Orali<strong>da</strong><strong>de</strong> e corporali<strong>da</strong><strong>de</strong>afro-brasileiraA tradição oral é guardiã <strong>da</strong> história e <strong>da</strong> memória entre muitospovos africanos, sendo preserva<strong>da</strong>, principalmente, por homenssábios, que foram e são responsáveis por manter a memória vivados fatos e feitos <strong>de</strong> seus antepassados. São poetas, músicos, <strong>da</strong>nçarinos,conselheiros. Por isso, são <strong>de</strong>nominados, <strong>de</strong> modo geral,como contadores <strong>de</strong> histórias.Em muitas <strong>cultura</strong>s <strong>de</strong> origem africana, o visível constituimanifestação do invisível, por isso, po<strong>de</strong> haver uma energia vivanas pedras, nas folhas, nos rios, nos fenômenos temporais, nosanimais, nos alimentos, dos quais emana uma força vital. Entre ascivilizações bantu, essa energia po<strong>de</strong> receber a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>hamba. Já para o povo iorubá ela é <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> axé. O fun<strong>da</strong>mentalé que essa força po<strong>de</strong> ser aumenta<strong>da</strong>, diminuí<strong>da</strong>, transforma<strong>da</strong>ou realimenta<strong>da</strong>. Por exemplo, a morte é vista como transferência<strong>de</strong> energia, uma vez que essa força não acaba.As pedras e as árvores não são adora<strong>da</strong>s porque são pedrase árvores, mas porque são sagra<strong>da</strong>s. Elas são acresci<strong>da</strong>s <strong>de</strong> significadossimbólicos, isto é, quando um objeto ou acontecimento évisto como sagrado, ele permanece o mesmo, mas passa a ser epossuir uma outra força.De olho na Cultura 85
Essa interação envolve os reinos mineral, vegetal e animal eo mundo sobrenatural. Tudo se inter-relaciona, pois o espaço cotidianodialoga com o espaço sagrado. Do mesmo modo, o universopossui duas dimensões, uma é o mundo on<strong>de</strong> vivemos e aoutra é on<strong>de</strong> habitam as forças dos ancestrais. As oferen<strong>da</strong>s sãocompreendi<strong>da</strong>s nesse contexto como uma <strong>da</strong>s maneiras <strong>de</strong> estabelecera comunicação entre as dimensões e obter a força dosantepassados.Todos nós temos alguma relação simbólica com os objetos,que se tornam algo muito especial – talismã ou amuleto – epassam a fazer parte <strong>da</strong> nossa história. Vasculhe a sua memória eresgate algo que seja significativo para você.Outro aspecto importante nessa relação visível-invisível é ofato <strong>de</strong> ela ser comunica<strong>da</strong> e registra<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> palavra fala<strong>da</strong>.O po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> palavra garante e preserva o ensinamento, uma vezque ela possui uma energia vital, com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> transformadorado mundo.Conforme citado no capítulo sobre i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, existe umafigura que representa o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> palavra: o griot. Ele tem enormecredibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, pois instrui os governantes na história <strong>de</strong> seus antecessorese cria, com pompa, uma atmosfera para o relato que conduz.Utilizando a sabedoria e os privilégios <strong>da</strong> casta a que pertence,que é a dos músicos, exerce seu ofício <strong>de</strong> ser a memória <strong>de</strong>personagens e famílias, sobretudo as reais. Sua presença é marcantepor to<strong>da</strong> a África Oci<strong>de</strong>ntal, com <strong>de</strong>staque para o Mali e to<strong>da</strong> aregião <strong>da</strong> Senegâmbia.Senegâmbia é um termo proposto por intelectuais africanosque investigam o problema do processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> novasi<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a partir <strong>da</strong>s fronteiras que <strong>de</strong>finiram os Estados africanos.A <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong>s fronteiras do noroeste <strong>da</strong> África, durantea colonização européia, envolveu, principalmente, seis países— Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, parte <strong>da</strong> Mauritânia, Mali eGuiné Conakry — tendo em vista a organização <strong>de</strong> uma regiãopolítica e economicamente re<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por alianças <strong>cultura</strong>is.Os Dieli armazenam séculos e mais séculos <strong>de</strong> segredos,crenças, costumes, len<strong>da</strong>s e lições sábias <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, sem recorrer aoregistro escrito, valendo-se <strong>da</strong> memorização. Entre os guardiões86 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14:
Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19:
As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21:
Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23:
de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25:
Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27:
CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29:
Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31:
Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33:
Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35:
Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37: Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39: REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41: Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43: Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45: Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47: E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49: Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50: mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54: 52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56: Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58: cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60: mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62: criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63 and 64: Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 65 and 66: Uma das maiores dificuldades na soc
- Page 67 and 68: Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70: 68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72: Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74: Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76: Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78: Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80: Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82: Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84: 82 De olho na Cultura
- Page 85: 84 De olho na Cultura
- Page 89 and 90: os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92: Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94: Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96: prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98: 1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100: tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102: Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104: Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105 and 106: 104 De olho na Cultura
- Page 107 and 108: Levante de Sabres Africanos(Guellwa
- Page 109 and 110: línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112: ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114: 4. Um dos significados de territori
- Page 115 and 116: Linguagem e poder... A começar do
- Page 117 and 118: termos lingüísticos com a finalid
- Page 119 and 120: da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123: MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125: Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127: Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129: Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131: Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133: pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135: cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137:
Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138:
Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142:
140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144:
Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146:
uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148:
Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150:
pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152:
Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154:
Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156:
África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157 and 158:
técnica e expressão artística, c
- Page 159 and 160:
etratam suas lembranças de infânc
- Page 161 and 162:
Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164:
Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166:
Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168:
Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170:
168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172:
A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174:
Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175 and 176:
Televisão em questãoA televisão,
- Page 177 and 178:
Em 1996, a Rede Manchete de Televis
- Page 179 and 180:
Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182:
Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184:
O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186:
etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188:
Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190:
Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192:
3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194:
5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196:
194 De olho na Cultura
- Page 197:
Uma história do negro no Brasilde