ANISTIA INTERNACIONAL
hym5Zk
hym5Zk
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
quantos fosse possível. Houve incidentes de<br />
maus-tratos para conseguir as digitais,<br />
detenções arbitrárias de migrantes e<br />
expulsões coletivas. Em agosto, um grupo de<br />
40 pessoas, muitas de Darfur, foram<br />
mandadas de volta ao Sudão depois da<br />
assinatura de um Memorando de<br />
Entendimento assinado entre as polícias<br />
italiana e sudanesa. Na chegada ao Sudão,<br />
os migrantes foram interrogados pelo Serviço<br />
de Segurança e Inteligência Internacional<br />
Sudanês, um órgão implicado em sérias<br />
violações de direitos humanos.<br />
A orientação para mandar de volta o<br />
máximo de migrantes possível se tornou cada<br />
vez mais um item central da política exterior<br />
da UE e de seus países membros. Em<br />
outubro, a UE e o Afeganistão assinaram um<br />
acordo de parceria e cooperação chamado<br />
“Joint Way Forward”. A assinatura ocorreu<br />
em uma conferência de doadores. O acordo<br />
obriga o Afeganistão a colaborar na<br />
devolução de solicitantes de refúgio que<br />
tenham sido negados (as taxas de<br />
reconhecimento de refúgio para afegãos caiu<br />
na maioria dos países, apesar da<br />
insegurança crescente no Afeganistão),<br />
inclusive no caso de menores<br />
desacompanhados.<br />
O ponto central para gestão de migração<br />
na política externa da UE foi explicitado em<br />
outro documento, a “Estrutura da Parceria”,<br />
endossado pelo Conselho Europeu em junho.<br />
O plano propunha usar a ajuda humanitária,<br />
o comércio e outros fundos para pressionar<br />
os países a reduzir o número de migrantes<br />
que chegam ao litoral da UE, ao mesmo<br />
tempo em que negociava uma cooperação<br />
no controle das fronteiras e acordos de<br />
readmissão, inclusive com países<br />
responsáveis por violações em série dos<br />
direitos humanos.<br />
A orientação para externalizar a gestão de<br />
migração da Europa veio junto com as<br />
medidas para restringir o acesso ao refúgio e<br />
outros benefícios nacionalmente. Foi possível<br />
constatar a tendência principalmente nos<br />
países nórdicos, antes generosos: Finlândia,<br />
Suécia, Dinamarca e Noruega introduziram<br />
emendas retrógradas à sua legislação sobre<br />
asilo. A Noruega, última a aderir à intenção,<br />
queria garantir a “política de refugiados mais<br />
rígida da Europa”. Finlândia, Suécia e<br />
Dinamarca, bem como a Alemanha,<br />
restringiram ou atrasaram o acesso à<br />
reunificação familiar para os refugiados.<br />
Os estados mais próximos às fronteiras<br />
externas da UE adotaram as medidas mais<br />
rígidas. Em janeiro, o governo austríaco<br />
anunciou um limite de 37.500 pedidos de<br />
refúgio para o ano. Em abril, uma emenda à<br />
Lei de Asilo concedeu ao governo o poder de<br />
declarar uma emergência em caso de<br />
chegada de um grande número de<br />
solicitantes de refúgio, o que acionaria o<br />
processamento acelerado de pedidos na<br />
fronteira e a devolução, sem motivos<br />
razoáveis, dos rejeitados.<br />
A deterioração do sistema de asilo da<br />
Europa atingiu seu ponto mais baixo na<br />
Hungria. Depois de construir uma cerca na<br />
maior parte de sua fronteira com a Sérvia em<br />
setembro de 2015 e fazer uma emenda em<br />
sua legislação sobre refúgio, em 2016 o<br />
governo húngaro criou um conjunto de<br />
medidas que resultou em resistência violenta<br />
na fronteira com a Sérvia, detenções ilegais<br />
no país e condições de sobrevivência ruins<br />
para quem aguardava na fronteira. Enquanto<br />
o governo húngaro gastou milhões de euros<br />
com publicidade xenófoba em apoio ao<br />
referendo, que acabou por ser anulado, para<br />
rejeitar o plano de realocação da UE, os<br />
refugiados foram esquecidos, ficando cada<br />
vez mais debilitados. A Comissão Europeia<br />
iniciou procedimentos por conta das diversas<br />
infrações da legislação internacional e da UE<br />
sobre asilo. Esses procedimentos<br />
continuavam abertos no final do ano.<br />
No lado oposto da Europa, na França, o<br />
aumento dos migrantes e solicitantes de<br />
refúgio no campo conhecido como “Selva”<br />
em Calais, e o seu desmantelamento em<br />
outubro se tornaram símbolo do fracasso das<br />
políticas de migração da Europa, do mesmo<br />
modo que os campos superlotados nas ilhas<br />
gregas de Lesbos e Chios e os abrigos<br />
temporários em frente às cercas de<br />
concertina.<br />
Anistia Internacional Informe 2016/17 43