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fosse uma folha de grama em sua mão. Eles viram que todos os fenômenos
mundanos nada mais eram que sua mente de iluminação maravilhosa, inteligente,
original, os corpos físicos gerados por seus pais pareciam partículas de
poeira sopradas pelo espaço aberto dos dez quadrantes dos universos. Quem repararia
na existência deles? O corpo físico era como uma partícula de espuma
flutuando por um vasto oceano sem rota, com nada de distintivo para indicar de
onde vinha e, caso desaparecesse, para onde teria ido. Eles perceberam muito
claramente que haviam, enfim, obtido sua mente maravilhosa, uma mente que
era permanente e indestrutível.
Além disso, quando comparamos a descrição da iluminação de Ananda no
Shurangama com a descrição de Kerouac em Os vagabundos iluminados,
vemos por que ele disse que as longas citações do sutra eram o coração da
biografia:
De repente pareceu que todas as árvores do Parque de Jeta e todas as ondas
quebrando nas margens de seus lagos estavam cantando a música do Darma, e
todos os raios de luminosidade entrecruzados eram como uma rede de esplendor
cravejada de joias curvando-se sobre todos eles. Uma visão tão maravilhosa
jamais havia sido imaginada pelos devotos sagrados reunidos, e aquilo manteve
a todos em silêncio e reverência. Eles adentraram de modo involuntário na paz
bem-aventurada do samádi de diamante, isto é, cada um ouviu imediatamente o
intenso e misterioso estrondo do silêncio, toda a multidão de 1.233 pessoas, e
sobre todos eles pareceu cair como que uma chuva gentil de pétalas delicadas de
flores de lótus de diferentes cores – azul e carmim, amarelo e branco –, todas
misturadas e refletidas no espaço aberto do céu em todos os matizes do espectro.
Além disso, todas as diferenciações de montanhas na mente deles, e de
mares e rios e florestas do mundo de sofrimento saha mesclaram-se umas nas
outras e se desvaneceram, deixando apenas a unidade adornada de flores do
cosmos primal. No centro de tudo isso, sentado sobre um lótus puro, eles viram
o Tathagata, o já-assim, a pérola e o pilar do mundo.
O ponto do sutra em que Manjusri exorta Ananda na prática contemplativa
de voltar-se para dentro de si poderia muito bem fundamentar o alegado método
de Kerouac de escrever no fluxo direto da consciência, que ele poderia considerar
que fosse a mente não discriminativa fluindo nas formas de vacuidade
não dual do mundo.