12iniciando pela teoria do Ensino por Transmissão, perspectivafortemente marcada pelas teorias behavioristasda aprendizagem. Após referirmos a influência de autorescomo Gagné (1975) <strong>ou</strong> Bandura (1977), que mantiveramlatente a influencia comportamentalista, referirmosa Aprendizagem por Descoberta e a Aprendizagempor Mudança Conceptual. Por último, mencionamoso Ensino por Pesquisa, processo fortemente marcadopelo cognitivismo-construtivismo que realça o papeldo aluno como construtor do conhecimento, movidopela curiosidade, descoberta e resolução de problemas.Esta perspectiva de ensino é referida como a mais actualao nível da didática das ciências e, implicitamente,aquela que deverá <strong>se</strong>r mais valorizada na formação dosprofessores.Com este artigo pretendemos listar este conjunto deperspectivas de análi<strong>se</strong> e definição de processos de ensino-aprendizagem,sobretudo quando este processo ocorrenos contextos formais <strong>escolar</strong>es. Sem pretendermos<strong>se</strong>r exaustivos e profundos no conjunto de tais perspectivas,procuramos, no entanto, salientar algumas implicaçõespráticas e assumir as vantagens de uma abordagemque reconhece o aluno como tendo um papel ativo e centralnas aprendizagens, entendidas como co-construçõesprogressivas de conhecimento e destrezas.As teorias de aprendizagem e o ensino-aprendizagemdas ciênciasA Aprendizagem por Transmissão (APT) pode <strong>associar</strong>-<strong>se</strong>às perspectivas behavioristas <strong>ou</strong>comportamentais da aprendizagem. O ensino por transmissãotem o <strong>se</strong>u fulcro nas exposições orais do professor,que transmite as ideias (estímulos) aos alunos, istoé, “...o professor ‘dá a lição’, imprime-a em arquivadoresdo conhecimentos e pede, em troca, que os alunos u<strong>se</strong>ma <strong>sua</strong> atividade mental para acumular, armazenar e reproduzirinformações” (Santos & Praia, 1992 p.13).Nessa lógica instrucional de organizar o ensino, o alunotem um papel cognitivo passivo, <strong>se</strong>ndo encarado com<strong>ou</strong>m mero receptáculo de informações que, mais tarde,<strong>se</strong>rão úteis para a vida. <strong>Para</strong> além do professor usartécnicas que salientem novas informações e informaçõesmais corretas, deverá recorrer também ao reforço,preferencialmente a reforços diretos e imediatos,tendo em vista produzir mudanças comportamentais dosalunos e a <strong>sua</strong> estabilidade. O papel tutelar do professor,que exerce autoridade face aos <strong>se</strong>us conhecimentoscientíficos, sobrepõe-<strong>se</strong> ao papel do aluno. Este, aoinvés de aprender, e menos ainda aprender a aprender,Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeidaapenas acumula saberes que deverá <strong>se</strong>r capaz de repetirfielmente. Assim <strong>se</strong>ndo, Cachapuz, Praia e Jorge(2000) ob<strong>se</strong>rvam “qua<strong>se</strong> tudo <strong>se</strong> reduz ao professor injectarnos alunos as ‘matérias’ que centralmente sãodefinidas e obrigatórias dar ao longo do ano, importandosobretudo os resultados finais obtidos pelos alunos nostestes sumativos - afinal quem mais ordena – enquantoprodutos acabados e que são os elementos principaispara a atribuição de uma classificação. Cumprir o programae preparar para os exames é compreendido comoaprender o programa” ( p.7).Enfatiza-<strong>se</strong>, aqui, o papel do professor, relegando-<strong>se</strong>para <strong>se</strong>gundo plano a intervenção do aluno no <strong>se</strong>u próprioprocesso de aprendizagem. Se um aluno sabe falare escrever numa dada área, subentende-<strong>se</strong>, então, quecompreendeu a matéria dessa área de conhecimento.A valorização do aluno como transformador dessa informaçãonão aparece suficientemente repre<strong>se</strong>ntadanesta abordagemDo exposto, depreende-<strong>se</strong> que alguns princípios epráticas <strong>educ</strong>ativas para a escola foram elaborados deacordo com os pressupostos behavioristas. Falamos,então, das teorias behavioristas da aprendizagem <strong>escolar</strong>,tendo como objetivo principal alcançar comportamentosapropriados por parte dos alunos, basicamenteentendidos como apropriação e modificação de respostas.Assim, <strong>se</strong> a resposta emitida for de<strong>se</strong>jada haveráreforço, cuja natureza dependerá, necessariamente, donível etário e do esforço dos alunos, por exemplo. Acredita-<strong>se</strong>que a ineficácia do ensino tradicional foi o fatodos professores não usarem contingências de reforçoque aceleras<strong>se</strong>m a aprendizagem (Skinner apud Bigge,1997).Algumas dificuldades são apontadas a esta teoria.Numa concepção behaviorista de aprendizagem, o alunoé passivo, acrítico e mero reprodutor de informaçãoe tarefas. O aluno não de<strong>se</strong>nvolve a <strong>sua</strong> criatividade e,embora <strong>se</strong> possam respeitar os ritmos individuais, não<strong>se</strong> dá suficiente relevo à <strong>sua</strong> curiosidade e motivaçãointrín<strong>se</strong>cas. O aluno pode, inclusive, correr o risco de <strong>se</strong>tornar apático, porque excessivamente dependente doprofessor. Por <strong>ou</strong>tro lado, não há preocupação em ensinara pensar. O ensino realça o saber fazer <strong>ou</strong> a aquisiçãoe manutenção de respostas. A aula deve <strong>se</strong>rcentrada no professor, que controla todo o processo, distribuias recompensas e, eventualmente, a punição. Pretende-<strong>se</strong>,acima de tudo, que haja por parte do professoruma minuciosa exatidão na determinação do que
Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem 13pretende ensinar, do tempo que necessita para o fazer euma definição específica dos objetivos comportamentaisque pretende obter.A concepção de uma aprendizagem <strong>se</strong>m erros temna abordagem skinneriana forte defensa, <strong>se</strong>não o principalapoio. O erro deve <strong>se</strong>r evitado, punido e exigidanova resposta. A avaliação, centrada nos resultados enos objetivos não alcançados, deve permitir um feedbackpreciso do que ainda falta ensinar. Os exercícios de repetição<strong>ou</strong> de demonstrações de atividades, por vezesorganizados e apre<strong>se</strong>ntados como <strong>se</strong> o aluno tives<strong>se</strong> queimitar, <strong>se</strong>m grandes explicações, preenchem largos espaçosdo tempo da aula. Tudo, no entanto, deve encontrar-<strong>se</strong>meticulosamente justificado e organizado, o quealiás condiz com a tradição do ensino programado na<strong>se</strong>scolas, como era defendido por esta abordagem.Embora atualmente <strong>se</strong>jam as perspectivas cognitivoconstrutivistaas que mais influenciam as concepçõesde ensino-aprendizagem nas ciências, ainda surgem algumasformas “mascaradas” dessa pedagogiatransmissiva (Praia & Marques, 1997). Por <strong>ou</strong>tro lado,e porque os pressupostos cognitivistas não são, de todo,incompatíveis com os neobehavioristas, são vários osautores que apre<strong>se</strong>ntam abordagens mistas, quer a nívelmetodológico quer a nível teórico (Pozo, 1989). Comoexemplo, destacamos a teoria social cognitiva de Bandura(1977), <strong>ou</strong> a <strong>sua</strong> mais recente teoria de auto-eficácia(Bandura, 1986), <strong>ou</strong> mesmo a teoria da instrução deGagné (1975, 1985).Os objetivos de instrução, a que Gagné (1975) associaobjetivos comportamentais (os objetivos de aprendizagemrefletem alterações no comportamento dos estudantes),devem <strong>se</strong>r definidos em termos de performanceshumanas, bem como especificar a situação em que estas<strong>se</strong>rão ob<strong>se</strong>rvadas. Operacionalmente bem definido<strong>se</strong> mensuráveis, tais objetivos devem <strong>se</strong>r elaborados noinício do processo de instrução, pois são eles que determinamqual o input que deve <strong>se</strong>r fornecido ao aluno.<strong>Para</strong> o professor constituem a ba<strong>se</strong> da instrução e osuporte de verificação dos resultados de aprendizagem.<strong>Para</strong> o aluno <strong>se</strong>rvem como motivação e permitem umfeedback no final des<strong>se</strong> processo. A objetividade nadefinição dos objetivos torna-<strong>se</strong> notória no recurso averbos de ação, que facilitam a compreensão do que <strong>se</strong>pretende ob<strong>se</strong>rvar na performance do aluno. Essa mesmaobjetividade auxilia a clarificação do tipo de aprendizagempretendida e as condições requeridas para queestes objetivos <strong>se</strong>jam alcançados pelos alunos. Osobjetivos devem <strong>se</strong>r elaborados para cada ato de aprendizagem,situação que levará a que uma unidadeprogramática a ensinar <strong>se</strong>ja constituída por objetivos iniciaismais simples e por objetivos terminais que envolvemcapacidades mais complexas.A teoria sócio-cognitiva de Bandura (1977) preocupa-<strong>se</strong>com a aprendizagem que tem lugar no contextode uma situação social e sugere que uma parte significativadaquilo que o sujeito aprende resulta da imitação,modelagem <strong>ou</strong> aprendizagem ob<strong>se</strong>rvacional (Cruz,1997). Esta teoria repre<strong>se</strong>nta uma teoria de aprendizagemcom largas capacidades de adaptação e aplicaçãoao contexto <strong>escolar</strong>. Na sala de aula, a conduta do professor<strong>ou</strong> a ação de um colega podem facilmente originaruma aprendizagem modelada junto dos alunos. Nestaperspectiva, a aprendizagem é, es<strong>se</strong>ncialmente, umaatividade de processamento de informação, permitindoque condutas e eventos ambientais <strong>se</strong>jam transformado<strong>se</strong>m repre<strong>se</strong>ntações simbólicas que <strong>se</strong>rvem comoguias de ação (Bandura, 1986). Enquanto processamentode informação, a modelagem não corresponde nem auma simples imitação, nem a uma mera identificação doob<strong>se</strong>rvador com o modelo. Embora es<strong>se</strong> processo deaprendizagem não requeira o prêmio <strong>ou</strong> o castigo, nempara o ob<strong>se</strong>rvador nem para o modelo, a teoria reconheceque estes podem melhorar a aquisição e execuçãoda performance. Se numa perspectiva behaviorista,o comportamento deve <strong>se</strong>r reforçado tendo em vista a<strong>sua</strong> aquisição e manutenção, na aprendizagem modelada,mesmo quando reforçadas, as aprendizagens pressupõemexperiências prévias de ob<strong>se</strong>rvação. Porém,incentivos <strong>ou</strong> antecipação dos benefícios podem influenciaro sujeito, determinando quais as condutas a ob<strong>se</strong>rvar.A expectativa de uma resposta efetiva <strong>ou</strong> de umcastigo, podem favorecer, por exemplo, o nível de atençãodo aprendiz na ação do modelo. A antecipação dosbenefícios pode, ainda, permitir uma melhor retençãodo que foi ob<strong>se</strong>rvado, dado que o sujeito fica motivadopara simbolizar e ensaiar as atividades modeladas.Pelo exposto <strong>se</strong> depreende que as teorias de Bandura(1977) e de Gagné (1975) não marcaram uma clara distinçãoentre o aluno passivo, mero reprodutor de informação,e o aluno ativo, que aprende, organiza ereestrutura a informação recebida. Com efeito, só emmeados dos anos 60-70, rejeitando a passividade do alunoface a essa pedagogia de ba<strong>se</strong> memorística, de ritm<strong>ou</strong>niforme e muito as<strong>se</strong>nte numa motivação extrín<strong>se</strong>cado aluno (Santos & Praia, 1992), surgem, no ensino das<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19
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