-se a região de frente, onde os<br />

performers mostram somente o que a audience está preparada para ver. A área dos<br />

bastidores serve também para outras funções. Longe dos olhos e dos ouvidos da audience<br />

é muito comum os componentes do time, os dançarinos no meu caso, falar mal dos<br />

espectadores, coisa que eles não fariam na região de frente. Este comportamento é o que<br />

Goffman chama de “Treatment of the absent” (Ibidem, p. 170) e é uma maneira de<br />

manter a moral do time. Este “tratamento dos ausentes” aconteceu algumas vezes durante<br />

minha etnografia como por exemplo em uma apresentação na Cinelandia em ocasião da<br />

marcha mundial da paz. Ao nos apresentar, a mulher responsável pelo evento nos<br />

introduziu como um “grupo de dança típica africana”. O que quer dizer algo “típico<br />

africano”? Isso foi o que cada um de nós pensou imediatamente, internamente julgando a<br />

mulher por pensar que “dança Afro”, no Brasil, é igual a uma “dança africana”. Como<br />

veremos no próximo capítulo, essa é uma definição completamente inexata. Primeiro, não<br />

existe uma dança africana, mas várias danças africanas, pois estamos falando de um<br />

continenete composto por múltiplos países, povos e culturas. Segundo, a dança Afrobrasileira<br />

que o nosso grupo apresenta é complexa e formada por várias modalidades que<br />

serão descritas no próximo capítulo e que, apesar de ter uma origem africana, é uma<br />

dança brasileira, típica portanto deste país onde se desenvolveu. Na hora do comentário<br />

da mulher não falamos nada, entramos na praça e fizemos nossa performance. Ao sair de<br />

cena e nos reunir depois, todo mundo do grupo comentou sobre a denominação dada pela<br />

organizadora e mostrou sua indignação (diário, 2 Outubro 2009).

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