94 Patrícia Fernanda Carmem KebachQuadro 1: Diferenciação de intervalos e <strong>se</strong>riação da escala.de uma propriedade sonora só pode <strong>se</strong>r percebida, comrelação a um modelo previamente apre<strong>se</strong>ntado. O períodode tempo entre a apre<strong>se</strong>ntação de um modelo e aindagação sobre <strong>sua</strong> eventual modificação faz incidiraspectos referentes à memória musical. No caso daapre<strong>se</strong>ntação do modelo, <strong>se</strong>guida de <strong>sua</strong> modificação, otempo de concentração auditiva exigido poderá interferirnas respostas” (p. 107).<strong>Para</strong> que a noção de escala <strong>se</strong>ja construída, é necessáriauma interação, tanto qualitativa, quanto quantitativacom o objeto musical, que garanta a construçãode esquemas mentais de assimilação, possibilitando aosujeito uma memória dos intervalos existentes na escala.Essa é uma aprendizagem complexa que não deve<strong>se</strong>r negligenciada em função de <strong>ou</strong>tras que devem ocorrerposteriormente a esta, como, por exemplo, a alfabetizaçãomusical. A noção dos intervalos é um conhecimentobásico para a construção do objeto musical, assimcomo o é a noção de duração dos sons. Assim, “aaprendizagem musical, como qualquer <strong>ou</strong>tra, envolveconhecimentos que têm <strong>sua</strong> ba<strong>se</strong> na noção de con<strong>se</strong>rvação”(Maffioletti, 2002 p. 106). Nota-<strong>se</strong>, assim, a importânciada con<strong>se</strong>rvação das relações existentes entreos intervalos da escala temperada para a generalizaçãodeste conhecimento.Encontr<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> uma décalage (defasagem) bastantegrande na <strong>se</strong>riação auditiva em relação à <strong>se</strong>riação vi<strong>sua</strong>lsugerida por Piaget e Szeminska (1972). Na <strong>se</strong>riaçãovi<strong>sua</strong>l, as idades médias de cada estágio de de<strong>se</strong>nvolvimentoacompanham as <strong>ou</strong>tras tantas provas aplicadaspelos pesquisadores construtivistas. Segundo Piaget(1990), o estágio pré-operatório é encontrado entre asidades de dois/três anos e <strong>se</strong>is/<strong>se</strong>te anos (in<strong>se</strong>re-<strong>se</strong> aquitambém o estágio intuitivo). O estágio operatório concretocompreende, de modo geral, as idades que vãodos <strong>se</strong>te/oito anos até 11/12, quando começam as operaçõesformais.Os resultados desta pesquisa também foram diferentesdos resultados obtidos por Barcelo I Ginard (1988),tendo em vista que este autor aplic<strong>ou</strong> as provas em cri-
A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 95anças que cursavam aulas de música, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, interagiamfreqüentemente com o objeto musical e possuíam idade<strong>se</strong>ntre oito e 10 anos. O autor afirma que “todos losniños po<strong>se</strong>ían la noción <strong>se</strong>riativa musical: no han tenidodificultad alguna para conceptuar los sonidos que hanescuchado como una colección de elementos organizadosmediante diferencias sucesivas” (Barcelo I Ginard,1988 p. 108). Porém, o mesmo não ocorreu nesta pesquisa.É importante lembrar, aqui, que nenhum dos sujeito<strong>se</strong>ntrevistados estava freqüentando aulas de músicadurante a realização das provas, para que fos<strong>se</strong> ob<strong>se</strong>rvadoo conhecimento espontâneo dos mesmos sobreo objeto em jogo.A média final das idades que foi encontrada para o<strong>se</strong>stágios que caracterizaram os resultados desta pesquisafoi a <strong>se</strong>guinte: as crianças responderam às perguntasde todas as provas de modo pré-operatório até mais <strong>ou</strong>menos <strong>se</strong>te anos. A média de idade para as criançasque responderam de modo intuitivo fic<strong>ou</strong> em oito anos emeio. A média geral para o nível operatório (no qual eleapareceu, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, na diferenciação entre graves e agudo<strong>se</strong> na in<strong>se</strong>rção de um sino na escala já pronta, comexceção do sujeito atípico) fic<strong>ou</strong> em nove anos e meio.As hipóte<strong>se</strong>s sobre es<strong>se</strong>s dados são as <strong>se</strong>guintes: emprimeiro lugar, talvez o número de crianças entrevistadasnão tenha sido suficiente para proporcionar a noçãode uma média de idades mais específica. Contudo, omais importante talvez <strong>se</strong>ja a complexidade do problema:as crianças atingem o nível operatório em médiaaos nove anos e meio em provas mais simples, em que osujeito deve operar com um <strong>ou</strong> dois sinos; e ficam nonível intuitivo (intermediário entre o pré-operatório e ooperatório, porém ainda pré-operando), nas provas de<strong>se</strong>riação total, que são mais complexas, pois a ação dosujeito ocorre através da comparação de vários sinossimultaneamente. A complexidade talvez explique odeslocamento do nível operatório para o intuitivo.Procurando compreender o que pode ter ocorridocom o sujeito atípico, convers<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> com a família deGAB (6,2), para ver o grau de <strong>sua</strong> interação com oobjeto musical dentro de <strong>se</strong>u lar. Os pais dessa criançapossuem um grande conhecimento musical e incentivama filha a participar das atividades em família. Tocame cantam em casa e na igreja, pois são pastores.GAB, portanto, interage constantemente com o objetomusical. Outro sujeito que cham<strong>ou</strong> a atenção foi TAI(7,10). Essa menina <strong>se</strong> aproxim<strong>ou</strong> muito da resoluçãode todos os problemas propostos. Na <strong>se</strong>riação, tantoascendente quanto descendente, troc<strong>ou</strong> apenas algumasnotas. Entrevist<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> também a mãe da meninapara obter maiores informações a <strong>se</strong>u respeito. Elarealmente não particip<strong>ou</strong> de nenhuma aula de música,como havia informado, mas <strong>se</strong>u passatempo prediletoera cantar karaoke (cantar com play-back), a pontode ganhar concursos do gênero. Encontra-<strong>se</strong> aí umaenorme interação deste sujeito com o objeto musical, e<strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> pela música.Enfim, os resultados das provas estão assim configurados:o nível de interação dos sujeitos com oobjeto musical foi o que permitiu a resolução de problemascomplexos, como a <strong>se</strong>riação completa <strong>ou</strong><strong>se</strong>micompleta da escala. Mais do que conteúdo específico(música de Igreja <strong>ou</strong> karaoke), o que parecerelevante são os esquemas de assimilação que acriança possui e <strong>se</strong>u interes<strong>se</strong> (de<strong>se</strong>jo, necessidade)em assimilar o objeto musical para que possa ampliar<strong>se</strong>u conhecimento a respeito.Conclui-<strong>se</strong>, dessa forma, que a música é um objetoconstituído pela ação humana que <strong>se</strong> caracteriza peloatravessamento das estruturas lógico-formais estudadaspor Piaget (1995). Assim, confirma-<strong>se</strong> a hipóte<strong>se</strong>de que a construção do conhecimento musical ocorreda mesma forma que os níveis investigados pela Escolade Genebra para <strong>ou</strong>tros objetos de conhecimento.REFERÊNCIASAgosti-Gherban, C. (2000). L’éveil musical: une pédagogieévolutive. Paris: L’Harmattan.Barcelo I Ginard, B. (1988). <strong>Psic</strong>ologia de la conducta musicalen el niño. Palma: Universitat de les illes Balears.Bellochio, C. R. (2000). A <strong>educ</strong>ação musical nas séries iniciaisdo ensino fundamental: olhando e construindo juntoàs práticas cotidianas do professor. Porto Alegre:Te<strong>se</strong> de D<strong>ou</strong>torado – UFRGS. Rio Grande do Sul.Beyer, E. (1988). A abordagem cognitiva em música: umacrítica ao ensino de música, a partir da teoria de Piaget.Porto Alegre: Dis<strong>se</strong>rtação de Mestrado - UFRGS. RioGrande do Sul.Beyer, E. (1994/1995) A construção de conceitos musicais noindivíduo: perspectivas para a <strong>educ</strong>ação musical. EmPauta, 9/10, 22-31.Beyer, E. (1995) Os múltiplos de<strong>se</strong>nvolvimentos cognitivo-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96
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