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Baixar - Proppi - UFF

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asileiras na dança Afro não é o contexto, mas a linguagem do corpo através da fala do<br />

movimento.<br />

Vários exemplos desta linguagem dos gestos contando mitos afro-brasileiros vêm<br />

dos gestuais da dança de orixás na dança Afro, como já tivemos oportunidade de ver no<br />

capítulo 3, falando sobre as características dos Orixás. Os movimentos das mãos de Iansã<br />

relembram o mito que conta da deusa do vento e da tempestade afastando os eguns<br />

(espiritos dos mortos) ao entrar no cemetério para enterrar o marido Xangô. A postura<br />

corporal deste último na dança, com cabeça erguida e peito aberto, reafirma o mito dele<br />

ser o rei forte e poderoso, que nunca olha para baixo e sempre mostra imponência. A<br />

dança de Obá, durante a qual ela segura uma mão na orelha toda hora, incorpora o mito<br />

segundo o qual Oxum mandou Obá cortar a orelha e colocá-la na comida de seu marido<br />

Xangô, para poder conquistar seu amor de volta. Mas esta foi uma cilada armada pela<br />

própria deusa dos rios e das águas doces, também apaixonada por Xangô, para que o rei<br />

repudiasse Obá. Cada gesto de cada Orixá executado na dança reafirma um mito,<br />

ajudando a retornar à ancestralidade e resgatando os fatos que ficaram na memória e que<br />

falam da história e da cultura de um povo (Barros da Paixão, 2002, p. 99). Cabe aqui<br />

trazer o texto de Leda Martins “Performances do Tempo e da Memória: os Congados”,<br />

onde ela afirma que a memória do conhecimento “se recria e transmite pelos repertórios<br />

orais e corporais, gestos, hábitos, cujas técnicas e procedimentos de transmissão são<br />

meios de criação, passagem, reprodução e de preservação dos saberes” (Martins, 2003, p.<br />

69). Ela continua escrevendo sobre o papel do corpo:<br />

“O corpo na performance ritual é local de inscrição de um conhecimento que se<br />

grafa no gesto, no movimento, na coreografia, na superficie da pele, assim como<br />

nos ritmos e timbres da vocalidade… Nas performances da oralidade, o gesto<br />

institui e instaura a própria performance” (p. 70)<br />

O corpo portanto, com todos seus elementos, a pele, o movimento, o gesto, os ritmos, a<br />

voz, é o lugar de memória do conhecimento, que se institui atraves da performance,<br />

graças à repetição de gestos, coreografias, músicas e cantos, técnicas que são todas<br />

veiculadas pelo corpo. Martins escreve sobre os Congados, um tipo de performance afrobrasileira;<br />

assim como a dança Afro, estas performances carregam, transmitem e recriam<br />

no corpo uma memória ancestral de origem africana, com suas histórias, seus valores e

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