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vêm depois da meditação sagrada mais elevada para poder usá-las como magia

poderosa, até mesmo contra Buda, caso necessário, em seus planos de fundar

uma nova seita ele mesmo. As graças do samapatti incluíam telepatia transcendental.

A avareza maligna de Devadatta não ficou aparente naquele primeiro encontro

nos jardins de Gorakpur. Olhando todos os seres como igualmente amados,

igualmente vazios e igualmente futuros, para o Abençoado fazia pouca

diferença o que Devadatta nutria em seu coração no momento da ordenação.

Mesmo mais tarde, depois de Devadatta atentar contra a vida de Buda, como

será mostrado, com poderosa doçura o Exaltado abençoou seu coração interior.

O professor e seus discípulos avançaram para Rajagaha, onde foram recebidos

pelo imensamente rico mercador Sudatta, que era chamado de Anathapindika

por conta da caridade aos órfãos e pobres. Esse homem havia acabado de

comprar por enorme quantia o magnífico Parque de Jetavana de um príncipe

real e construiu um mosteiro esplêndido com oitenta celas e outras residências

com terraços e banhos para Buda e seus discípulos ordenados. O Abençoado

aceitou o convite e fez ali sua morada, bem na saída da grande cidade de

Sravasti. Durante as estações da chuva ele voltava a Rajagaha para ficar no

mosteiro do Bosque de Bambu.

A maior parte do tempo ele passava em solidão na floresta; os outros

monges sentavam-se separados, também praticando meditação, sorvendo o exemplo

de tremendo silêncio repleto de amor que emanava da parte da floresta

onde Buda sentava-se meigo em um trono de grama, sofrendo por muito tempo

sob a paciência da árvore que o abrigava. Às vezes essa vida era agradável

(“Florestas são deliciosas; onde o mundo não encontra deleite, ali o desprovido

de paixão encontrará deleite, pois não procura prazeres”); às vezes não era

agradável:

“Fria, mestre, é a noite de inverno”, cantavam os monges. “A época do gelo

está chegando; duro é o solo com a trilha dos cascos do gado; tênue é o leito de

grama e leve é o manto amarelo: o vento de inverno sopra cortante.” Mas esses

homens, assim como seus antepassados santos na longa tradição das Índias,

haviam se animado e despertado a si mesmos para a dignidade incomparável de

saber que havia coisas piores do que a mosca que pica, a serpente que se

esgueira, a chuva gelada do inverno ou o vento escorchante do verão. Tendo escapado

do desgosto da luxúria e dissipado as nuvens e névoas do desejo sensual,

Buda aceitava tanto comida boa quanto ruim, o que quer que aparecesse, de ricos

ou pobres, sem distinção, e, tendo enchido seu prato de esmolar, então

voltava para a solidão, onde meditava em sua prece pela emancipação do

mundo do desgosto bestial e das incessantes ações sangrentas de morte e

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