90 Patrícia Fernanda Carmem Kebachdas pelas mais agudas e vice-versa. Nes<strong>se</strong> caso, ascrianças já estariam num nível mais adiantado de de<strong>se</strong>nvolvimentodo pré-operatório, isto é, no intuitivo. Porém,es<strong>se</strong> não é o caso de PAB, pois ele não con<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong>a inversão nas provas posteriores. A média de idadedos sujeitos que operaram nessa prova fic<strong>ou</strong> em tornodos 9,5 anos.Nível III – MAU (10,1) – E entre estes dois sinosaqui (toco o dó grave e o ré) qual é o fino e qual ogrosso? – Este aqui (dó grave) é o mais fino. – Masum menino me dis<strong>se</strong> que este (toco o ré) é mais fino doque es<strong>se</strong> (toco novamente o dó grave). O que tu achas?Ele tem razão, <strong>ou</strong> não? – ... (a criança pensa) – Qual éo mais grosso e qual o mais fino? (toco os dois maisuma vez) – Este (toca o dó grave) é o mais grosso eeste (toca o ré) o mais fino. – Mas antes você dis<strong>se</strong> ocontrário? – Não (ri). Este (dó grave) é o grosso eeste (ré) é o fino. – Tem certeza? – Tenho.No exemplo acima, o sujeito MAU, tom<strong>ou</strong> consciênciade qual era a nota mais grave e a mais aguda,durante a realização da prova, ao <strong>ou</strong>vir várias vezes osom dos dois sinos. Es<strong>se</strong> é um caso típico de abstraçãop<strong>se</strong>udo-empírica, em que a criança precisa <strong>se</strong> apoiarsobre a audição do som dos sinos, para compará-losvárias vezes, até obter a certeza de <strong>sua</strong> resposta. Comprov<strong>ou</strong>ainda <strong>sua</strong> tomada de consciência na prova dein<strong>se</strong>rção de uma nota na escala, na qual localiz<strong>ou</strong>corretamente o local do sino que <strong>se</strong> havia deixado delado, no momento em que <strong>se</strong> construiu a escala temperadade modo ascendente, para que ele in<strong>se</strong>ris<strong>se</strong> es<strong>se</strong>sino, completando a escala.In<strong>se</strong>rção de Um Sino na Escala Semi-ProntaEssa prova consistiu na introdução, pela criança, deuma nota que foi retirada da escala, em que o materialutilizado foram também os sinos, dispostos em uma fileira,do mais grave ao mais agudo, cujos espaços vi<strong>sua</strong>i<strong>se</strong>ntre eles deveriam <strong>se</strong>r iguais para que a criançanão tentas<strong>se</strong> adivinhar vi<strong>sua</strong>lmente o lugar correto dosino retirado.Os sujeitos pré-operatórios procuraram o lugar dosino vi<strong>sua</strong>lmente, tentando achar alguma diferença entreos espaços deixados entre os sinos. Outros não con<strong>se</strong>guiramcomparar o som da nota que foi retirada comos demais sinos.Nível I – JES (7,3) – Vira de costas que eu v<strong>ou</strong>montar os sinos do jeito que eu acho que fica bom domais fino ao mais grosso (monto a escala e deixo o fáde lado). Pode olhar. Aqui está do mais grosso ao maisfino, e eu quero que você encontre o lugar certo destesino (fá) entre os <strong>ou</strong>tros, para que a minha fileira continuedo mais grosso ao mais fino. – Tá (toca o fá ecoloca depois do si). – Por que você escolheu este lugarpara ele? – Porque eu acho que ele vai aí. – Comoé que você sabe? – ... – Então, vamos tocar todos paraver <strong>se</strong> está certo (toco todos). Está certo aí? – ... –Como é este (si), em relação a este (fá)? É mais grosso<strong>ou</strong> mais fino? – É este aqui (si) o mais fino. – Eu dis<strong>se</strong>para você deixar do mais grosso ao mais fino. Se este(si) é fino e este (fá) é grosso, ele está correto aqui? –Não. – Então, procura um lugar para ele. Pode tocar os<strong>ou</strong>tros. – (coloca depois do dó <strong>se</strong>m fazer comparações,simplesmente olhando) – Como é que você fez parasaber que era aí? – (a criança ri) – Você pode mexerneles para comparar. – (toca todos) – Você acha queestá certo aí, <strong>ou</strong> não? – Acho que sim.O sujeito JES, apesar de lhe <strong>se</strong>r sugerida a comparaçãoauditiva, e de responder corretamente que si émais agudo que fá, centr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> sobre as característicasvi<strong>sua</strong>is dos sinos, procurando empiricamente o lugarcorreto para a nota, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, por meio de <strong>sua</strong>s percepçõesvi<strong>sua</strong>is. JES faz, portanto, uma leitura <strong>se</strong>m nenhumacompreensão dos fatos. Entre es<strong>se</strong> tipo de leitura eo nível de compreensão, através da descoberta da razãopara o lugar adequado do sino, existe uma etapaintermediária. Nessa etapa (Nível II) , a criança sabede que modo deve procurar (via comparação dos sinos),porém resta encontrar o lugar correto. O sujeitointuitivo aproxima-<strong>se</strong> muito do lugar correto da nota naescala, mas não possui esquemas suficientes para diferenciarintervalos pequenos. No caso do exemplo abaixo,a diferença (entre mi e fá) é de apenas meio tom.Nível II – MIC (10,8) – V<strong>ou</strong> fazer a minha carreirae v<strong>ou</strong> pedir para você colocar um sino no meio dos <strong>ou</strong>tros(monto a escala <strong>se</strong>m o mi). Pode virar. Aqui estádo mais grosso ao mais fino. Onde este sino deve <strong>se</strong>rcolocado, para que permaneça assim, do mais grossoao mais fino? (entrego o sino para a criança) – (tocavárias vezes o mi e tenta adivinhar vi<strong>sua</strong>lmente o lugarcorreto) – Você pode escutar o som dos <strong>ou</strong>tros sinos,não precisa adivinhar! – (toca todos e coloca depois defá) – (toco toda a <strong>se</strong>qüência) Está certo neste lugar, <strong>ou</strong>não? – Está. – Como é este (mi) em relação a este(fá)? – Um p<strong>ou</strong>quinho mais fino.A percepção está pre<strong>se</strong>nte desde o princípio dessaprova, no exemplo acima. MIC procura o lugar do sino
A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 91primeiramente de modo vi<strong>sua</strong>l. Depois, quando lhe ésugerido um <strong>ou</strong>tro modo de busca (escutar os sons),aproxima-<strong>se</strong> muito da resposta correta, comparando osom do sino que lhe foi entregue com os <strong>ou</strong>tros (abstraçãoreflexionante/p<strong>se</strong>udo-empírica), mas é traída novamentepor <strong>sua</strong> percepção, desta vez, auditiva, por não possuiresquemas suficientes de diferenciação de intervalospequenos (nes<strong>se</strong> caso, de apenas meio tom).Nessa prova, muitas crianças foram operatórias. Amédia de idade deste nível, foi 9,5. A hipóte<strong>se</strong> para es<strong>se</strong>fato é a de que h<strong>ou</strong>ve maior facilidade de comparaçãodos sons, tendo em vista que a escala já <strong>se</strong> encontravaqua<strong>se</strong> pronta (apenas faltando uma nota). A relação deuma nota com todas as <strong>ou</strong>tras já dispostas de modo corretolev<strong>ou</strong> as crianças operatórias ao êxito através deabstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas, em que, no caso operatório,foi necessário fazer a comparação dessa nota comtodas as <strong>ou</strong>tras.Nível III – CAR (11,1) – V<strong>ou</strong> montar a minha escalae tirar um sino. Vira de costas (monto e tiro o mi).Pode olhar. Coloca este sino no lugar certo para queeles continuem do mais grosso ao mais fino. – (comparao mi com cada um e pára no fá, colocando mi nolocal certo, antes do fá) – Como é que tu sabes que elevai aí? – Porque eu comparei ele com os <strong>ou</strong>tros.O sujeito CAR con<strong>se</strong>guiu apropriar-<strong>se</strong> de <strong>sua</strong> açãode modo consciente. Isso fica claro quando repre<strong>se</strong>ntaverbalmente <strong>sua</strong> ação ao final da prova. Encontra-<strong>se</strong> aíum exemplo de abstração refletida sobre o processo deconstrução de <strong>se</strong>riação.O objetivo dessa prova foi o de fazer com que ascrianças pré-operatórias e intuitivas pudes<strong>se</strong>m <strong>ou</strong>vir aescala temperada, mesmo que incompleta (faltando umanota), procurando tornar a tarefa de <strong>se</strong>riação um p<strong>ou</strong>comais acessível, na medida em que fos<strong>se</strong> sugerida umasistemática de organização dos sinos. Porém, isso nãoocorreu. Piaget (1995) diz que a abstração, ainda queba<strong>se</strong>ada sobre as ações de <strong>ou</strong>tra pessoa “está longe deconstituir um processo simples, mesmo quando estasações são simplesmente concernentes à ordemconstitutiva das séries.” (p.161). Embora alguns sujeitostenham con<strong>se</strong>guido realizar a tarefa de introduzirapenas um sino na escala de modo operatório, na horada <strong>se</strong>riação ascendente e descendente, o único sujeitoque oper<strong>ou</strong> completamente foi GAB (6,2). Es<strong>se</strong> fatocomprova que é preciso que a própria criança construaa relação entre os intervalos, por meio da apropriaçãode <strong>sua</strong>s ações, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, da coordenação das mesmas.Apenas a escuta (passiva) da escala pronta não é suficientepara <strong>sua</strong> construção. O conhecimento não é adquiridopor meio dos órgãos dos <strong>se</strong>ntidos (nes<strong>se</strong> caso, aaudição). Ele é uma construção por meio da interaçãodo sujeito com o objeto. A relação entre os intervalos daescala, portanto, é uma complexa construção que exigeesquemas de assimilação para a tarefa de organizaçãodos eventos sonoros. A noção de escala, mesmo que<strong>se</strong>ja construída com hipóte<strong>se</strong>s pré-operatórias do própriosujeito, é, <strong>se</strong>gundo Beyer (1988), o pré-requisito paraa construção, ainda que intuitiva, da escala temperada.Seriação Ascendente da EscalaLogo após passarem pelas etapas de diferenciaçãoentre sons graves e agudos, aplic<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> em todos os sujeitos,a prova de <strong>se</strong>riação da escala de dó grave a dóagudo (uma oitava). A prova consistiu na organizaçãodos sinos, de modo a formarem a escala de dó.Nível I – VIN (7,6) – Quero que você arrume todo<strong>se</strong>stes sinos do mais grosso até o mais fino, todos emuma fileira. – (procura os sinos <strong>ou</strong>vindo os sons <strong>se</strong>mcomparar uns com os <strong>ou</strong>tros) Pronto! Estes aqui sãoos finos, estes os grossos e estes os normais (apontapara cada <strong>se</strong>paração que fez, pois agrup<strong>ou</strong> os sinos emdois conjuntos de três sinos e um de dois). – Como éque você sabe que estes (aponto para cada grupo) sãomais finos, estes grossos e estes normais? – Por causaque eu toquei. – Vamos ver como você arrum<strong>ou</strong>, então(começo pelo grupo que a criança denomin<strong>ou</strong> de maisfinos: ré, mi, dó grave; depois os que a criança denomin<strong>ou</strong>de mais grossos: sol, fá, lá; finalmente os denominadosde normais: si, dó agudo). Então, você arrum<strong>ou</strong>do mais grosso ao mais fino? – Sim. – E <strong>se</strong> fos<strong>se</strong> paracolocar um ao lado do <strong>ou</strong>tro, todos em uma só carreirinha,como é que você organizaria? – Eu ía... – Faz, então,um do lado do <strong>ou</strong>tro. – (ele organiza na vertical os sinosdois a dois) – Vamos ver como fic<strong>ou</strong> (toco cada dupla:dó grave/sol; mi/fá; ré/lá; dó agudo/si) – Estes primeirosaqui parecem com o som da campainha!Nes<strong>se</strong> primeiro nível, fica demonstrada uma atitudeinicial, na qual a criança procura ordenar um dos sinos,<strong>se</strong>m compará-lo ao conjunto dos <strong>ou</strong>tros, como <strong>se</strong> nãodeves<strong>se</strong> <strong>se</strong>guir uma direção estável na ordem de relaçãodos termos, nem auditiva e nem mesmo vi<strong>sua</strong>l, procurandofazer somente pequenos agrupamentos. Algunsvão simplesmente colocando um sino ao lado do <strong>ou</strong>tro,como foi o caso de VIN, <strong>se</strong>m <strong>se</strong>quer <strong>ou</strong>vi-los. Es<strong>se</strong>súltimos, apesar da similaridade dos sinos, buscam en-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96
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