leandro-narloch-guia-politicamente-incorreto-da-histc3b3ria-do-brasil
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saíram os sambistas <strong>da</strong> geração de Donga e Pixinguinha, como sen<strong>do</strong>reduto de bambas. Ele, num primeiro momento, desloca o samba <strong>do</strong> fun<strong>do</strong><strong>da</strong>s casas <strong>da</strong>s tias baianas para o morro e o subúrbio [...].”O marketing <strong>da</strong> pobreza deu certo. No meio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1930, onovo estilo já carregava a imagem de expressão cultural <strong>do</strong>s morros e <strong>do</strong>snegros. Tinha se torna<strong>do</strong> folclore, um valor cultural que deveria serpreserva<strong>do</strong> e protegi<strong>do</strong> de influências externas. Em 25 de fevereiro de 1936,o jornalista Carlos Lacer<strong>da</strong> escreveu no Diário Carioca:O samba nasce <strong>do</strong> povo e deve ficar com ele. O samba elegante <strong>da</strong>sfestanças oficiais é deforma<strong>do</strong>: sofre as deformações na passagem de música<strong>do</strong>s pobres para divertimento <strong>do</strong>s ricos. O samba tem de ser admira<strong>do</strong> ondeele nasce, e não depois de rouba<strong>do</strong> aos seus cria<strong>do</strong>res e transforma<strong>do</strong> emsala<strong>da</strong> musical para <strong>da</strong>r lucros aos industriais <strong>da</strong> música popular. O samba émúsica de classe. O lirismo <strong>da</strong> raça negra vive nele.Já nessa época, Carlos Lacer<strong>da</strong> falava <strong>da</strong> música <strong>do</strong>s pobres como seela fosse o samba original, que luta para não ser deforma<strong>do</strong> pelocapitalismo. Na ver<strong>da</strong>de, aconteceu o oposto. O samba nasceu com músicosque queriam ganhar a vi<strong>da</strong> e agra<strong>da</strong>r o público, e não fazer autoetnografia.”O interessante é que o ’autêntico’ nasce <strong>do</strong> ’impuro’, e não o contrário, masem momento posterior o ’autêntico’ passa a posar de primeiro e original, oupelo menos de mais próximo <strong>da</strong>s ’raízes’”, afirma o antropólogo HermanoVianna no livro O Mistério <strong>do</strong> Samba. Ele acrescenta:Não se pode dizer que as escolas de samba fossem fenômenospuros, mas se criou em torno delas um aparato que defende essa pureza,condenan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> modificação introduzi<strong>da</strong> no samba.