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imortal, “purusha”, atman, a superalma que ia de vida em vida ficando mais e

mais ou menos e menos pura, sendo a meta final o estado de alma pura no céu.

Mas a sagrada inteligência de Gautama percebeu que “purusha” não passava de

uma bola quicando por aí de acordo com circunstâncias concomitantes, fosse no

céu, no inferno ou na terra, e que, enquanto a pessoa mantivesse essa visão, não

haveria fuga perfeita do nascimento e da destruição do nascimento. O nascimento

de qualquer coisa significa a morte dessa coisa: e isso é decadência, isso é

horror, mudança, isso é dor.

Gautama falou: “Você diz que logo depois de tornar-se o ‘eu’ puro haveria a

verdadeira liberação; mas, se encontramos uma união de causa e efeito, então

há um retorno aos estorvos do nascimento; do mesmo modo que o germe na semente:

quando a terra, o fogo, a água e o vento parecem ter destruído o princípio

da vida ali dentro, ela não obstante reviverá ao encontrar circunstâncias favoráveis

concomitantes, sem qualquer causa evidente, mas devido ao desejo, e

apenas para morrer de novo; assim também aqueles que obtiveram essa suposta

libertação, mantendo igualmente a ideia do ‘eu’ e das coisas vivas, de fato não

obtiveram a liberação final.”

Aproximando-se agora de seu momento de perfeição em sabedoria e compaixão,

o jovem santo viu todas as coisas, homens sentados em bosques,

árvores, céu, diferentes visões sobre a alma, diferentes eus, como uma única

vacuidade unificada no ar, uma flor imaginária, cujo significado era unidade e

indivisibilidade, tudo da mesma matéria de sonho, universal e secretamente

pura.

Ele viu que a existência era como a luz de uma vela: a luz da vela e a extinção

da luz da vela eram a mesma coisa.

Ele viu que não havia necessidade de conceber a existência de nenhuma superalma,

como se para afirmar a existência de uma bola fosse preciso quicá-la

por aí conforme os ventos da ríspida marcha imaginária das coisas, tudo isso

uma lambança produzida pela mente, tal como um sonhador continua seu

pesadelo de propósito na esperança de se extricar das dificuldades horrorosas

que ele não percebe que estão apenas em sua mente.

Gautama viu a paz do nirvana de Buda. Nirvana significa apagado, como

uma vela. Mas porque o nirvana de Buda está além da existência, e não concebe

a existência e tampouco a não existência da luz de uma vela, ou de uma alma

imortal, ou de qualquer coisa, não é nem mesmo nirvana, tampouco é a luz da

vela conhecida como sangsara (este mundo), nem a extinção apagada da luz da

vela conhecida como nirvana (o não mundo), mas despertar além dessas concepções

estabelecidas de forma arbitrária.

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