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“Raiva! Como ela muda o rosto gracioso, como destrói o encanto da beleza!”

Assim como uma serpente subjugada por encantamentos brilha com a pele

cintilante, os guerreiros de Likkhavi foram abrandados pelas palavras do

Abençoado e prosperaram em paz em seu vale adorável. Encontraram alegria na

quietude e no isolamento, meditando apenas sobre a verdade religiosa.

“Que monge, ó monges, contribui para a glória do Bosque de Gosinga?”,

disse Buda para Sariputra, para Maudgalyayana, para Ananda, para Anuruddha,

para Revata e para Kasyapa em uma noite límpida bafejada por fragrâncias no

bosque celestial. “É o monge, ó monges, que, tendo retornado de sua ronda de

esmola e feito sua refeição, senta-se sobre as pernas cruzadas, corpo ereto, e se

transporta a um estado de serenidade: ‘Não vou me erguer deste lugar’, ele resolve

dentro de si, ‘até que, livre do apego, minha mente atinja a libertação de

todo veneno’. Esse é o monge, ó monges, que contribui de verdade para a glória

do Bosque de Gosinga.”

A verdade é mais velha que o mundo, mais pesada que a história, uma

perda maior que o sangue, uma dádiva maior que o pão.

Em seu 80o ano como Buda Nirmanakaya, caminhando sobre o terraço da

terra, e não obstante um fantasma espiritual na base divina como todos nós, de

repente ele disse: “O tempo de minha liberação completa está próximo, mas

deixe que se passem três meses, e atingirei o nirvana”.

Sentado embaixo de uma árvore, no mesmo instante o Tathagata perdeu-se

em êxtase, e de bom grado rejeitou os anos que lhe cabiam, e por seu poder espiritual

fixou o prazo restante de sua vida.

Saindo do êxtase, Buda anunciou para todo o mundo:

“Desisti de meus anos finais: daqui em diante vivo pelo poder da fé; meu

corpo é como uma carruagem quebrada, sem mais causas para ‘vir’ ou para ‘ir’,

completamente livre da terra, céu e inferno, sigo alforriado, como uma galinha

livre de seu ovo.

“Ananda! Fixei o fim de minha vida para daqui a três meses, abro mão por

completo do resto de vida; é por esse motivo que a terra está muito abalada.”

Ananda gritou: “Tenha piedade! Salve-me, mestre! não pereça tão cedo!”

O Abençoado replicou: “Se os homens apenas conhecessem sua natureza,

não viveriam em dor. Tudo o que vive, o que quer que seja, está sujeito à lei da

destruição; eu já lhe falei claramente: a lei das coisas ‘ajuntadas’ é a

‘separação’.”

E, enquanto Ananda chorava no bosque escuro, o Abençoado falou-lhe estas

tristes palavras verdadeiras:

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