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“Vamos considerar a natureza do vento. Não tem substancialidade visível e
não possui permanência nem em movimento nem em imobilidade. Por exemplo,
sempre que movimento minha mão perto de seu rosto uma pequena brisa
sopra em seu rosto. O que você acha, Ananda: essa pequena brisa que responde
livremente e em perfeita adequação ao movimento de minha mão vem da minha
mão, como um reflexo no espelho, ou vem do ar-espaço entre minha mão e seu
rosto? Se viesse de minha mão, quando minha mão repousa quieta em meu colo,
onde estaria a brisa? Se vem do espaço do ar, por que seus lenços pendem imóveis?
Além disso, como a natureza do espaço é permanente, se a brisa que vem
do espaço deveria soprar constantemente. Quando não há brisa, isso significa
que também não há espaço? Na medida em que a brisa vem e vai, qual é sua
aparência ao vir e ir? Se ela vem e vai, então o espaço teria desaparições e aparições,
mortes e renascimentos, e não mais poderia ser chamado de espaço. Se é
chamado de espaço, como pode emitir vento a partir de sua vacuidade? Se a
brisa que se sente no rosto vem daquele rosto, então a brisa deveria ser sempre
sentida ali. O que origina a brisa e de onde ela vem? A brisa está adormecida na
vacuidade, posso estimulá-la pelo movimento da minha mão, mas a origem da
brisa não está no movimento da minha mão porque é para ali que a originalidade
da brisa deve retornar quando minha mão está parada? Minha mão é espaço
vazio, e a brisa está por toda parte. Se o vento vem de toda parte, onde pode estar
a localidade específica que é a origem do vento?
“Ananda! Por que você ainda permanece na ignorância de que nos reinos de
Tusita que estão além de concepções arbitrárias de qualquer tipo, sejam concepções
sobre a existência ou sobre a não existência, a natureza intrínseca do
vento é a vacuidade real, ao passo que a natureza intrínseca do espaço é a real
essência do vento?
“E ocorre o mesmo com o espaço, que deve ser considerado como o quinto
grande elemento. Ananda, a natureza do espaço não possui forma porque é a
vacuidade clara como cristal que reduzimos em nossas mentes mortais a algo
que reside entre coisas que parecem existir, como as estrelas, e elas são separação
imaginária. O único modo pelo qual o espaço se manifesta aos nossos
sentidos é pelas cores; a poeira infinitesimal no céu reflete raios de sol e vemos
azul, por exemplo. Mas o espaço em si é apenas outra de nossas concepções arbitrárias,
e não existe sequer uma coisa como ‘espaço vazio’, que implicaria que
coisas separativas como planetas e coisas imaginárias como as paredes de um
buraco existissem de verdade.
“Quando você cava um poço, pelo martelar a terra torna-se espaço no solo.
Por exemplo, Ananda, quando um poço é cavado, o espaço se manifesta no