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(obter o nirvana é como localizar o silêncio) e tive uma visão antiga de Buda

Dipankara que também foi Buda que nunca disse nada, Dipankara como uma

vasta Pirâmide de Buda coberta de neve, com sobrancelhas loucas pretas e cheias

como as de John L. Lewis e um olhar terrível, tudo em um lugar antigo, em

um campo nevado ancestral como Alban (“Um campo novo!”, berrara a

pregadora negra), aquela visão toda fez meus pêlos se arrepiarem. Lembro-me

do grito final mágico e estranho que aquilo evocou em mim, seja qual for seu

significado: Colialcor. Aquilo, a visão, era desprovida de qualquer sensação de

eu ser eu mesmo, era a sensação pura do não ego, simplesmente atividades

etéreas e loucas desprovidas de qualquer predicado errado… desprovidas de esforço,

desprovidas de erro. “Tudo está bem”, pensei. “A forma é o vazio e o vazio

é a forma e estamos aqui para sempre em uma forma ou outra que é o vazio. A

realização dos mortos, esta calmaria farta da Terra Puramente Desperta.”

Senti vontade de gritar sobre os bosques e os telhados da Carolina do Norte

para anunciar a verdade gloriosa e simples. Então disse: “Tenho a minha

mochila cheia e já é primavera, vou em direção ao sudoeste para a região seca,

para a extensa região solitária do Texas e de Chihuahua e as ruas alegres da

noite do México, música saindo das portas, garotas, vinho, maconha, chapéus

malucos, viva! Que diferença faz? Como as formigas que não têm nada a fazer

além de ficar cavando o dia inteiro, eu não tenho nada a fazer além daquilo que

tiver vontade e ser gentil e continuar, ainda assim, influenciado por julgamentos

imaginários e rezar pela luz”. Sentado no meu gazebo de Buda, portanto,

naquele muro “colialcor” de flores cor-de-rosa e vermelhas e branco-marfim

“colialcor”, entre aviários de pássaros mágicos e transcendentais que reconhecem

minha mente desperta com doces e estranhos trinados (a cotovia sem

rumo), no perfume etéreo, misteriosamente ancestral, a beatitude dos campos

de Buda, percebi que minha vida era uma vasta página brilhante e vazia e que eu

podia fazer qualquer coisa que desejasse.

Por certo “colialcor” é um mistério – me faz lembrar de Koorookoolleh, o

nome da deusa bodisatva vermelho-rubi que é o arquétipo da compaixão apaixonada.

Ela paira em uma pose de dança, nua em pelo, exceto por guirlandas de

flores, e segura um arco de flor com corda de abelha, lançando flechas de flores

para abrir o coração dos seres. Mas não estou dizendo que seja isso que a espantosa

palavra de Kerouac realmente signifique. Talvez seja o nome do “campo de

buda” que ele criará no dia em que aperfeiçoar seu “navio-despertador”. D. T.

Suzuki era engraçado. Quando, ao encontrá-lo, Jack supostamente perguntou se

poderia ficar com ele para sempre, o mestre respondeu: “Um dia”. Sempre se

pode ter uma noção de como alguém realmente se sente pelo modo como

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