92 Patrícia Fernanda Carmem Kebachcontrar características vi<strong>sua</strong>is de diferenciação paraarranjá-los. Os sujeitos pré-operatórios fazem, assim,apenas abstrações empíricas no momento de construírem<strong>sua</strong>s <strong>se</strong>riações, buscando as informações nas própriaspercepções sobre o objeto a <strong>se</strong>r estruturado.No nível intuitivo, que é considerado também pré-operatório,apesar de estar mais próximo da operatoriedade,as crianças <strong>se</strong>rvem-<strong>se</strong> do jogo de tentativas de comparaçõesglobais à espera de uma resolução definitiva <strong>ou</strong> dosom definitivo global, como sugere Barcelo I Ginard(1988), para construírem <strong>sua</strong>s escalas. Estão centradosainda na percepção sonora global, modificando a colocaçãodas notas sucessivamente, porém de modo não completamentepré-operatório, pois passam dos julgamentospré-relativos à <strong>se</strong>riação empírica.Estão centrados na percepção sonora global, modificandoa colocação das notas sucessivamente e não con<strong>se</strong>guem,assim, obter êxito na construção da escala.Encontram um procedimento que consiste em construira escala tendo em conta as extremidades (que nem <strong>se</strong>mpreestão corretas, mas são percebidas como tais), <strong>se</strong>mcon<strong>se</strong>guir relacionar os elementos entre elas, que garantiriamuma progressão constante operatória. Dessaforma, tal procedimento toma o lugar dos sistemas derelações, pelas simples figura perceptiva/intuitiva doconjunto, <strong>se</strong>m que a criança consiga classificar e compararos elementos em jogo de modo coerente (Piaget& Szeminska, 1972).Nível II – JEN (12,8) – Agora, eu quero que vocêfaça uma carreira com todos os sinos do mais grosso aomais fino. – (começa <strong>se</strong>parando os sinos pelos sons maisagudos e mais graves, depois faz comparações globai<strong>se</strong> organiza a fileira) Este está mais forte... – Mas eupedi para que você organizas<strong>se</strong> do mais grosso (falograve) ao mais fino (falo agudo). Está pronto? – Está. –Vamos ver como fic<strong>ou</strong>: fá, sol, si, dó agudo, lá, mi, ré,dó grave. Está correto? – Hum... Não (troca o dóagudo de lugar com o dó grave). Agora, sim. – Vamo<strong>se</strong>scutar (repito a <strong>se</strong>qüência com a mudança), estácorreto assim? – Ainda não (coloca as notas na <strong>se</strong>guinte<strong>se</strong>qüência: fá, sol, si, mi, ré, dó grave, lá, dóagudo) – (toco a <strong>se</strong>qüência) E agora? – ...Não, aindanão... – Como é este sino (toco o dó grave) aqui? – Éum tom mais fino. – E este (toco o dó agudo)? – Émais grosso. – Este (dó grave) é mais fino que este(dó agudo)? – É. – Mas antes você dis<strong>se</strong> que os sinosdo tipo deste (dó agudo) eram os mais finos e estes(dó grave) os mais grossos! (refiro-me às provas dediferenciação das alturas de apenas dois sinos) –Hum...Eu acho que eu troquei... – Então, você achaque o correto é que este (dó grave) é o mais... – Fino.– E este (toco o dó agudo)... – Mais grosso. – Então,a fileira fica como? – Assim (toca os sinos <strong>se</strong>m trocar aordem em que havia organizado anteriormente: fá, sol,si, mi, ré, dó grave, lá, dó agudo).Nes<strong>se</strong> exemplo do estágio intuitivo, a criança inicialmenterelaciona os sinos, utilizando uma abstração p<strong>se</strong>udoempírica(ficando implícita a abstração reflexionante queestá <strong>se</strong>mpre pre<strong>se</strong>nte nas abstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas enão nas empíricas) para <strong>se</strong>parar os sons mais agudos dosmais graves, mas que não persiste quando a criança necessitafazer comparações mais específicas de modo aorganizar todos os sinos em uma <strong>se</strong>qüência coerente. Apartir daí, apóia-<strong>se</strong> sobre abstrações empíricas. Comoacontece corriqueiramente, denomina de formadiversificada o parâmetro altura (“Este está mais forte...”),o que poderia significar uma confusão entreparâmetros (estaria a criança referindo-<strong>se</strong> à intensidadedo som?), o que demonstra uma falta de diferenciaçãodas diferentes alturas das notas e também da altura emrelação aos <strong>ou</strong>tros parâmetros do som. Acaba negandoas primeiras relações operatórias feitas nas <strong>ou</strong>tras provas,através do de<strong>se</strong>quilíbrio causado pelo novo desafio,para trocar a denominação: os finos são associados aosgraves, e os grossos, aos agudos. Essa não-con<strong>se</strong>rvaçãode <strong>sua</strong> própria relação estabelecida anteriormente demonstrao caráter irreversível da estruturação atual; portanto,a não-generalização des<strong>se</strong> conhecimento, em funçãoda falta de esquemas de assimilação para a organizaçãodessa estrutura mais complexa.O caso atípico GAB é o único exemplo do estágiooperatório.Nível III – GAB (6,2) – Agora, eu quero que vocêarrume do mais grosso ao mais fino, todos os sinos. – (acriança faz comparações de todos os sinos, <strong>se</strong>para-ospor <strong>sua</strong>s alturas e depois vai pegando pares para comparar,organiza a fileira buscando os sinos através dacomparação com o último que enfileir<strong>ou</strong>) – Vamos vercomo fic<strong>ou</strong> (toco <strong>sua</strong> fileira de sinos): dó grave, ré, mi,fá, si, lá, sol, dó agudo. Está tudo certo? Está do maisgrosso ao mais fino? – Só tem dois que estão meio... –Então, tenta corrigir o que pode estar errado. – (colocao sol e o si no lugar correto) – (toco a <strong>se</strong>qüência) Agora,deu? – Sim (convicta).GAB faz a comparação auditiva de todos os sonspara construir a escala de modo operatório, tanto de
A construção da <strong>se</strong>riação auditiva: Uma análi<strong>se</strong> através da metodologia clínica 93modo ascendente, quanto descendente. Essa ação dosujeito sobre os objetos retirando deles as característicasde relação entre uns e <strong>ou</strong>tros, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, a apropriaçãonão só das características dos objetos, mas das açõesque o sujeito exerceu sobre eles ao relacioná-los é típicada abstração reflexionante. A criança apoi<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> sobreabstrações p<strong>se</strong>udo-empíricas do início até o final daprova. <strong>Para</strong> fazer as correções necessárias precis<strong>ou</strong><strong>ou</strong>vir os sinos mais de uma vez. Enquanto, no nível intuitivo(Nível II), as crianças consideram os sinos com<strong>ou</strong>ma espécie de elementos estranhos uns aos <strong>ou</strong>tros,comparando-os apenas com uma globalidade sonora,GAB reage de modo contrário, comparando-os, medindoauditivamente a distância dos intervalos e os situando,tendo em conta simultaneamente as relações “maisagudo do que o anterior” e “mais grave do que o <strong>se</strong>guinte”.Isso demonstra uma grande compreensão em relaçãoàs ordenações auditivas dos intervalos.Apesar da <strong>se</strong>riação perfeita, quando pergunto a GABo que há de <strong>se</strong>melhante nas coisas que fez, a criançaresponde: “Não tem nada de parecido”. Es<strong>se</strong> fato demonstraa inconsciência do processo de abstraçãoreflexionante realizada pelo sujeito. Sua inconsciênciafica clara também ao dar a resposta à questão sobre ométodo utilizado para construir a escala: “Est<strong>ou</strong> prestandoa atenção”. Essas respostas são típicas das operaçõesconcretas. Ou <strong>se</strong>ja, as construções são feitascom ba<strong>se</strong> em abstração p<strong>se</strong>udo-empíricas, na medidaem que a criança compara os sons e os relaciona demodo operatório, mas não possui apropriação conscienteda organização de <strong>sua</strong>s ações (abstração refletida).Não obstante essa falta de consciência de <strong>se</strong>u processode construção, GAB não generaliza o processo de diferenciaçãodos sons somente por abstrações empíricas,visto que essa generalização é apenas extensiva e consisteem encontrar em novos objetos uma propriedadeque já exista neles, mas que é <strong>se</strong>melhante àquela que jáob<strong>se</strong>rv<strong>ou</strong> em <strong>ou</strong>tros (por exemplo, o timbre, quando osujeito compara o som dos sinos ao som de uma campainha).Ela generaliza es<strong>se</strong> conhecimento pelareversibilidade existente em <strong>sua</strong>s operações concretas.Mesmo que o sujeito GAB não tenha atingido o nível doraciocínio sobre enunciados verbais (operações formais),<strong>sua</strong> lógica está apoiada sobre os objetos manipuláveis(operações concretas), o que implica uma lógica de clas<strong>se</strong>s.Sua generalização é feita principalmente pelasabstrações reflexionantes, que consistem em introduzir,em novos objetos, propriedades que eles não possuíam(no caso, a organização via <strong>se</strong>riação, na diferenciaçãoentre graves e agudos), <strong>se</strong>ja porque são tiradas das construçõesde níveis precedentes, <strong>se</strong>ja, sobretudo, porquecon<strong>se</strong>guem reorganizar e construir novas formas queproduzem novos conteúdos. Des<strong>se</strong> modo, pode-<strong>se</strong> dizerque a criação de novidades existente no processo de<strong>se</strong>riação da escala consiste na realização de possibilidadesabertas de novas criações posteriores, por meio daconstruções de níveis precedentes.<strong>Para</strong> verificar um grau mais elevado dereversibilidade do todo (escala completa) propôs-<strong>se</strong> atodos os sujeitos, ao final das provas, que organizas<strong>se</strong>ma escala de modo descendente, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, do sino maisagudo até o mais grave (dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dógrave). Como era de <strong>se</strong> esperar, também nessa prova,a reversibilidade completa da <strong>se</strong>riação só ocorreu nosujeito que oper<strong>ou</strong> na <strong>se</strong>riação ascendente.CONCLUSÕESCom ba<strong>se</strong> nas conclusões gerais desta pesquisa, oquadro de classificação por nível de de<strong>se</strong>nvolvimentode todos os sujeitos pesquisados pode <strong>se</strong>r ob<strong>se</strong>rvado noQuadro 1.A construção auditiva em relação ao espaço existenteentre duas notas (intervalo tonal) é bem mais complexado que a construção vi<strong>sua</strong>l, por exemplo, quandoé necessário comparar o tamanho de dois pequenosbastões para a <strong>se</strong>riação vi<strong>sua</strong>l de uma série, na qualexistem vários bastões de diferentes tamanhos que devem<strong>se</strong>r organizados do menor ao maior, <strong>se</strong>gundo a provade Piaget e Szeminska (1972). A diferença de tamanhode cada bastão é <strong>se</strong>mpre a mesma, enquanto a diferençade intervalos é de meio tom entre o mi e o fá eo si e o dó agudo, e, entre as <strong>ou</strong>tras notas, a diferençaé de um tom. Portanto, a medição do espaço via audiçãoé algo bem mais complexo, já que, para comparardois bastões, a criança coloca um ao lado do <strong>ou</strong>tro econ<strong>se</strong>gue ob<strong>se</strong>rvar os objetos em <strong>sua</strong> concretude. Jádois sons devem <strong>se</strong>r comparados mentalmente logo após<strong>sua</strong>s execuções sucessivas, e não simultâneas, pois <strong>se</strong>corre o risco de a criança não con<strong>se</strong>guir diferenciar umdo <strong>ou</strong>tro <strong>se</strong> forem tocados ao mesmo tempo. Assim queé executado, portanto, o som <strong>se</strong> esvai, e a criança permaneceapenas com uma imagem mental deste. Sobreisso, Maffioletti (2002) ob<strong>se</strong>rva que “...a transformação<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96
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