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“Com a luxúria a toldar o coração de um homem, confundido com a beleza

de uma mulher por causa da masculinidade em seu carma, a mente dele fica

aturdida; no fim da vida, tendo se rebaixado com mulheres por umas poucas

sensações sexuais, malignamente envolvido na cilada do consentimento mútuo

que é o deleite maior dela, esse homem pode cair em um mau caminho.

“Com a vida gasta em casa e no lar, uma vida no máximo trivial, ele chega à

senilidade balbuciando encantamentos, religioso por causa do arrependimento.

“Temam portanto a dor desse mau caminho! Temam portanto, e não acolham

os logros das mulheres!

“Não deixem um homem sagrado ser causa de mais renascimento; pois assim

como doze é igual a uma dúzia, o nascimento é igual à morte.

“Abstenham-se de olhar para as formas dela; endireitem seus pensamentos.

“Suponham que haja uma donzela da classe dos guerreiros ou dos brâmanes

ou dos chefes de família, em todo o encanto de seus quinze ou dezesseis

verões; não muito alta, nem muito baixa, não muito esguia, nem muito corpulenta,

não muito morena, nem muito loira – nessa fase ela não está em sua

forma e aparência mais adoráveis? Quaisquer que sejam o prazer e satisfação

surgidos da vista dessa beleza e encanto – esses são os deleites da forma.

“Suponham então que, depois de um tempo, vejam de novo essa mesma

irmã inocente quando ela tiver oitenta ou noventa ou cem anos de idade,

alquebrada, recurvada como um caibro de telhado, arqueada, avançando cambaleante

apoiada numa bengala, definhada, murcha, toda enrugada e coberta de

pústulas, com dentes quebrados, cabelo cinzento, cabeça trêmula. O que acham,

monges? Aquela antiga graça de formas e aparência – não desapareceu e deu

lugar à desolação?

“Além disso, se vissem essa irmã doente, sofrendo, afligida por chagas,

jazendo emporcalhada em sua própria imundície, erguida por outros, atendida

por outros – o que acham, monges? O que outrora era beleza e graça não desapareceu

por completo dando lugar à devastação?

“Além disso, deveriam ver essa irmã após o corpo jazer no local de sepultamento

por um, dois ou três dias, intumescido, descorado, putrefato, bicado por

corvos, falcões e abutres, devorado por cães e chacais e todos os tipos de coisas

rastejantes. Ou deveriam ver o corpo quando é apenas um esqueleto salpicado

de sangue, com farrapos de carne pendentes, ou quando os ossos estão todos espalhados

aqui e ali, ou quando, brancos como conchas do mar, são jogados em

uma pilha, ou quando, após um ano, viram pó pela ação do tempo.

“O que acham, monges?

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