82 Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitchmentos ob<strong>se</strong>rvados na criança deprimida estão: cansaço,fadiga, falta de energia e interes<strong>se</strong> pelas atividades diárias,dificuldade para concentrar-<strong>se</strong> e prejuízo nas relaçõessociais. Os problemas orgânicos <strong>ou</strong> somáticos tambémsão mais encontrados em crianças menores. É freqüenteob<strong>se</strong>rvar uma criança deprimida com diminuição <strong>ou</strong> aumentode apetite, mudanças no hábito de sono, lentidãomotora <strong>ou</strong> agitação excessiva. Além des<strong>se</strong>s sintomas, umacriança deprimida pode apre<strong>se</strong>ntar <strong>ou</strong>tros problemassomáticos como dor de cabeça, dores no estômago eenure<strong>se</strong> noturna (Brumback & cols., 1980; Kashani &Carlson, 1987). No estudo de Bandim e cols. (1995) ossintomas de depressão mais comumente encontrados emcrianças foram humor deprimido e perda de peso, <strong>se</strong>guidosde alteração de sono e queda no rendimento <strong>escolar</strong>.Há autores que sugerem uma diferenciação nos sintomasdepressivos quanto ao gênero. Mais precisamente,tristeza e choro são sintomas mais freqüentes nas meninas,enquanto que disforia, ansiedade e irritabilidade ocorremmais nos meninos, já pensamentos pessimistas e queixassomáticas como dor abdominal, cefaléia e náu<strong>se</strong>asocorrem com bastante freqüência nos dois <strong>se</strong>xos(Curatolo, 2001).Tendo em vista a complexidade des<strong>se</strong> fenômeno,reconhecer os sintomas depressivos nas crianças temsido uma tarefa difícil tanto para os pais, quanto para osprofessores, dado a <strong>sua</strong> similaridade com <strong>ou</strong>tras dificuldadescomo hiperatividade, distúrbio de conduta,agressividade, entre <strong>ou</strong>tros (Wright-Strawderman &Watson 1992), bem como devido a comorbidade. Colberte cols. (1982) afirmam que a depressão em criançasnão tem sido reconhecida adequadamente pelos <strong>educ</strong>adores.As crianças acabam <strong>se</strong>ndo freqüentementeidentificadas como tendo um problema específico deaprendizagem. Es<strong>se</strong> desconhecimento dos sintomasdepressivos por parte da escola, <strong>se</strong>m dúvida, acarretaem encaminhamentos, orientações e tratamentosincorretos para es<strong>se</strong>s alunos.A falta de informações de pais e professores sobrea depressão infantil pode contribuir para aumentar asdificuldades dos alunos e inúmeras <strong>se</strong>qüelas emocionaisno futuro. É evidente que família e <strong>educ</strong>adores não estãopreparados para fazer um diagnóstico na criança.Cabe ressaltar que nem é es<strong>se</strong> o papel dos mesmos. Noentanto, disponibilizar um maior conhecimento acercade depressão infantil para pais e professores pode propiciarum olhar mais atento à crianças que apre<strong>se</strong>ntampossíveis sintomas permitindo um encaminhamento oportunoe um diagnóstico mais rápido, o que conduzirá aintervenção adequada, em tempo hábil.Depressão infantil: algumas implicações<strong>educ</strong>acionaisSem a intenção de desconsiderar a gama de aspectosque interferem no processo de aprendizagem,atualmente, não há dúvida que os fatores internos podempromover <strong>ou</strong> inibir o de<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>. Os problema<strong>se</strong>mocionais podem conduzir a futuras formas deinadaptação tanto em nível individual, como em nível<strong>escolar</strong> e social, uma vez que tais dificuldades não sãotão passageiras e leves como antes <strong>se</strong> acreditava <strong>se</strong>r(Fon<strong>se</strong>ca & cols., 1998). Daí a necessidade de, no contexto<strong>educ</strong>acional, <strong>se</strong> olhar o aluno em <strong>sua</strong> totalidade,considerando <strong>sua</strong>s características de personalidade, <strong>se</strong>uestado emocional, <strong>sua</strong>s crenças e cognições frente aaprendizagem (Fierro, 1996).A relação entre depressão infantil e dificuldade deaprendizagem tem recebido atenção especial na literaturainternacional. Livingston (1985) afirma que conheceresta associação pode <strong>se</strong>r muito importante para aquelesque trabalham com crianças que apre<strong>se</strong>ntam dificuldadesde aprendizagem.Colbert e cols. (1982) concluí em <strong>se</strong>u estudo que o professorpossui muita dificuldade para identificar a criançacom sintomas de depressão principalmente devido a <strong>sua</strong>similaridade com <strong>ou</strong>tros problemas, o que contribui paratornar a orientação e encaminhamento mais tardio, o quecertamente prejudica o de<strong>se</strong>nvolvimento da criança. Hátambém aqueles que confundem os dois problemas e terminampor diagnosticar uma criança com depressão comotendo dificuldade de aprendizagem, o que também acarretaem intervenções inadequadas e incorretas.Os sintomas de depressão podem <strong>se</strong> manifestar dediferentes formas no ambiente <strong>escolar</strong>. O professor deveestar alerto a alguns sinais indicativos e pensar na possibilidadede depressão diante de uma criança que revelauma expressão de tristeza, <strong>ou</strong> mudança no nível deatividade, diminuição no rendimento <strong>escolar</strong>, fracassoem terminar <strong>sua</strong>s tarefas <strong>escolar</strong>es, isolamento social,agressividade <strong>ou</strong> verbalizações como: “Eu não possofazer isso” (Livingston, 1985).Ainda não está claro a relação causal entre depressãoe dificuldade de aprendizagem. Mais precisamente,não <strong>se</strong> tem dados científicos suficientes para afirmar <strong>se</strong> adificuldade de aprendizagem é um fator de risco paradepressão <strong>ou</strong> <strong>se</strong> sintomas depressivos acarretariam uma
Depressão infantil: Uma contribuição para a prática <strong>educ</strong>acional 83dificuldade de aprendizagem. A hipóte<strong>se</strong> de que criançascom dificuldade de aprendizagem <strong>se</strong>riam fortes candidatasa depressão é fortemente defendida por Seligman e cols.(apud Hall & Haws, 1989). Uma criança com uma limitaçãocognitiva dificilmente alcança um nível de de<strong>se</strong>mpenhoesperado, não <strong>se</strong>ndo reconhecida e elogiada peloscolegas e professores, ao passo que <strong>se</strong>us amigos recebemreconhecimento e elogios pelo de<strong>se</strong>mpenho alcançado(Hall & Haws, 1989). Na verdade, a criança comdificuldades na escola percebe <strong>sua</strong> dificuldade, pois nãocon<strong>se</strong>gue atingir as <strong>sua</strong>s expectativas e nem as expectativasdos <strong>ou</strong>tros, gerando <strong>se</strong>ntimentos negativos de frustração,inferioridade e incapacidade.Por <strong>ou</strong>tro lado existem autores que acreditam que adepressão pode induzir <strong>ou</strong> piorar uma dificuldade deaprendizagem (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985;Mokros & cols., 1989). Livingston (1985) coloca queessa afirmação poderia <strong>se</strong>r sustentada mediante a confirmaçãode duas hipóte<strong>se</strong>s: a primeira é que existe umarelação temporal entre o início da depressão na criança<strong>se</strong>guido de uma piora <strong>ou</strong> declínio do <strong>se</strong>u rendimento <strong>escolar</strong>.E a <strong>se</strong>gunda, estaria relacionada ao sucesso notratamento da depressão acompanhado pela melhora node<strong>se</strong>mpenho <strong>escolar</strong>. Nes<strong>se</strong> caso, a dificuldade de aprendizagem<strong>se</strong>ria decorrente da falta de interes<strong>se</strong> e energiada criança, falta de atenção e concentração (Colbert &cols., 1982). A dificuldade de aprendizagem consistiriaem uma manifestação da depressão em si, em funçãoda não participação do aluno nas atividades <strong>escolar</strong>es etambém pelos <strong>se</strong>ntimentos negativos de auto-depreciação(Brumback & cols., 1980).Tal discussão <strong>se</strong> revela extremamente relevante poisa relação causal entre es<strong>se</strong>s dois fenômenos conduz aimplicações políticas e <strong>educ</strong>acionais distintas. Apesarde ainda <strong>se</strong> fazer necessário inúmeras pesquisas afimde clarificar essa questão, alguns pontos já são evidentes.Livingston (1985) reforça que os <strong>educ</strong>adoresprecisam estar informados a respeito da depressão infantile que os professores precisam ficar atentos aalguns sinais apre<strong>se</strong>ntados pela criança e sugere aindao de<strong>se</strong>nvolvimento de mais pesquisas na área.Quanto a população brasileira ainda existem muitaslacunas e dúvidas. Diante des<strong>se</strong> quadro, faz-<strong>se</strong> necessáriocada vez mais pesquisas que aumentem o conhecimentoacerca da incidência da depressão infantil no Brasil eprincipalmente que dados provenientes de estudos maissistemáticos <strong>se</strong>jam traduzidos em informações úteis a <strong>se</strong>remcompartilhadas com <strong>educ</strong>adores, pois somente assim estesterão as ferramentas necessárias para melhor compreendera depressão e <strong>sua</strong>s relações com a aprendizagem. Alémdisso, acredita-<strong>se</strong> que o fato de <strong>se</strong> conhecer melhor adepressão infantil e <strong>sua</strong>s características, possibilita oencaminhamento precoce, bem como uma atuaçãopreventiva por parte daqueles envolvidos com a criança.REFERÊNCIASAjuriaguerra, J. (1976). Manual de Psiquiatria Infantil. Riode Janeiro: Masson do Brasil.Amaral, V. L. A R., & Barbosa, M. K. (1990). Crianças vítimasde queimaduras: um estudo sobre a depressão. 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