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“Embora toda terra pudesse ser movida e abalada, esse lugar ficaria fixo e estável.”

Era o mês de maio na Índia, na hora conhecida como “poeirada de vaca”,

quando o ar fica dourado como grãos, cálido e sonhador, e todas as coisas e bestas

exalam sua fé em crepúsculos de calma mental natural.

Muitas palavras foram escritas sobre esse momento sagrado no agora

famoso local embaixo da árvore bodhi, ou árvore da sabedoria. Não foi uma agonia

no jardim, foi uma bem-aventurança debaixo da árvore; não foi a ressurreição

de nada, mas a aniquilação de todas as coisas. Veio a Buda naquelas horas

a compreensão de que todas as coisas vêm de uma causa e vão para a dissolução

e, portanto, todas as coisas são impermanentes, todas as coisas são infelizes

e, por conseguinte e mais misterioso, todas as coisas são irreais.

Uma fria brisa refrescante surgiu quando ele percebeu que tudo havia florescido

da mente, brotado das sementes do falso pensamento na base divina da

realidade, e ali ficava o sonho totalmente deplorável e desalentador. “Bestas

quietas e silentes assistiram em assombro.” Tentações de se levantar e ir para algum

outro lugar e desistir daquele meditar fútil debaixo de árvores encheram a

mente de Buda; ele reconheceu essas tentações como obra de Mara, o tentador,

o demônio indiano, e recusou-se a se mexer. Até mesmo o medo passou por sua

cabeça, febres imaginárias de que estava acontecendo alguma coisa às suas costas,

diante de seus olhos fechados: impassível como um homem observando crianças

a brincar, ele deixou essas dúvidas e perturbações, como bolhas, sumirem

de volta na origem de vacuidade do mar mental.

Ao cair da noite ele repousou em paz e quietude. Entrou em uma contemplação

profunda e sutil. Todo tipo de êxtase sagrado passou em sequência diante

de seus olhos. Durante a primeira vigília da noite ele entrou na “percepção correta”,

e a recordação de todos os nascimentos anteriores passou diante de seus

olhos.

“Nascido em tal lugar, com tal nome, até o presente nascimento, de modo

que ele conheceu todos os seus nascimentos e mortes através de centenas, milhares,

miríades.”

Sabendo muito bem que a essência da existência é a talidade, qual nascimento

poderia não ser lembrança de sua essência da mente luminosa, misteriosa,

intuitiva? Como se ele tivesse sido todas as coisas, e apenas porque nunca

tinha havido um verdadeiro “ele”, mas todas as coisas, e assim todas as coisas

eram a mesma coisa, e estavam dentro da esfera da mente universal, que era

passado, presente e futuro da apenas mente.

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