100 História<strong>Psic</strong>ologia Escolar, exercendo, de fato e pela primeiravez, a função de psicóloga <strong>escolar</strong>. Pas<strong>se</strong>i a trabalharcom uma equipe de jovens psicólogas AdrianaMarcondes Machado, Cintia Copit Freller, Silvia HelenaVieira Cruz, Beatriz de Paula S<strong>ou</strong>za e Ana MariaCurto Rodrigues. Coordenadas pela Profa. Maria HelenaS<strong>ou</strong>za Patto nosso projeto de trabalho era o de pensaruma <strong>ou</strong>tra forma de atuação em psicologia <strong>escolar</strong>que levas<strong>se</strong> em conta as críticas feitas naquele momentoao modelo adaptacionista de atuação psicológica naárea <strong>educ</strong>acional bem como as críticas à teoria da carênciacultural enquanto explicação para os baixos índicesde rendimento <strong>escolar</strong>.Tanamachi: Como <strong>se</strong> deu <strong>sua</strong> formação profissionalna área?S<strong>ou</strong>za: Creio que a formação profissional nunca termina,a cada dia estamos nos formando, questionandonosso olhar, nossas crenças. Mas do ponto de vista datrajetória na área, considero que minha formação <strong>se</strong> deuprincipalmente no trabalho realizado nas escolas (comodocente e como psicóloga <strong>escolar</strong>), no grupo de trabalhodo Serviço de <strong>Psic</strong>ologia Escolar e no curso de Pós-Graduação em <strong>Psic</strong>ologia Escolar. Estar na Universidadefoi fundamental pois pudemos ler os trabalhos de MariaHelena S<strong>ou</strong>za Patto, as produções acadêmicas na área,conhecer mais profundamente os autores da <strong>Psic</strong>ologiaInstitucional, participar dos primeiro debates sobre oConstrutivismo, acompanhar as políticas <strong>educ</strong>acionais,fazer pesquisa, ler pesquisas.... Participar des<strong>se</strong> grupode trabalho, das reuniões <strong>se</strong>manais de discussão da equipe,repensar o estágio supervisionado oferecido aos alunosde graduação, ler, estudar, compartilhar aefervescência da Universidade em tempos deredemocratização política e, principalmente, conheceras escolas públicas da região próxima à USP foram fundamentaispara minha formação nesta área de atuação.Realizei minha formação em nível de Pós-graduação noIPUSP sob a orientação da Profa. Maria Helena Patto,nos níveis de Mestrado e D<strong>ou</strong>torado, aprofundando minhaformação área da pesquisa <strong>educ</strong>acional.Tanamachi: Fale sobre as experiências maissignificativas nes<strong>se</strong>s anos de trabalho na área de<strong>Psic</strong>ologia Escolar.S<strong>ou</strong>za: São muitas as experiências significativas, masprincipalmente destaco o trabalho em grupo no Serviçode <strong>Psic</strong>ologia Escolar e as discussões visandoimplementar uma proposta de atuação psicológicacentrada na crítica ao modelo adaptacionista de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar e compreendendo a queixa <strong>escolar</strong> noâmbito das relações institucionais que a produzem. Foiem 1987 que escrevemos nosso primeiro texto,explicitando um p<strong>ou</strong>co mais nossa crítica sobre as explicaçõesrelativas ao baixo rendimento das crianças nasséries iniciais, indicando alguns caminhos para a atuaçãoprofissional em psicologia, intitulado “A questão do rendimento<strong>escolar</strong>: subsídios para uma nova reflexão”,publicado na Revista da Faculdade de Educação em1989. E des<strong>se</strong> momento em diante, consideramos fundamentalcentrar nossas ações em três frentes: discutirnossa prática profissional à luz de referenciais crítico<strong>se</strong>m psicologia e em <strong>educ</strong>ação, ampliar nossa formaçãoacadêmica em nível de pós-graduação e divulgar nossasreflexões sobre a área para <strong>educ</strong>adores e psicólogos.Durante os últimos quinze anos temos também trabalhadojunto à formação continuada de professores darede estadual paulista e em cursos de formação de psicólogo<strong>se</strong> profissionais da área da saúde que recebemencaminhamentos com queixa <strong>escolar</strong>. O convívio coma rede <strong>escolar</strong> nos lev<strong>ou</strong> a discutir profundamente a situaçãode <strong>escolar</strong>ização de crianças e adolescentes quefreqüentam as clas<strong>se</strong>s especiais para deficientes mentaisleves na rede estadual paulista, fazendo com quenos aproximás<strong>se</strong>mos do Con<strong>se</strong>lho Regional de <strong>Psic</strong>ologiade São Paulo e iniciás<strong>se</strong>mos um grupo de trabalho ediscussão questionando a avaliação psicológica e propondoalternativas para a avaliação da queixa <strong>escolar</strong>.Tanamachi: Que questionamentos marcaram apartir da década de 1980 a produção de <strong>se</strong>u trabalhoe do <strong>se</strong>u conhecimento sobre área?S<strong>ou</strong>za: Creio que os meus questionamentos <strong>se</strong> mesclamcom os questionamentos da área de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar do IPUSP. A Maria Helena inaugur<strong>ou</strong> uma concepçãoteórico-metodológica para a área de <strong>Psic</strong>ologiaEscolar: uma forma de conceber a área de conhecimentoem <strong>Psic</strong>ologia Escolar na perspectiva históricocrítica,bem como indicando elementos para a atuaçãoprofissional em uma perspectiva crítica. Es<strong>se</strong> trabalhotem início com “<strong>Psic</strong>ologia e Ideologia” e aprofunda-<strong>se</strong>com a Te<strong>se</strong> de Livre-Docência de 1987 intitulada “Aprodução do fracasso <strong>escolar</strong>: histórias de submissão ede rebeldia”. Essa obra pass<strong>ou</strong> a <strong>se</strong>r a nossa referênciade trabalho e a questão do fracasso <strong>escolar</strong> assumiulugar de destaque na área <strong>educ</strong>acional. São inúmeros
História 101os convites que recebemos nessa ocasião para discutiresta questão em vários eventos no Brasil, de sindicatosa universidades, de pequenos grupos a grandes platéiasde <strong>educ</strong>adores e psicólogos. O fracasso <strong>escolar</strong> entr<strong>ou</strong>de fato na pauta das discussões acadêmicas, sindicais epolíticas. A partir des<strong>se</strong> momento, o número de pesquisasno IPUSP na linha de pesquisa <strong>Psic</strong>ologia Escolar/Educacional pass<strong>ou</strong> a receber um número maior de pesquisadoresinteressados em estudar e conhecer maisprofundamente o cotidiano <strong>escolar</strong>. Com o meud<strong>ou</strong>toramento em 1996, pude também ingressar na Pós-Graduação e nos últimos anos tenho orientado váriostrabalhos que discutem o cotidiano <strong>escolar</strong> em uma perspectivacrítica de <strong>Psic</strong>ologia Escolar. Ou <strong>se</strong>ja, podemosdizer hoje que temos uma área de pesquisa em expansão,um conjunto de conhecimentos que vem <strong>se</strong> consolidandopor meio do estudo e da pesquisa. Os alunos de<strong>Psic</strong>ologia podem hoje contar com uma certa literaturana área que não existia há vinte anos atrás.Tanamachi: Qual é hoje, a <strong>se</strong>u ver, concretamentea situação da <strong>Psic</strong>ologia Escolar? Quais<strong>se</strong>riam as questões teórico-práticas pre<strong>se</strong>ntes narelação entre <strong>Psic</strong>ologia e Educação no momentoatual?S<strong>ou</strong>za: Creio que a década de 1990 é marcada pelabusca da identidade do psicólogo que atua na área <strong>educ</strong>acional/<strong>escolar</strong>.Há vários trabalhos de pesquisa discutindoessa questão. Creio que hoje começamos a delinearmais claramente não apenas o que não somos,mas sim o que somos e o que queremos. Creio que temosmais claramente delimitadas as finalidades do nossotrabalho em <strong>educ</strong>ação. Lutamos para produzir umconjunto de relações sociais e institucionais que constituamuma escola de qualidade social para todos. Construímosalguns elementos que constituem uma práticaprofissional comprometida com uma escola democráticae dentro de princípios éticos. Temos claro que o compromissosocial implica em um compromisso político pelaemancipação humana. Nossa atuação deve <strong>se</strong> pautarna reflexão, no questionamento das práticas <strong>educ</strong>ativa<strong>se</strong> psicológicas que impeçam o de<strong>se</strong>nvolvimento humano.Quando a crítica feita em <strong>Psic</strong>ologia e Ideologia foiapre<strong>se</strong>ntada, muitos psicólogos diziam que isto não erapsicologia. Hoje temos claro que a crítica é um elementofundamental do trabalho do psicólogo. Não há psicologia<strong>se</strong>m a conquista da crítica.Tanamachi: Diante do exposto, qual <strong>se</strong>ria adefinição possível para a <strong>Psic</strong>ologia Escolar hoje?Quem é o psicólogo <strong>escolar</strong> hoje?S<strong>ou</strong>za: A <strong>Psic</strong>ologia Escolar constitui-<strong>se</strong> ainda hojeem uma área que compreende diversas abordagensteóricas. Isto é, ela é uma área da <strong>Psic</strong>ologia e comotal vive internamente os mesmos dilemas da <strong>Psic</strong>ologiaenquanto área de conhecimento: a fragmentaçãoem diversas perspectives teóricas. Em nosso trabalhoenquanto psicólogos <strong>escolar</strong>es, optamos por uma abordagemque compreende o fenômeno psicológico enquantoconstituído pelos determinantes sociais e históricosde uma sociedade datada e constituída a partirde relações de exploração. O fenômeno psicológicoé, portanto, um fenômeno datado, instituído e instituintedas relações sociais em uma sociedade de clas<strong>se</strong>s.Consideramos a <strong>escolar</strong>ização como um processo vigentena sociedade atual e que precisa <strong>se</strong>r entendidona complexidade das relações sociais dessa mesmasociedade. As contradições existentes na sociedadetambém comparecem na escola e também comparecemna formação e atuação do profissional de psicologia.Caberia a nós explicitá-las para nós mesmos eprocurar superá-las juntamente com <strong>educ</strong>adores, pai<strong>se</strong> alunos. Finalizando, considero que temos muito a oferecerà escola e à <strong>educ</strong>ação ao constituirmos um espaçode mediação que não é pedagógico, mas que incluio pedagógico e que considera que é possível quehaja a apropriação das finalidades da <strong>educ</strong>ação poraqueles que têm a <strong>educ</strong>ação enquanto finalidade humanae social. Caberia ao psicólogo atuar nessa mediaçãoentre o indivíduo e a <strong>educ</strong>ação, possibilitando aconstrução de uma escola mais digna e de qualidadesocial. E quanto mais pudermos ampliar pesquisas naárea de <strong>Psic</strong>ologia Escolar/Educacional e reflexões críticassobre nossa prática profissional, mais poderemostrabalhar na direção de uma formação profissional críticae de uma atuação na área <strong>educ</strong>acional que contribuampara a construção de políticas públicas coerentescom as necessidades sociais.
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