20.05.2020 Views

jack-kerouac-despertar-uma-vida-de-buda-em-portuguc3aas1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

4/127

textos em vastas “bibliotecas de Alexandria” de vários andares – foram destruídos

pelas invasões e ocupações islâmicas persas e turcas do subcontinente indiano,

e, além disso, a grande mãe das civilizações foi obscurecida por ondas de

invasão, dominação e exploração cristãs europeias.

Não creio que eu tenha lido On the Road antes, coisa que fiz para este trabalho,

e não creio que teria gostado muito do aspecto de vigarista manhoso de

Dean Moriarty, embora minhas caronas e perambulações frenéticas de Nova

York à Califórnia iniciadas em 1958 e estendendo-se intermitentemente até 1961

fossem de algum modo semelhantes. Contudo, jamais pulei em um trem de

carga e admiro Kerouac por seu conhecimento e coragem para fazer isso.

Uma questão que aparentemente pairou sobre Kerouac é se ele realmente

entendia bastante do Darma, como se não fosse de fato genuíno em seu entendimento

sobre a iluminação ou coisa assim. Ouviu-se Alan Watts dizer que ele poderia

ter tido “alguma carne Zen, mas nenhum osso Zen”, referindo-se ao título

de uma obra de outro escritor do Zen, o formidável Paul Reps. E Gary Snyder,

que passou anos em mosteiros Zen e hoje em dia é uma espécie de mestre Roshi

do Zen, bem como poeta, talvez tenha pensado que Kerouac não captou direito a

mensagem, embora permanecesse sendo um amigo querido. Não há dúvida de

que o trágico vício do álcool, que abreviou sua vida e seu trabalho aos 47 anos de

idade, é a evidência de que, fosse qual fosse a iluminação que ele houvesse obtido,

era desprovida do estado de buda perfeito, pois budas em geral não bebem

até morrer prematuramente, visto que tal coisa não ajuda ninguém, sendo que

ajudar é exatamente o que os budas fazem com naturalidade. Mas quem realmente

pode reivindicar essa espécie de transmutação física transcendente e essa

transmutação mental cósmica? Na vasta literatura psicológica dos budistas, existem

muitas análises sobre os vários estágios de iluminação; de acordo com

elas, é possível estar iluminado em certo grau e ainda assim ser vítima de defeitos

humanos. De fato, uma pessoa torna-se um bodisatva, ou herói da iluminação,

ao fazer com sinceridade o voto de se tornar perfeitamente iluminada em

alguma vida futura, próxima ou distante, a fim de desenvolver o conhecimento e

a capacidade para libertar do sofrimento todos os seres sensíveis. Ou seja: nem

todos os bodisatva são entidades celestiais ou divinas. Muitos são humanos, demasiado

humanos.

O que pode ter tornado Kerouac menos aceito entre os primeiros budistas

da Califórnia – Gary Snyder, Alan Watts e outros – foi não ter ficado tão atraído

pela linha Ch’an/Zen, embora adorasse as obras de Han Shan, as meditações

poéticas da “montanha gelada” transmitidas por Snyder. Kerouac ficou mais comovido

com a linha indiana Maaiana, que emerge tanto da presente obra, a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!