38 Geraldina Porto Witterde remediação. Além disso, espera-<strong>se</strong> que <strong>se</strong>jam trabalhadasas con<strong>se</strong>qüências do estres<strong>se</strong> do professor paraele próprio, para o aluno, para o processo ensino-aprendizagempara a escola como um todo (Witter, 2002a).Alguns destes aspectos são destacados nos trabalhosteóricos organizados por Lipp (2002).A fim de dispor de um quadro de referência sobre aprodução científica envolvendo o professor e o estres<strong>se</strong>foi feita uma pesquisa no PsycArticle, ba<strong>se</strong> de dadosgerenciada pela American Psychological Association,que cobre a publicação efetivada via 47 periódicos demaior relevância na <strong>Psic</strong>ologia. A solicitação foi feitatendo por quesito a relação professor-estres<strong>se</strong>, cobrindoo período de 1987 até 2002 (janeiro/fevereiro). Foramlocalizados apenas 30 documentos indicando que, adespeito de <strong>se</strong> reconhecer a importância da matéria, elatem sido p<strong>ou</strong>co pesquisada. O quadro revel<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> aindamais negativo quando <strong>se</strong> constat<strong>ou</strong> que dois textos nãodiziam respeito à temática em estudo neste trabalhoconforme é explicitado a <strong>se</strong>guir.Embora muito interessante, o trabalho de Town<strong>se</strong>nd,Hicks, Thompson, Wilton, Tuck e Moore (1993) temqua<strong>se</strong> nada em comum com o tema aqui enfocado. Refere-<strong>se</strong>à ênfa<strong>se</strong> dada pelos professores na introduçãoe conclusão de textos informativos e argumentativos,cujas estruturas retóricas influem na compreensão dotexto. Verificaram a qualidade das conclusões. Possivelmentea recuperação na ba<strong>se</strong> de dados incluiu o trabalhode Town<strong>se</strong>d e cols. (1993) porque no resumo aparece:“Teachers... stress the importance of...” Peloexposto, excluiu-<strong>se</strong> da análi<strong>se</strong> o trabalho aqui referido.Também foi excluído da análi<strong>se</strong> um trabalho <strong>se</strong>mautor que apre<strong>se</strong>nta sínte<strong>se</strong> dos currículos dos homenageadosde 1993 pela APA, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, Meehl eSpielberger, <strong>se</strong>m relação com o aqui estudado. A inclusãodeveu-<strong>se</strong> à ênfa<strong>se</strong> (stress) do evento nas realizaçõesdos homenageados. Essas exclusões atestamproblemas ainda não solucionados pelos cientistas dainformação e bibliotecários na alimentação das ba<strong>se</strong>sde dados. Servem também de alerta aos pesquisadoresque recorrem freqüentemente às ba<strong>se</strong>s bibliográficasquanto a possíveis distorções no processo de inclusãode textos nas ba<strong>se</strong>s. Dessa maneira fic<strong>ou</strong>-<strong>se</strong>com 28 trabalhos para <strong>se</strong>rem analisados. Os mesmoscompreendem o período de 1988 até 2001, já que em1987 nenhum trabalho foi incluído na ba<strong>se</strong> pesquisada.Considerando que, em metaciência, a autoria é umbom indicativo de de<strong>se</strong>nvolvimento, que a autoria múltiplaé forte indício de grupos de pesquisa, com maiorpotencial de avanço que o trabalho isolado, foi feita aanáli<strong>se</strong> deste aspecto. Também enfoc<strong>ou</strong>-<strong>se</strong> o gênero dosautores. Posto que a docência é uma profissão predominantementefeminina, pareceu de interes<strong>se</strong> verificar<strong>se</strong> a mulher também prevalece no campo da pesquisasobre o professor.Os resultados aparecem na Tabela 1. Apenas <strong>se</strong>tetrabalhos eram de autoria única <strong>se</strong>ndo os demais deautoria múltipla, portanto é significativa a concentraçãonos trabalhos realizados em equipe (χ² o= 40,96, n.g.l.=1,χ² c=3,84). Este resultado é positivo e na direção esperadaem termos de de<strong>se</strong>nvolvimento científico. Não h<strong>ou</strong>venecessidade de cálculo quanto ao gênero já que foiigual no total, <strong>ou</strong> <strong>se</strong>ja, 28 homens e 28 mulheres produzindona área, além de 10 autores para os quais não foiviável identificar o <strong>se</strong>xo.Foi feita também uma análi<strong>se</strong> da temática enfocadanos referidos artigos, começando pelos participante<strong>se</strong>studados. Em 15 trabalhos, além do professor, os alunostambém mereceram a atenção dos pesquisadores,por vezes <strong>se</strong>ndo o alvo principal; em cinco os pais tambémparticiparam, além de <strong>ou</strong>tros personagens menosfreqüentes. O professor propriamente dito foi objeto deatenção direta <strong>ou</strong> indireta nos 28 estudos, justificando<strong>se</strong>assim a in<strong>se</strong>rção do trabalho na ba<strong>se</strong>.Tabela 1: Freqüência da autoria dos trabalhos sobre Estres<strong>se</strong> e Professor (1987-2002).
Professor-estres<strong>se</strong>: Análi<strong>se</strong> de produção científica 39A qua<strong>se</strong> totalidade dos trabalhos constituiu-<strong>se</strong> deestudos descritivos da relação de estres<strong>se</strong> aqui focalizada,apenas dois enfocaram o efeito da atuação dodocente e em várias pesquisas os professores <strong>se</strong>rviramcomo juízes avaliando o estres<strong>se</strong> <strong>ou</strong> o resultado de condiçõe<strong>se</strong>stressoras <strong>ou</strong> remediativas deste problema nosalunos. Face ao número limitado de trabalhos, foi possívelfazer uma sínte<strong>se</strong> dos mesmos para melhorexplicitação da temática para os leitores. No primeirobloco aparecem os textos em que o docente assume opapel de avaliador, no <strong>se</strong>gundo os trabalhos que enfocammais diretamente o estres<strong>se</strong> do professor.Professor-avaliadorO professor-avaliador é integrante dos estudos a<strong>se</strong>guir descritos. Alguns deles enfocam o estres<strong>se</strong> póstraumático,<strong>se</strong>ndo que o docente também pode aparecercomo membro da equipe de intervenção.Considerando que desastres naturais são eventos quegeram estres<strong>se</strong> pós-traumático com con<strong>se</strong>qüências psicológicas,Olson (2000) lembra que, a partir do começo dadécada de oitenta, do século passado, surgiram <strong>se</strong>rviço<strong>se</strong>specializados na área (Disaster Mental Health Services– DMHS) <strong>se</strong>ndo hoje, nos USA, a 5ª maior divisão entreas várias organizações de voluntários, <strong>se</strong>ndo treinados pelaCruz Vermelha Americana. Em 1982, a AmericanPsychological Association recrut<strong>ou</strong> psicólogos para atuarnos grupos de DMHS e, em 1991, em conexão com oAPA’S Disaster Respon<strong>se</strong> Network, cri<strong>ou</strong> em 50 estadosgrupos treinados para atuar nos DMHS. Es<strong>se</strong>s grupos reúneme treinam <strong>ou</strong>tras pessoas. O autor relata rapidamentea atuação de um des<strong>se</strong>s grupos envolvendo alunos eprofessores que atuaram em um grande desastre. Não háqualquer informação mais relevante do que o fato de docentesterem <strong>se</strong> envolvido, após o treinamento, na avaliaçãoe no atendimento ao público estressado.O estres<strong>se</strong> pós traumático em 92 crianças (da 4ª sériedo 1º grau) que vivenciaram o Furacão Andrew foi estudadopor La Greca, Silverman e Was<strong>se</strong>rtein (1998).Dispunham de medidas anteriores ao evento indicandoansiedade (auto-relato), avaliação de problemascomportamentais (ansiedade, desatenção, comportamento)feita por colegas e professores. Decorridos 3 e7 me<strong>se</strong>s após o desastre repetiram as medidas. Os sintomasde estres<strong>se</strong> pós-traumático pela exposição aodesastre natural ainda estavam pre<strong>se</strong>ntes e afetando ashabilidades acadêmicas. Aqui o professor aparece apenascomo um avaliador do estres<strong>se</strong> na criança.A mesma posição como participante-juíz ocupam osprofessores que participaram do trabalho de Hahn eDiPietro (2001), que avaliaram às cegas o comportamentode mães de crianças resultantes de fertilizaçãoartificial (N=54) e mães de crianças concebidas normalmente(N=54). Os alunos tinham entre três e <strong>se</strong>teanos de idade. Os professores consideraram as mãesdo primeiro grupo mais amorosas, mas nãosuperprotetoras <strong>ou</strong> impositivas. Elas avaliaram <strong>se</strong>us filhoscomo tendo menos problemas do que as criançasdo grupo de controle.Cresce a concordância de que, no atendimento (clínico<strong>ou</strong> não) de uma criança <strong>ou</strong> de um jovem, é necessáriocontar com informações de várias fontes, estabelecera validade das mesmas para superar obstáculostécnico-científicos e profissionais. Há muita controvérsiasobre a validade das diversas fontes de informação.Y<strong>ou</strong>ngstrom, Loeber e St<strong>ou</strong>thamer-Loeber (2000) lembramque clínicos e pesquisadores tendem a perceber oautorelato feito por jovens como a fonte de menor relevânciapara avaliar hiperatividade, desatenção, oposição.Neste caso os professores parecem oferecer dadosmais <strong>se</strong>guros. Todavia, quando <strong>se</strong> trata de conheceros problemas internos, os próprios jovens e os empregadosque cuidam deles são melhores que os professores.Na opinião dos autores h<strong>ou</strong>ve falhas na avaliação. Istolev<strong>ou</strong> os autores a estudarem os padrões de concordânciaentre pais, professor e aluno adolescente noexternalizar/internalizar <strong>se</strong>us problemas. Examinaram394 tríades de jovens masculinos, <strong>se</strong>us cuidadores e professoresquanto à concordância no uso de uma escalaque avalia problemas de jovens. Os professores relataramp<strong>ou</strong>cos problemas de internalização e exteriorização,menos do que fizeram os jovens e os <strong>se</strong>us cuidadores.Os professores avaliaram de forma diferente em funçãodo grupo étnico do aluno. Parece haver um crescenteacordo entre os pesquisados quanto à ocorrênciade depressão e estres<strong>se</strong> no que concerne ao nível dosproblemas, mas não aos padrões específicos dos sintomas.Os professores no pre<strong>se</strong>nte estudo atuaram novamentecomo juizes e o foco foi <strong>sua</strong> competência comoavaliador.Gillmore e Guenwald (1999) discutem o possível viésde avaliação feita pelo próprio aluno, já que professore<strong>se</strong> pesquisadores freqüentemente consideram que os alunosnão fazem boa auto-avaliação, nem avaliamcorretamente as condições de ensino. Revendo a literaturacientífica sobre a matéria, mostram que tal conclu-<strong>Psic</strong>ologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46
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