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noite, lembrando de seu filho com orgulho, ele olhou para as estrelas infinitas e

de súbito compreendeu: ‘Como fico alegre por estar vivo para reverenciar este

universo estrelado!’, e então: ‘Mas não se trata de estar vivo, e o universo estrelado

não é necessariamente o universo estrelado’, e ele percebeu a completa estranheza

e não obstante a trivialidade da sabedoria insuperável de Buda.”

Ali pela terça parte de Despertar, Kerouac descreve Buda como o supremo

“vagabundo do Darma” em uma passagem inacreditavelmente brilhante que me

sinto compelido a repetir:

Buda aceitava tanto comida boa quanto ruim, o que quer que aparecesse, de

ricos ou pobres, sem distinção, e, tendo enchido seu prato de esmolar, então

voltava para a solidão, onde meditava em sua prece pela emancipação do mundo

do desgosto bestial e das incessantes ações sangrentas de morte e nascimento,

morte e nascimento, das ignorantes guerras rangentes e clamorosas, da matança

de cachorros, das histórias, asneiras, pai batendo no filho, criança atormentando

criança, amante arruinando amante, ladrão atacando sovina, palermas

sanguinários olhando de esguelha, petulantes, loucos, dementes, gemendo por

mais luxúria sangrenta, bêbados completos, simplórios correndo para cima e

para baixo entre sepulturas de sua própria autoria, sorrindo afetados por toda

parte, meros tsorises e estalos de sonho, uma besta monstruosa despejando

formas de uma pletora central, tudo enterrado em escuridão insondável crocitando

pela esperança otimista de que só pode haver extinção completa, de base

inocente e sem qualquer vestígio de qualquer natureza do eu que seja; pois, caso

fossem removidas as causas e condições da insanidade ignorante do mundo, a

natureza de sua não ignorância não insana seria revelada, como o filho da madrugada

entrando no céu através da manhã no lago da mente, a mente pura, verdadeira,

a fonte, essência original perfeita, a radiância do vácuo vazio, divina

por natureza, a única realidade, imaculada, universal, eterna, cem por cento

mental, sobre a qual é gravada toda essa escuridão cheia de sonho, sobre a qual

essas formas corpóreas irreais aparecem pelo que parece um momento e então

desaparecem pelo que parece a eternidade.

Na metade do livro, Kerouac recita seu refrão: “Por toda parte tudo é para

sempre vazio, despertem! A mente é tola e limitada para tomar esses sentidos,

adversidades insignificantes em um sonho, como realidade; como se as profundezas

do oceano fossem movidas pelo vento que agita as ondas. E esse vento é a

ignorância.” E mais adiante: “Tudo está acontecendo em sua mente, como um

sonho. Tão logo você desperta e para de sonhar, sua mente retorna à vacuidade

e pureza originais. Na verdade, sua mente já retornou à vacuidade e pureza

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