72 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sistoatentas às normas sociais, procurarão responder bem àssolicitações e, assim, espera-<strong>se</strong> que atinjam bom nível deaprendizagem, mas também podem não querer <strong>se</strong> contraporaos colegas. Diferentemente dos casos anteriores,as crianças com alta pontuação em N (neuroticismo) que,em razão da forte propensão a reações emocionais quedificulta uma adaptação adequada, devem apre<strong>se</strong>ntar baixonível de aprendizagem.Com ba<strong>se</strong> nessas possíveis relações, estabeleceu-<strong>se</strong>a hipóte<strong>se</strong> de que a aprendizagem por conflito sóciocognitivo,<strong>se</strong> explicada por traços de personalidade, deveriaapre<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> na <strong>se</strong>guinte <strong>se</strong>qüência: a maior pontuaçãoem E explicaria a maior parte da aprendizagem,<strong>se</strong>guida pela maior pontuação em A, P e, por fim, N.MÉTODOSujeitosA população da pesquisa const<strong>ou</strong> de 120 criançasde 5 a 7 anos, que freqüentavam três escolas municipai<strong>se</strong> atendiam crianças de famílias de operários <strong>ou</strong>lavradores. Todas as crianças foram pré-testadas e dasque apre<strong>se</strong>ntaram nível não-con<strong>se</strong>rvador na prova decomprimento, 43 foram <strong>se</strong>lecionadas por sorteio aleatóriopara o experimento, das quais 36 permaneceram atéo final.Des<strong>se</strong>s 36 sujeitos, 17 (47%) eram do <strong>se</strong>xo masculinoe 19 (52%) do <strong>se</strong>xo feminino, metade estava cursando oinfantil e a <strong>ou</strong>tra metade o pré-<strong>escolar</strong>. As idades variavamentre 5 anos e 6 me<strong>se</strong>s e 7 anos e 2 me<strong>se</strong>s e foramagrupadas em dois intervalos, quais <strong>se</strong>jam, as mais novas(dos 66 aos 74 me<strong>se</strong>s) e as mais velhas (dos 76 aos 86me<strong>se</strong>s), perfazendo um total de 19 (53%) sujeitos no primeirointervalo de idade e 17 (47%) no <strong>se</strong>gundo.ProcedimentosA pre<strong>se</strong>nte pesquisa consistiu de um pré-teste, três<strong>se</strong>ssões de intervenção e dois pós-testes. O pré-teste foicomposto pela Escala Infantil de Personalidade (Sisto,1998) e pela prova de con<strong>se</strong>rvação de comprimento. Nosdois pós-testes utiliz<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> apenas a prova de con<strong>se</strong>rvaçãode comprimento, <strong>se</strong>ndo que o pós-teste 2 foi aplicado25 dias após o término da intervenção. A ordem de aplicaçãodes<strong>se</strong>s instrumentos foi definida por sorteio.a- Instrumentos, material e critérios de classificaçãoA prova de con<strong>se</strong>rvação de comprimento consistede nove hastes de madeira de 4cm x 0,8cm e quatrohastes de 7cm x 0,8cm. Com as hastes maiores oexperimentador fazia uma “estrada” e pedia ao sujeitoque fizes<strong>se</strong> uma “estrada” do mesmo tamanho, do mesmocomprimento com as hastes menores, sobrando,nes<strong>se</strong> caso, duas hastes menores.O experimento começa quando o sujeito reconhecea igualdade do comprimento das duas “estradas”. Aolongo da prova, o experimentador fazia cinco modificaçõesna disposição das hastes a fim de alterar a configuraçãoda “estrada” que o sujeito construiu, deixandoa <strong>ou</strong>tra como modelo. A cada transformação, perguntava-<strong>se</strong>ao sujeito <strong>se</strong> o comprimento das “estradas” estavaigual <strong>ou</strong> diferente e por quê.Os critérios para classificação dos protocolos foram:ausência de con<strong>se</strong>rvação, quando a criança nega a igualdadedas estradas em razão das extremidades, das sinuosidades,<strong>ou</strong> da ponta final; reações intermediárias,quando a criança oscila entre a con<strong>se</strong>rvação e a nãocon<strong>se</strong>rvação,e aquelas que, após algumas tentativas,chegam à con<strong>se</strong>rvação; con<strong>se</strong>rvação operatória, quandoa criança afirma a con<strong>se</strong>rvação do comprimento, comargumentos operatórios por identidade, inversão <strong>ou</strong> compensação.Escala de Traços de Personalidade para Crianças(Sisto, 1998) consta de 35 questões, para as quais a criançadeve responder sim <strong>ou</strong> não. Contém quatro escalas,<strong>se</strong>ndo que a de extroversão engloba característicasde <strong>se</strong>r sociável, as<strong>se</strong>rtivo, ativo e animado; a deneuroticismo, de <strong>se</strong>r ansioso, tenso, melancólico e combaixa auto-estima; a de psicoticismo de <strong>se</strong>r egocêntrico,impulsivo, frio e anti-social; e a de adequação englobauma tendência à sinceridade e à não dissimulação. Aaplicação foi coletiva, as crianças tinham o instrumentoque foi lido item por item pelo aplicador, dando um intervaloentre os itens para a criança responder no próprioinstrumento. <strong>Para</strong> as escalas de neuroticismo,extroversão e adequação as pontuações variam de 0 a10 pontos. <strong>Para</strong> psicoticismo, de 0 a 8 pontos.b- A intervençãoAs <strong>se</strong>ssões de intervenção iniciaram-<strong>se</strong> de dois atrês dias após o término do pré-teste. A intervenção porconflito, por meio da noção de con<strong>se</strong>rvação de comprimento,inici<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> após as crianças assistirem a um filmede vídeo, o qual mostrava quatro crianças em situaçãoindividual de aplicação da prova de comprimento, duasnão-con<strong>se</strong>rvadoras e duas, con<strong>se</strong>rvadoras, apre<strong>se</strong>ntandoargumentos diferentes. O filme deu oportunidade àscrianças de ob<strong>se</strong>rvarem diferentes de<strong>se</strong>mpenhos e con-
Aprendizagem por interação e traços de personalidade 73trolar possíveis influências entre as crianças, nos contato<strong>se</strong>ntre <strong>se</strong>ssões.Após a exibição do filme, as crianças, em dupla, passarampor <strong>se</strong>te situações de conflito por <strong>se</strong>ssão. Cada<strong>se</strong>ssão dur<strong>ou</strong> em média 30 minutos e a duração do filmefoi de 10 minutos. A intervenção const<strong>ou</strong> de três <strong>se</strong>ssões;na terceira não h<strong>ou</strong>ve exibição da fita de vídeo.Durante a situação de aprendizagem foi pedido queentras<strong>se</strong>m em acordo quando apre<strong>se</strong>ntavam respostasdivergentes e não con<strong>se</strong>rvadoras. Além dessa solicitação,buscando um acordo entre elas, o experimentadorinterveio fazendo questionamentos que pudes<strong>se</strong>m leválasao de<strong>se</strong>quilíbrio cognitivo. Os questionamentos apre<strong>se</strong>ntadosnas <strong>se</strong>te situações <strong>se</strong> distribuíram em dois argumentospor inversão (por exemplo, Se eu“de<strong>se</strong>ntortas<strong>se</strong>” esta estrada deixando do jeito queestava antes, elas ficariam do mesmo jeito?), trêspor identidade (por exemplo, Por que esta estrada fic<strong>ou</strong>mais comprida, <strong>se</strong> as duas tinham o mesmo comprimentono início?), uma antecipação (pergunta-<strong>se</strong>às crianças como as estradas ficariam <strong>se</strong> fos<strong>se</strong>m arrumadascomo estava no começo), e o retorno empírico.RESULTADOSGênero e faixas etárias em relação à aprendizageme traços de personalidadeNo pós-teste 1, dos 36 sujeitos, 23 (64%), mantiveram-<strong>se</strong>como não-con<strong>se</strong>rvadores, 9 (25%) como intermediário<strong>se</strong> 4 (11%) atingiram o nível de con<strong>se</strong>rvador.Por <strong>sua</strong> vez, no pós-teste 2, 26 (72%) dos sujeitos foramclassificados como não-con<strong>se</strong>rvadores, 6 (17%)como intermediários e 4 (11%) como con<strong>se</strong>rvadores.Em 21 sujeitos não <strong>se</strong> pôde ob<strong>se</strong>rvar a <strong>se</strong>nsibilidadedo sistema cognitivo para mudança, pois <strong>se</strong> mantiveramcomo não con<strong>se</strong>rvadores nas três avaliações. Os 15sujeitos restantes apre<strong>se</strong>ntaram pontos diferentes deníveis evolutivos e formas distintas de reação do sistemacognitivo: 5 sujeitos indicaram mudança evolutivacom estabilidade; 3 sujeitos sugeriram ganho, mas nãoestabilidade; os 7 sujeitos restantes indicaram que o sistemacognitivo foi <strong>se</strong>nsível à perturbação apre<strong>se</strong>ntandoflutuação do sistema.No pós-teste 1, a aprendizagem ob<strong>se</strong>rvada não <strong>se</strong>diferenci<strong>ou</strong> nem em relação ao gênero (t=1,45; p=0,157),nem em relação às duas faixas etárias (t=0,94; p=0,352).Com relação ao pós-teste 2, o gênero também não produziudiferenças significativas (t=0,67; p=0,508), mas aidade, sim (t=2,25; p=0,031), <strong>se</strong>ndo que os mais velhosobtiveram maiores rendimentos que os mais novos.A fim de verificar <strong>se</strong> os traços de personalidade apre<strong>se</strong>ntavamintensidades diferentes em relação às variáveisgênero e idade analis<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> as médias correspondentes.Em ambos os pós-testes, apenas um resultadono pós-teste 1 mostr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> significativo estatisticamente,qual <strong>se</strong>ja, psicoticismo (t=2,65; p=0,012), com umatendência dos sujeitos mais novos a terem pontuaçõesmais altas.Aprendizagem e traço de personalidadeCom o objetivo de averiguar <strong>se</strong> os traços de personalidadecon<strong>se</strong>guiriam explicar a aprendizagem ob<strong>se</strong>rvada,tanto no pós-teste 1 quanto no pós-teste 2, us<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> a análi<strong>se</strong>de regressão. Os resultados estão na tabela 1.A análi<strong>se</strong> por regressão múltipla indic<strong>ou</strong> que os traçosde personalidade psicoticismo e adequação foramsignificativos para explicar o de<strong>se</strong>mpenho dos sujeitosquanto à aprendizagem no pós-teste imediato. Por es<strong>se</strong>sdados, psicoticismo explica mais o resultado da aprendizagem,avaliada no pós-teste 1, do que adequação.Tabela 1: Resultados da análi<strong>se</strong> de regressão entre traços de personalidadee pós-teste 1.<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76
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