20.05.2020 Views

jack-kerouac-despertar-uma-vida-de-buda-em-portuguc3aas1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

98/127

“Vamos considerar a natureza do vento. Não tem substancialidade visível e

não possui permanência nem em movimento nem em imobilidade. Por exemplo,

sempre que movimento minha mão perto de seu rosto uma pequena brisa

sopra em seu rosto. O que você acha, Ananda: essa pequena brisa que responde

livremente e em perfeita adequação ao movimento de minha mão vem da minha

mão, como um reflexo no espelho, ou vem do ar-espaço entre minha mão e seu

rosto? Se viesse de minha mão, quando minha mão repousa quieta em meu colo,

onde estaria a brisa? Se vem do espaço do ar, por que seus lenços pendem imóveis?

Além disso, como a natureza do espaço é permanente, se a brisa que vem

do espaço deveria soprar constantemente. Quando não há brisa, isso significa

que também não há espaço? Na medida em que a brisa vem e vai, qual é sua

aparência ao vir e ir? Se ela vem e vai, então o espaço teria desaparições e aparições,

mortes e renascimentos, e não mais poderia ser chamado de espaço. Se é

chamado de espaço, como pode emitir vento a partir de sua vacuidade? Se a

brisa que se sente no rosto vem daquele rosto, então a brisa deveria ser sempre

sentida ali. O que origina a brisa e de onde ela vem? A brisa está adormecida na

vacuidade, posso estimulá-la pelo movimento da minha mão, mas a origem da

brisa não está no movimento da minha mão porque é para ali que a originalidade

da brisa deve retornar quando minha mão está parada? Minha mão é espaço

vazio, e a brisa está por toda parte. Se o vento vem de toda parte, onde pode estar

a localidade específica que é a origem do vento?

“Ananda! Por que você ainda permanece na ignorância de que nos reinos de

Tusita que estão além de concepções arbitrárias de qualquer tipo, sejam concepções

sobre a existência ou sobre a não existência, a natureza intrínseca do

vento é a vacuidade real, ao passo que a natureza intrínseca do espaço é a real

essência do vento?

“E ocorre o mesmo com o espaço, que deve ser considerado como o quinto

grande elemento. Ananda, a natureza do espaço não possui forma porque é a

vacuidade clara como cristal que reduzimos em nossas mentes mortais a algo

que reside entre coisas que parecem existir, como as estrelas, e elas são separação

imaginária. O único modo pelo qual o espaço se manifesta aos nossos

sentidos é pelas cores; a poeira infinitesimal no céu reflete raios de sol e vemos

azul, por exemplo. Mas o espaço em si é apenas outra de nossas concepções arbitrárias,

e não existe sequer uma coisa como ‘espaço vazio’, que implicaria que

coisas separativas como planetas e coisas imaginárias como as paredes de um

buraco existissem de verdade.

“Quando você cava um poço, pelo martelar a terra torna-se espaço no solo.

Por exemplo, Ananda, quando um poço é cavado, o espaço se manifesta no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!