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leandro-narloch-guia-politicamente-incorreto-da-histc3b3ria-do-brasil

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Talvez Zé Alfaiate tenha entra<strong>do</strong> para o tráfico por um desejo devingança, na tentativa de repetir com outras pessoas o que ele própriosofreu. O mais provável, porém, é que visse no comércio de gente umachance comum e aceitável de ganhar dinheiro, como costurar ou exportarazeite. Havia muito tempo que o costume de atacar povos inimigos evendê-los era comum na África. Com o tráfico pelo oceano Atlântico, aspilhagens a povos <strong>do</strong> interior, feitas para capturar escravos, aumentarammuito - assim como o lucro de reis, nobres ci<strong>da</strong>dãos comuns africanos queoperavam a ven<strong>da</strong>. Essa personali<strong>da</strong>de dupla <strong>da</strong> África diante <strong>do</strong> tráfico deescravos às vezes aparece num mesmo indivíduo, como é o caso de ZéAlfaiate. Ex-escravo e traficante, foi ao mesmo tempo vítima e carrasco <strong>da</strong>escravidão.Não era preciso sair <strong>do</strong> Brasil para agir como ele. Por aqui, osescravos tiveram que se a<strong>da</strong>ptar a um novo mo<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong>, mas nãoaban<strong>do</strong>naram costumes <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Atlântico. Nas vilas <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> <strong>do</strong>ouro de Minas Gerais, nas fazen<strong>da</strong>s de tabaco <strong>da</strong> Bahia, era comumafricanos ou descendentes escravizarem. Como um pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> África,cristão e falante de português, o Brasil também abrigou reis africanos quevinham se exilar no país quan<strong>do</strong> a situação <strong>do</strong> seu reino complicava,embaixa<strong>do</strong>res negros interessa<strong>do</strong>s em negociar o preço de escravos, e atémesmo filhos de nobres africanos que vinham estu<strong>da</strong>r na Bahia, numaespécie de intercâmbio estu<strong>da</strong>ntil. Esses fenômenos certificam uma boametáfora que Joaquim Nabuco usa no livro O Abolicionismo, clássico <strong>do</strong>movimento <strong>brasil</strong>eiro pelo fim <strong>da</strong> escravidão. Nabuco dizia que o tráficonegreiro provocou uma união <strong>da</strong>s fronteiras <strong>brasil</strong>eiras e africanas, como sea África tivesse aumenta<strong>do</strong> seu território alguns milhares de quilômetros.”Lançou-se, por assim dizer, uma ponte entre a África e o Brasil, pela qual

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