Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
54/127
“Não existe ‘eu’ em absoluto, na verdade.
“Nenhum autor e nenhum conhecedor, nenhum senhor; porém, sempre
resta nascimento e morte, como manhã e noite sempre se repetindo.
“Mas agora prestem atenção em mim e escutem: esses seis sentidos e seus
seis objetos reunidos causam os seis tipos de consciência; o encontro de olho e
visão ocasiona o contato, produz consciência da visão; o encontro de ouvido e
som ocasiona o contato, produz consciência do som; o encontro de língua e
sabor ocasiona contato, produz consciência do sabor; o encontro de nariz e odor
ocasiona o contato, produz consciência do odor; o encontro de corpo e objeto
tocável ocasiona o contato, produz consciência do toque; e o encontro de
cérebro e pensamento ocasiona o contato, produz consciência do pensamento;
seguem-se então os efeitos entrelaçados da recordação.
“Assim como o vidro ustório causa o aparecimento de fogo quando é colocado
sobre o pavio no sol a pino, do mesmo modo o órgão do sentido colocado
em contato com o objeto causa o aparecimento da consciência, e o eu individual,
o pai da consciência, nasce.
“O rebento brota da semente, a semente não é o broto, não é o broto e contudo
não é diferente: assim é o nascimento de tudo o que vive!”
Ao ouvir esse discurso sobre a inconstância do eu que, oriundo de sensação
e recordação, deve necessariamente estar sujeito à condição de cessação, o rei e
muitos daqueles que o acompanhavam tomaram refúgio nas Três Joias (Tri-
Ratna) de Buda, do Darma e da Sangha e se tornaram seguidores leigos. O rei
então convidou o Abençoado para o palácio real, recebeu-o com os bhikshus e
presenteou a Sangha com seu jardim de prazer, o Bosque de Bambu de Veluvana,
para ser um local de moradia dos discípulos sem lar do grande professor.
Então nomeou Jivaka, seu famoso médico particular, para se encarregar do
atendimento médico de Buda e de seus seguidores; e foi por sugestão desse
médico que os bhikshus, que antes vestiam apenas trapos jogados fora, tiveram
permissão para aceitar mantos tingidos de amarelo dos leigos devotos.
O Bosque de Bambu ficava perto da cidade, mas não tão próximo, com muitos
portões e caminhos públicos, fácil de achar por aqueles que o buscavam,
pacífico e sossegado o dia inteiro, misticamente silencioso à noite, longe de multidões
e estradas, um local planejado para retiro e concentração imperturbada
da mente em sua própria essência pura, ainda que encantadoramente provido
de jardins, claustros, salões de meditação, cabanas, despensas cercadas por
tanques de lótus, mangueiras perfumadas e palmeiras-leque delgadas que se erguiam
no céu como flores etéreas, como sombrinhas aquosas fantásticas de dor
viva lembrando os monges, quando as olhavam, de como as sementes, como