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Kerouac não tenta esconder o uso copioso de suas fontes, assinalando no

começo, na Nota do Autor: “Não há jeito de separar e nomear as incontáveis

fontes que jorraram para este lago de luz... O coração do livro é um précis ornamentado

do poderoso Surangama Sutra.” (O primeiro “s” do nome deveria ser

escrito “sh” para ficar foneticamente acurado sem um sinal diacrítico.) “Projetei

este livro para ser um manual para o entendimento ocidental da antiga lei.” (Ele

usa “lei” para “Darma” como os tradutores antigos, o que não está errado no

geral, mas é inexato nesse contexto; deveria ser “verdade” ou “ensinamento”.)

“O propósito é converter.” (Aqui Kerouac por certo não quer alistar as pessoas

em qualquer denominação budista formal, mas sim convertê-las ao propósito

essencial da vida, à grandiosa visão de sabedoria da divindade interior, e ao

amor e à bondade naturais nos relacionamentos.)

Kerouac também recorre fartamente às fontes em páli sobre a vida de Buda,

antigas na forma oral mas que só foram registradas por escrito no século V, e ao

poema biográfico do século II Buddhacharita, do grande Asvhaghosha. Ele

tende a misturar alguns detalhes das várias versões da vida de Buda, convencionalmente

datada de 563-482 a.C. (embora os tibetanos datem-na no século

IX a.C. e eruditos europeus recentes a tenham deslocado para o século IV a.C.).

Não vou me preocupar com tais detalhes, mas apenas ressaltar alguns aspectos

do texto que considero particularmente belos.

No início do livro, Kerouac diz: “Buda significa o desperto. Até recentemente

a maioria das pessoas pensava em Buda como uma figura rococó grande

e gorda sentada com a barriga de fora, rindo, conforme representado em milhões

de bugigangas para turistas e estatuetas de lojas baratas aqui no mundo

ocidental. (...) Esse homem não era um tipo folgazão de aspecto relaxado, mas

um profeta sério e trágico, o Jesus Cristo da Índia e de quase toda a Ásia. Os

seguidores da religião que ele fundou, o budismo, a religião do grande despertar

do sonho da existência, somam centenas de milhões hoje em dia.” Não estou

muito certo sobre por que Kerouac achava Buda “trágico” em vez de triunfante,

como de fato ele parecia sentir na visão que reconta no trecho citado de Os vagabundos

iluminados. Talvez por causa da primeira nobre verdade de Buda, segundo

a qual a “vida não iluminada está fadada a ser frustrante, e assim toda de

sofrimento”. Quando Kerouac diz que Buda era “o Jesus Cristo da Índia e de

quase toda a Ásia”, repete sua apostasia do catolicismo ortodoxo ao colocar os

dois no mesmo nível.

Poucas páginas adiante, Kerouac mostra sua percepção dos “quatro reinos

da não forma” e o fato de que nenhum deles é nirvana: “Alara Kalama [o

primeiro professor asceta do jovem Buda Sidarta] explicava o ensinamento

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