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íntegra. Kerouac alterna entre a citação de fontes em páli e seus “ornamentos”.
Vou pegar umas poucas passagens.
O eremita abençoado foi para Budhgaya. No mesmo instante foi possuído
pelo antigo sonho dos budas de outrora ao fitar os nobres bosques de palmeiras
e mangueiras e ficus religiosa; na tarde ondulante ele passou por baixo de seus
galhos, solitário e estonteado, ainda que com um arrebatamento de premonição
em seu coração de que algo grandioso estava prestes a acontecer ali (...) redescobrindo
o antigo e perdido caminho do Tathagata (Ele do Estado da
Talidade); re-revelando a gota de orvalho primordial do mundo; como o cisne
da piedade passando pelo tanque do lótus, e, ao se acomodar, grande alegria
tomou conta dele à vista da árvore sob a qual escolheu sentar-se como que em
conformidade com todas as terras de buda e coisas de buda reunidas que são
coisa-nenhuma na vacuidade da intuição cintilante por toda parte, como
enxames de anjos e bodisatvas em densidade semelhante a mariposas
irradiando-se infinitamente rumo ao centro do vazio em ADORAÇÃO. “Todo
lugar é aqui”, intuiu o santo. (...) “NÃO VOU LEVANTAR DESTE LUGAR”, decidiu
consigo mesmo, “ATÉ QUE, LIVRE DO APEGO, MINHA MENTE ATINJA
A LIBERAÇÃO DE TODA DOR.”
Muitas palavras foram escritas sobre esse momento sagrado no agora
famoso local embaixo da árvore bodhi, ou árvore da sabedoria. Não foi uma agonia
no jardim, foi uma bem-aventurança debaixo da árvore. (Aqui está a comparação
de Kerouac com Cristo.) Não foi a ressurreição de nada, mas a
aniquilação de todas as coisas. (Ele desliza para o dualismo de relativo-absoluto
do Theravada.) Veio a Buda naquelas horas a compreensão de que todas as
coisas vêm de uma causa e vão para a dissolução, e portanto todas as coisas são
impermanentes, todas as coisas são infelizes e, por conseguinte e mais misterioso,
todas as coisas são irreais. (Eis aqui a apreensão de Kerouac do insight
budista essencial da causação: ele mais adiante chega ao famoso verso, o
mantra-chave de todo o budismo.)
Ao cair da noite ele repousou em paz e quietude. Entrou em uma contemplação
profunda e sutil. Todo tipo de êxtase sagrado passou em sequência diante
de seus olhos. Durante a primeira vigília da noite ele entrou na “percepção correta”,
e a recordação de todos os nascimentos anteriores passou diante de seus
olhos. (...) Sabendo muito bem que a essência da existência é a talidade, qual
nascimento poderia não ser lembrança de sua essência da mente luminosa, misteriosa,
intuitiva? Como se ele tivesse sido todas as coisas, e apenas porque