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Seguido por seus numerosos discípulos o Abençoado desceu a Rajagriha, a
capital de Magadha.
Lá, o rei Bimbisara, que originalmente havia indagado o príncipe sobre a
conveniência de deixar o palácio pela vida sem lar e depois o fizera prometer
voltar a Rajagriha se um dia descobrisse a sabedoria perfeita, foi com seus conselheiros,
generais, sacerdotes brâmanes e comerciantes ao local onde o honrado
pelo mundo agora permanecia em um bosque sossegado. Quando o rei e
seus acompanhantes viram o famoso Uruvilva Kasyapa com o Abençoado,
indagaram-se sobre o que havia acontecido. Mas Kasyapa esclareceu tudo
prostrando-se aos pés do Abençoado, e explicou como, depois de ver a paz do
nirvana, não mais conseguiu achar encanto em sacrifícios e oferendas “que não
prometiam recompensas melhores que prazeres e mulheres”, como afirmou o
velho escritor. Pois para esses antigos monges, Buda, percebendo claramente o
nascimento como causa da morte e os atos de luxúria como causa de nascimento,
era como alguém parado na margem chamando o homem mundano à
deriva na correnteza: “Ei, você aí! Desperte! O rio em seu sonho pode parecer
agradável, mas abaixo há um lago com corredeiras e crocodilos, o rio é o desejo
maligno, o lago é a vida sensual, suas ondas são a raiva, suas corredeiras são a
luxúria, e os crocodilos são as mulheres.”
Buda, estudando a pessoa e depois ensinando a lei, percebeu que o rei e
seus orgulhosos acompanhantes eram homens que possuíam riqueza e poder,
mas tinham ido vê-lo devido a uma dúvida considerável de que aquilo no fim
pudesse ser de alguma utilidade para eles. Verdadeiramente iluminado, ele
mostrou que não havia individualidade a respeito de riqueza ou pobreza, nem
de iluminação ou ignorância, não, nem tampouco de estar vivo ou estar morto.
Ele ensinou que um homem não passa de um amontoado de componentes.
“Feita uma fortaleza de ossos, depois ela é coberta de carne e sangue, e ali
habitam velhice e morte, orgulho e engano.
“Olhem para esse trambolho vestido, coberto de feridas, um amontoado,
doentiamente cheio de esquemas variados, mas que não tem vigor, nem poder.
“Não existe lugar para ‘eu’ nem base para enquadrá-lo; de modo que,
reconhecendo-se toda massa acumulada de dor – dores nascidas da vida e da
morte – como atributos do corpo, e visto que esse corpo não é ‘eu’ nem oferece
base para o ‘eu’, chega-se então ao grande superlativo, a fonte de paz sem fim.
“O pensamento de ‘eu’ dá origem a todas essas dores, atando o mundo
como que com cordas, mas, tendo se verificado que não existe um ‘eu’ que possa
ser atado, todos os vínculos são então cortados.
“Não existem vínculos de fato – eles desaparecem – e ver isso é a libertação.