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decisiva para transformar os seres sencientes em bobos deploráveis de
sensações falsas desde tempos sem princípio.
“Ocorre o mesmo com sua percepção da audição; é a percepção falsa dos
ouvidos.”
“Como assim, meu Senhor?”
“Ananda, são os ouvidos, não a percepção intrínseca da mente, que estão
sujeitos a equívocos falsos. Um homem com ouvidos doentes ouve um ronco na
cabeça, mas não é sua mente essencial imperturbável que desenvolve o ronco, é
sua mente-cérebro discriminando de acordo com os ouvidos doentes. Da mesma
forma, ouvidos saudáveis ouvem o som, que é imaginário, no espaço vazio.
Saiba então: é porque os ouvidos estão naturalmente investidos da percepção
falsa de som que tudo o que você ouve com seus ouvidos é uma marola falsa.
Tem sido assim com os ouvidos desde tempos sem princípio; o simples fato de
você ter ouvidos é parte do seu carma, sua herança de ações ignorantes cometidas
em algum outro momento.
“Mas não fique perturbado, Ananda. Visto que é apenas uma questão de
tempo até você abandonar esses ouvidos, então você já os abandonou.
“Quando você me ouve bater o gongo, as assim chamadas vibrações
chocam-se com seu tímpano auditivo e você percebe o som do gongo, mas onde
está a fonte desse som? Ananda, é pura e simplesmente um som completamente
falso e fantástico. E por quê? Porque, se esse som tivesse sua fonte em seus
ouvidos, naturalmente não estaria no gongo, e seus ouvidos perceberiam o som
o tempo todo e não seria preciso esperar pelo bater do gongo. Ou então, se o
som pertencesse ao gongo e dependesse do gongo e tivesse sua fonte no gongo, e
fosse o movimento das ondas sonoras a partir do gongo que estivesse desenvolvendo
o som, como então seus ouvidos poderiam conhecê-lo mais do que o
bastão que bate no gongo? Se o som não veio nem dos ouvidos nem do gongo, é
como as flores imaginárias no céu, uma fantasia no espaço vazio, marolas que os
seres sencientes discriminam e chamam de som. O sábio deixa de considerar
aparências e nomes como realidades. Quando aparências e nomes são deixados
de lado e toda discriminação cessa, aquilo que resta é a natureza verdadeira e
essencial das coisas, e, como nada pode ser afirmado quanto à natureza da essência,
ela é chamada de ‘talidade’ da realidade. A ‘talidade’ universal, indiferenciada,
inescrutável, é a única realidade, mas é caracterizada de maneiras variadas
como verdade, essência da mente, inteligência transcendental, nobre
sabedoria e assim por diante. Essa lei da ausência de imagem e ausência de som
da natureza essencial da realidade última é a lei que foi proclamada por todos os
budas. Tão logo cessam o bater e martelar extravagantes e os movimentos