eram capazes <strong>de</strong> oferecer alternativas para o escape legal <strong>de</strong>ntrodo sistema <strong>de</strong> escravidão. Formas <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong> alforriaspossibilitavam a compra <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> aos filiados <strong>da</strong> congregação.Sob esse ponto <strong>de</strong> vista, po<strong>de</strong>-se conhecer um aspecto <strong>da</strong>religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> católica <strong>da</strong> população negra ain<strong>da</strong> escraviza<strong>da</strong> e <strong>de</strong>seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes no Brasil. As confrarias, aparentemente, seguemregras <strong>de</strong> hierarquia e distinção próprias do mundo europeu doAntigo Regime, mas, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, recriam formas para expandirconvívios sociais, seja pela prática religiosa e festiva, seja pelaadministração econômica e política.Consi<strong>de</strong>rando a leitura do texto:A Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário dos HomensPretos <strong>de</strong> São Paulo foi constituí<strong>da</strong> em 2 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1711. Seráque existiu alguma igreja só para escravos em sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>?As irman<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Rosário existem até hoje, espalha<strong>da</strong>s portodo o Brasil. Vale a pena conhecer a história <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las.O culto à Maria requer a recitação do rosário como forma <strong>de</strong> meditação,mas as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s extrapolaram os cultos religiosos. Asirman<strong>da</strong><strong>de</strong>s assistiam os enfermos e auxiliavam nos enterros, aju<strong>da</strong>vamos mais necessitados e até os presos.Tecendo afro-religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>sno BrasilCandomblé era o nome <strong>da</strong>do às manifestações dos cultos <strong>de</strong> origemafricana na Bahia, sobretudo, a partir do século XIX. As cerimônias<strong>de</strong> mesmo gênero recebiam o nome <strong>de</strong> Xangô no Recife,macumba no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Tambor-<strong>de</strong>-mina, no Maranhão eBatuque, em Porto Alegre.Mais especificamente, os terreiros baianos <strong>de</strong>senvolviam ocandomblé nagô-queto, <strong>de</strong> origem ioruba. Os ritos jeje remetiam à<strong>cultura</strong> fon, vizinha <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> ioruba. Mas havia também o ritoangola, que apontava para uma origem bantu. To<strong>da</strong>s essas divisõesresultaram em um dinamismo próprio <strong>da</strong>s religiões africanas re-Os orixás são divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s do panteão ioruba. Essa estruturareligiosa se organiza em torno do oráculo <strong>de</strong>Ifá, sistema <strong>de</strong> adivinhação que contém 256 odus (contosmíticos) reveladores dos segredos que revitalizama força <strong>da</strong> natureza.No panteão Fon, grupo étnico <strong>da</strong> região do Benin, asdivin<strong>da</strong><strong>de</strong>s são chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> voduns.Bantu é um termo cunhado pelo lingüista alemão W. H.Bleek, em 1875, para se referir a quase 2/3 <strong>da</strong>s línguasafricanas do sul do continente.São inúmeras as formas <strong>de</strong> religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> nessa gran<strong>de</strong>extensão <strong>cultura</strong>l. Porém, as divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s bantu mais conheci<strong>da</strong>sno Brasil são os inquices.De olho na Cultura 59
cria<strong>da</strong>s no Brasil. Essas classificações, segundo os mo<strong>de</strong>los dosritos, não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> reportar à idéia <strong>de</strong> nações africanas.Consi<strong>de</strong>rando a leitura do texto:Procure o CD do cantor e compositor Caetano Veloso coma música intitula<strong>da</strong> Milagres do Povo. Observe na construção <strong>da</strong> letrao tema proposto. Examine as estrofes. Escolha trechos <strong>da</strong> letra eproponha uma interpretação sobre religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> africana no Brasil.A letra <strong>da</strong> canção Milagres do Povo fala que “Oju Obá ia lá evia”. Obá na língua ioruba quer dizer rei e Oju, olhos. O grupoétnico ioruba vive em uma parte <strong>da</strong> Nigéria, no Togo e no Benin.Isto porque a divisão política resolvi<strong>da</strong> por um tratado europeunão correspon<strong>de</strong> à divisão <strong>cultura</strong>l <strong>da</strong>s etnias africanas. Entre osioruba existem os sacerdotes <strong>de</strong> Ifá, orixá que presi<strong>de</strong> a adivinhação.Esse sacerdotes possuem o dom <strong>de</strong> ver o <strong>de</strong>stino <strong>da</strong>spessoas ao consultar o oráculo, o opelê <strong>de</strong> Ifá, um colar feito <strong>de</strong>caroços presos por uma corrente.Esse olhar ioruba po<strong>de</strong> revelar um complexo conjunto <strong>de</strong>mitos que narram episódios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dos orixás. Neles, estão a origem,as características, as quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e fraquezas <strong>da</strong>s divin<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Essas narrativas foram passa<strong>da</strong>s através <strong>da</strong>s gerações e contêmuma sabedoria singular na interpretação <strong>da</strong> origem dos tempos e<strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong> do consultante.Orixás são forças <strong>da</strong> natureza. E ca<strong>da</strong> pessoa tem uma natureza<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si — a força do orixá. Oxum é a divin<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>ságuas doces, é menina quase sempre <strong>de</strong>ngosa, dona <strong>da</strong> beleza e<strong>da</strong> fertili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já Iemanjá é orixá dos reinos <strong>da</strong>s águas salga<strong>da</strong>s, éa dona do mar e mãe dos orixás, figura feminina madura, mãenutridora. Oiá é o feminino guerreiro, dona dos ventos simboliza<strong>da</strong>pelo raio e pelas tempesta<strong>de</strong>s que transformam as situações.Nanã, orixá associado à lama <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saímos e para on<strong>de</strong> todosiremos voltar, é o feminino representado pela senhora idosa.São tantos os orixás quanto os elementos que energizam anatureza. Mas, no Brasil, por causa <strong>da</strong> escravização <strong>de</strong> povos africanos,a memória foi selecionando os cultos prioritários. Restaramapenas por volta <strong>de</strong> 15 orixás bem lembrados. Entre eles, Xangô.60 De olho na Cultura
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