ANISTIA INTERNACIONAL
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detenção pré-julgamento e 184 meios de<br />
comunicação foram arbitrária e<br />
permanentemente fechados.<br />
No Oriente Médio e Norte da África, a<br />
repressão dos dissidentes foi endêmica. No<br />
Egito, forças de segurança prenderam<br />
arbitrariamente, causaram o<br />
desaparecimento forçado e torturaram<br />
supostos apoiadores da organização proibida<br />
Irmandade Muçulmana, bem como outros<br />
críticos e oponentes do governo. As<br />
autoridades do Bahrein processaram sem<br />
piedade os críticos, sob diversas acusações<br />
referentes à segurança nacional. No Irã, as<br />
autoridades prenderam críticos, censuraram<br />
toda a imprensa e adotaram uma nova lei,<br />
que impede praticamente qualquer crítica ao<br />
governo e suas políticas, sob pena de<br />
processos criminais.<br />
Na Coreia do Norte, o governo ampliou a<br />
repressão, já extrema, fortalecendo ainda<br />
mais o controle que exerce sobre a<br />
tecnologia da comunicação.<br />
Por vezes, medidas austeras foram<br />
simplesmente uma tentativa de mascarar<br />
fracassos do governo, como na Venezuela,<br />
onde o governo tentou silenciar os críticos<br />
em vez de enfrentar a crise humanitária cada<br />
vez pior.<br />
Além dos ataques e ameaças diretos,<br />
houve o total desrespeito a liberdades civis e<br />
políticas já estabelecidas, em nome da<br />
segurança. O Reino Unido, por exemplo,<br />
adotou uma nova lei, a Lei de Poderes<br />
Investigativos, que aumenta<br />
significativamente os poderes das<br />
autoridades para interceptar, acessar, reter e<br />
hackear comunicações digitais e dados sem<br />
nenhuma exigência de suspeita razoável<br />
contra uma pessoa. Ao introduzir um dos<br />
regimes mais amplos de vigilância em massa<br />
de qualquer país do mundo, o Reino Unido<br />
deu um passo significativo em direção a uma<br />
realidade na qual o direito à privacidade<br />
simplesmente não é reconhecido.<br />
No entanto, a erosão dos valores dos<br />
direitos humanos foi, talvez, mais perniciosa<br />
quando os políticos culparam um “outro”<br />
específico por problemas sociais reais ou<br />
percebidos, para justificar suas ações<br />
repressivas. A retórica do ódio, da divisão e<br />
da desumanização liberou os instintos mais<br />
sombrios da natureza humana. Ao jogar a<br />
responsabilidade coletiva por problemas<br />
sociais e econômicos em grupos específicos,<br />
em geral minorias étnicas ou religiosas, os<br />
que detêm o poder deram passe livre para<br />
discriminação e crimes de ódio, em especial<br />
na Europa e nos EUA.<br />
Uma variante disso foi demonstrada pela<br />
enorme perda de vidas resultante da “guerra<br />
contra as drogas” decretada pelo Presidente<br />
Rodrigo Duterte nas Filipinas. A violência<br />
sancionada pelo Estado e os assassinatos em<br />
massa por justiceiros tiraram mais de cinco<br />
mil vidas após o presidente ter aprovado, em<br />
público e repetidas vezes, que pessoas<br />
supostamente envolvidas em crimes<br />
relacionados a drogas fossem mortas.<br />
Quando figuras autodenominadas<br />
“antissistema” culparam as chamadas elites,<br />
instituições internacionais e o “outro” por<br />
dificuldades sociais ou econômicas,<br />
escolheram o remédio errado. A sensação de<br />
insegurança e de revogação de direitos —<br />
que surge de fatores como desemprego,<br />
insegurança no trabalho, desigualdade<br />
crescente e perda de serviços públicos —<br />
exige compromisso, recursos e mudanças<br />
políticas dos governos, e não bodes<br />
expiatórios fáceis de culpar.<br />
Estava claro que muitas pessoas<br />
desiludidas no mundo não buscaram<br />
respostas nos direitos humanos. No entanto,<br />
a desigualdade e a negligência por trás da<br />
raiva e frustração popular surgiram, ao<br />
menos em parte, por conta do fracasso dos<br />
países no cumprimento dos direitos<br />
econômicos, sociais e culturais.<br />
A história de 2016 foi, de certa maneira,<br />
uma história de coragem, resiliência,<br />
criatividade e determinação do povo frente a<br />
ameaças e desafios imensos.<br />
Todas as regiões do mundo tiveram provas<br />
de que quando as estruturas formais de<br />
poder forem usadas para reprimir, as pessoas<br />
encontrarão meios para se impor e serem<br />
ouvidas. Na China, apesar da hostilização e<br />
intimidação sistemáticas, ativistas<br />
encontraram modos subversivos para<br />
12 Anistia Internacional Informe 2016/17