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ensinamento chamado “o reino do nada” e praticava automortificação para provar
que estava livre do corpo. O jovem e novo muni do clã Sakya seguiu o exemplo
com avidez e energia. Mais tarde, para seus discípulos, ele recontou aquelas
experiências iniciais de automortificação. “Alimentei meu corpo com musgo,
grama, esterco de vaca, vivi de frutas silvestres e raízes da selva, comendo apenas
frutos caídos das árvores. Usei vestes de cânhamo e pelo, bem como trapos
remendados do ossário, farrapos provenientes dos montes de corpos.
Embrulhei-me nas peles e couros abandonados de animais; cobri minha nudez
com porções de grama, cascas e folhas, com um pedaço da cauda ou crina de algum
animal selvagem, com a asa de uma coruja. Também arrancava o cabelo e a
barba, pratiquei a austeridade de tirar os pelos da cabeça e do rosto pela raiz.
Fiz o voto de ficar sempre em pé, sem jamais sentar ou deitar. Limitei-me a ficar
perpetuamente acocorado sobre os calcanhares, pratiquei a austeridade do
agachamento contínuo sobre os calcanhares. Ficava ‘ladeado por espinhos’;
quando deitava para descansar, era com espinhos sobre meus flancos – dirigime
para um certo bosque sombrio e horrível e naquele local fiz minha morada.
E lá naquela floresta densa e atemorizante reinava tal horror que quem quer
que, sem controle dos sentidos, entrasse naquele lugar pavoroso, ficaria com os
cabelos em pé de terror.” Por seis anos com Alara Kalama e posteriormente com
os cinco eremitas mendicantes perto de Uruvela, na Floresta da Mortificação,
ele que se tornaria Buda praticou aqueles exercícios inúteis e medonhos junto
com uma penitência de inanição tão severa que “tornaram-se como restos de
juncos secos todos os meus membros, como casco de camelo minhas ancas,
como uma corda ondulada minha espinha e, assim como numa casa em ruínas
os caibros em declive da cumeeira estão todos à mostra, minhas costelas inclinadas
ficavam aparentes devido ao rigor do jejum. E quando eu tocava na superfície
de minha barriga, minha mão tocava minha espinha, e quando alisava
meus membros, os pelos com a raiz morta saíam em minhas mãos.”
Finalmente, ao tentar banhar-se um dia no Nairanjana, ele desmaiou na
água e quase se afogou. Ele percebeu que aquele método extremo de encontrar
salvação era apenas outra forma lamentável de ignorância; viu que era apenas o
lado oposto da moeda da existência que numa face mostrava luxúria extrema,
na outra abstinência extrema; de um lado, o extremo da concupiscência lasciva e
do enfraquecimento dos sentidos, embotando o coração da sinceridade, e do
outro, o extremo da coerção empobrecida e da privação do corpo, também embotando
o coração da sinceridade pela faceta oposta da mesma ação arbitrária e
de causa ignorante.