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Baixar - Proppi - UFF

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A dança de Orixás é uma das modalidades dentro da dança Afro. Como foi<br />

explicado no capítulo anterior, os gestuais da dança dos Orixás são aplicados às outras<br />

modalidades dentro da dança Afro; entretanto, durante a execução da própria dança<br />

sagrada dos deuses no contexto profano da dança, o dançarino reproduz a figura dos<br />

Orixás, com seus movimentos, gestos, mitos e adereços, transmitindo e recriando as<br />

histórias que fazem parte do patrimônio religiosos e cultural afro-brasileiro. Antes de<br />

analisar detalhadamente o corpo do performer durante a dança de Orixás, é importante<br />

introduzir o contexto destas divindades afro-brasileiras, protagonistas da religião do<br />

Candomblé. O Candomblé é uma religião que veio se constituir no Brasil após o<br />

tráfico dos escravos que trouxe milhares de homens e mulheres de vários grupos<br />

étnicos e regiões da Africa. Estes vários povos trouxeram suas culturas e seus hábitos<br />

junto, incluindo suas crenças religiosas, que acabaram influênciando fortemente a recriação<br />

das religiões afro no Novo Mundo. Os maiores grupos que chegaram ao Brasil<br />

foram os Bantus, da região de Congo e Angola, os Yorubás, da moderna Nigéria e<br />

República do Benin, e os Jejes, do antigo reino de Daomé. Como a religião se tornou<br />

semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes,<br />

evoluíram diversas "divisões" ou nações, que se distinguem entre si principalmente<br />

pelo conjunto de divindades veneradas, os atabaques e a língua sagrada usada nos<br />

rituais. Entretanto, como escreve Zeca Ligiéro no seu livro Iniciação ao Candomblé,<br />

os três grupos mencionados, iorubás, angolas e jejes, “se destacaram pels heranças<br />

deixadas, visíveis até hoje, balanceadas por uma filosofia realmente animista e por<br />

uma crença religiosa que tem como preceito a harmonização com as forças vivas da<br />

natureza, onde se pode sentir e conviver com a força divina dos Orixás, dos inquices e<br />

dos voduns” (Ligiéro, 2006, p. 20). Entre os grupos étnicos, os Yorubás, denominados<br />

de Nagô aqui no Brasil, foram uma das maiores influências na arte, religião e cultura<br />

afro-brasileira, pois eles imigraram em grandes números e “suplantaram<br />

numericamente os Jeje”, após a destruição dos reinos Yorubá de Ketu no Benin e de<br />

Oió na Nigéria (Pessoa de Barros, 2000, p. 23). A maioria dos Candomblés das<br />

regiões onde houve esta grande imigração Nagô, especialmente no Nordeste (Bahia,<br />

Pernambuco e Maranhão) e no Rio de Janeiro, são de origem Yorubá e, especialmente,<br />

são da nação de Ketu. Os terreiros da Baixada Fluminense onde fiz minhas<br />

observações são portanto centros de Candomblé nagô da nação de Ketu.<br />

A religião do Candomblé sustenta-se em uma força vital, energia chamada Axé,<br />

presente nas forças da natureza e nos seres humanos, considerada a própria presença<br />

divina, contida e representada pelo Deus supremo Olorum e pelos Orixás, deuses que<br />

têm poder sobre os vários tipos de seres e coisas do mundo, e que são associados a<br />

cada elemento da natureza. Existe portanto uma ligação muito forte entre o divino, o<br />

humano e o natural e as folhas e os ambientes naturais são considerados fundamentais<br />

para o Candomblé (Ligiéro, 2000). Como foi mencionado no capítulo anterior, cada<br />

Orixá está ligado a uma força da natureza, que influencia sua personalidade e, como<br />

consequência, seu modo de agir e de se movimentar. Os gestos, os movimentos e as<br />

danças de cada Orixá estão portanto estritamente conectados com os elementos da<br />

natureza. Antes de explorar os arquétipos e os gestuais de cada Orixá, é necessário<br />

clarificar qual é a presença e a importância da dança dentro do Candomblé. Para fazer<br />

isso, é preciso fazer uma breve descrição do que envolve um dos rituais públicos desta<br />

religião: a “festa pública”.

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