As línguas em nossa línguaA língua é um fenômeno social que <strong>de</strong>signa um grupo étnico,sua <strong>cultura</strong>, seus costumes e crenças, espaço territorial e forma<strong>de</strong> organização. O ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> educação do Projeto <strong>de</strong> ExtensãoIlê Aiyê 1 nos explica que as línguas africanas têm seus sons, suasgramáticas, suas formas <strong>de</strong> escrita, suas expressões literárias, seusfonemas, seus números.No Brasil, com a escravização dos africanos, um dos recursosutilizados pelos colonizadores foi evitar a comunicação entreos membros <strong>de</strong> um mesmo grupo étnico, que compartilhavamuma mesma língua. Costumava-se separar os africanos que tivessemuma origem comum, a fim <strong>de</strong> que não cultivassem seus costumes,valores e conhecimentos, sua linguagem.Essa estratégia impediu, por um lado, que preservássemosas diversas línguas africanas, mas, por outro, fez com que a línguaportuguesa sofresse alterações semânticas, sintáticas, morfológicase fonológicas. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a influência do falar africano e indígenano Brasil fez com que tivéssemos uma língua menos rígi<strong>da</strong>,mais afetiva, criativa, musical e marca<strong>da</strong> pela orali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na<strong>da</strong> dissofoi vivido sem resistência, reação e busca <strong>de</strong> estratégias para sobreviver,se comunicar, sublevar-se, mantendo vivas as tradições.O texto a seguir, uma música do grupo Ilê Aiyê, resgata emnossa memória a Revolta dos Malês. Essa foi uma <strong>da</strong>s revoltas que<strong>de</strong>monstraram a forma <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong> gruposescravizados, no Brasil do século XIX.De olho na Cultura 1051A Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê éuma instituição negra que realiza um trabalho histórico<strong>de</strong> resgate dos valores civilizatórios africanos. Éum bloco afro tradicional <strong>de</strong> Salvador/BA, NúmeroIX, África Ventre Fértil do Mundo,
Levante <strong>de</strong> Sabres <strong>Africanos</strong>(Guellwaar & Moa Catendê)Levante <strong>de</strong> Sabres... a noite caiu,(A noite <strong>da</strong> glória talvez)Na hora <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sábios malêsComo fúria e sonhos na tez.1835 voltas do mundo malê,Um sonho tão belo foi sub-traído.Mas ressoa no coro do majestoso Ilê (bis)Por to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> vitorioso.RefrãoCante! Aê, aêVibre! Aê, eáNinguém cala a boca <strong>de</strong> Babba Almami(Carcará)O po<strong>de</strong>r era o fim e a rainha esqueci<strong>da</strong> Luiza MahinTemperou a revolta no tempo <strong>da</strong> memóriaEm nome <strong>de</strong> Allah se o dono <strong>da</strong> terraPara calafatear nosso caminho.Só quem tem patuá não tem medo <strong>da</strong> guerraEscorrega, levanta e nunca está sozinho.Alufás: Dassalú, Dan<strong>da</strong>rá, Salin,Licutan, Nicobé, Ahuna...Construindo saberes1. O que foi a Revolta dos Malês? Por que o título Levante <strong>de</strong>Sabres? Faça uma pesquisa para obter <strong>maio</strong>res informaçõessobre as principais revoltas ou insurreições dos/asescravos/as no Brasil. Destaque a participação femininanesses movimentos.2. Após a pesquisa, procure comentar a importância <strong>de</strong>ssasrevoltas para a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e a resistência negra, no Brasil.3. Qual a origem do termo malê? O que significa? O queessa revolta tem a ver com o islamismo e Allah?4. Procure informações sobre alguns nomes citados no texto,tais como Luiza Mahim, Babba Almami e Dan<strong>da</strong>rá.5. O que quer dizer “Um sonho tão belo foi sub-traído”?6. Procure o significado <strong>de</strong> patuá e Alufás.106 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14:
Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19:
As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21:
Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23:
de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25:
Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27:
CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29:
Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31:
Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33:
Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35:
Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37:
Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39:
REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41:
Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43:
Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45:
Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47:
E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49:
Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50:
mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54:
52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56: Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58: cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60: mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62: criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63 and 64: Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 65 and 66: Uma das maiores dificuldades na soc
- Page 67 and 68: Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70: 68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72: Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74: Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76: Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78: Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80: Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82: Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84: 82 De olho na Cultura
- Page 85 and 86: 84 De olho na Cultura
- Page 87 and 88: Essa interação envolve os reinos
- Page 89 and 90: os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92: Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94: Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96: prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98: 1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100: tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102: Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104: Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105: 104 De olho na Cultura
- Page 109 and 110: línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112: ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114: 4. Um dos significados de territori
- Page 115 and 116: Linguagem e poder... A começar do
- Page 117 and 118: termos lingüísticos com a finalid
- Page 119 and 120: da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123: MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125: Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127: Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129: Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131: Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133: pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135: cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137: Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138: Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142: 140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144: Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146: uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148: Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150: pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152: Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154: Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156: África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157 and 158:
técnica e expressão artística, c
- Page 159 and 160:
etratam suas lembranças de infânc
- Page 161 and 162:
Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164:
Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166:
Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168:
Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170:
168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172:
A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174:
Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175 and 176:
Televisão em questãoA televisão,
- Page 177 and 178:
Em 1996, a Rede Manchete de Televis
- Page 179 and 180:
Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182:
Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184:
O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186:
etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188:
Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190:
Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192:
3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194:
5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196:
194 De olho na Cultura
- Page 197:
Uma história do negro no Brasilde