Baixar - Proppi - UFF
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“jogo” é o prazer, a mera êxtase que os rituais dão a seus participantes; é a “atuação de<br />
perigos dentro da esquema do “como se” (Schechner, 1986, p. 365). Do outro lado,<br />
Schechner também considera o verdadeiro estado de transe como um tipo de atuação:<br />
“ser possuído por outro, ou seja, virar outro” (Schechner, 1988, p. 199).<br />
Voltando ao texto Ritual, Violence and Creativity de Schechner, o autor apresenta<br />
um segundo paralelo entre o ritual e a dança ou teatro. Utilizando o conceito de “processo<br />
ritual” de Turner, Schechner escreve que “o processo ritual é estritamente análogo ao<br />
processo de treino-oficina-ensaio, onde o que ‘é dado’ e o que ‘é já feito’, é<br />
desconstruido e quebrado em pequenos pedaços de comportamento, sentimento,<br />
pensamento, e texto, e é depois reconstruido nas performances públicas” (Schechner,<br />
1963, p. 311). Schechner prossegue dizendo que este treinamento comporta o<br />
aprendizado de novas maneiras de falar e de se mover, novos gestuais e talvez novas<br />
maneiras de pensar e de sentir. Ao fim do periodo de treinamento, o ator ou dançarino é<br />
incorporado na tradição do que aprendeu, justamente como um membro iniciado em um<br />
ritual (Ibidem).<br />
Em sua outra obra Between Theater and Anthropology, Schechner reforça mais esta<br />
similaridade entre o rito e a arte da performance trazendo a teoria de Arnold Van<br />
Gennep. Na obra Ritos de Passagem, o autor alemão estuda o rito como um fenômeno<br />
em si, dotado de certos mecanismos recorrentes e de um certo conjunto de<br />
significados. Ele concentra seu estudo nas margens, na transição, que constitui o<br />
aspeto principal dos ritos de passagem. Além da margem, estes ritos são constituídos<br />
também por um momento anterior (fase de separação) e um posterior (fase de<br />
agregação), os quais são importantes de se considerar para o entendimento do ritual<br />
(Van Gennep, 1977). Fazendo um paralelo com Van Gennep, Schechner afirma como<br />
a arte da performance é um ritual que inclui uma fase de separação (preparo técnico<br />
e ensaio), uma de transição (performance) e uma de retorno (relaxamento). A<br />
performance é então a fase de margem e, assim como a iniciação, ela faz de uma<br />
pessoa, outra, com a única diferença do que as transformações na performance são<br />
geralmente temporárias (Schechner, 1985). Viu-se portanto como o ritual e a<br />
performance artística são dois mundos relacionados e parecidos. A linha de separação<br />
entre os dois é fluida, e as fronteiras não são rígidas. Como podem então ser<br />
reconhecidos devidamente? O que marca a diferença entre o rito e o espetáculo teatral<br />
ou de dança? Schechner diz que cada ritual pode ser tirado do seu contexto original e<br />
pode ser performado como teatro. Isso é possível porque o contexto e a função, assim<br />
como a estrutura ou processo fundamentais, distinguem o ritual do entretenimento da<br />
vida cotidiana; além disso, esta diferença surge do acordo entre os performers e a<br />
audience (Schechner, 1988, p. 152). No caso da dança de Orixás, é preciso saber<br />
distinguir entre esta dança no contexto sagrado do Candomblé e no contexto profano<br />
da dança Afro. O terceiro capítulo apresenterá a dança de Orixás nesses dois mundos,