A imagem do negrona história <strong>da</strong> Arte BrasileiraDurante muito tempo, quem <strong>de</strong>tinha (e ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>tém, em gran<strong>de</strong>parte) os meios <strong>de</strong> produção, divulgação e circulação <strong>de</strong> informaçõesestendia esse mesmo monopólio para o campo <strong>da</strong>s artes.Razões políticas e <strong>cultura</strong>is fizeram com que a representaçãopositiva <strong>da</strong> imagem do negro no Brasil fosse cercea<strong>da</strong> durantemuito tempo. Vingava a imagem <strong>de</strong> uma população negra dócil esubordina<strong>da</strong>, ou do negro como um ser exótico e inferiorizado.Somente em 1853, um negro seria objeto <strong>de</strong> um retrato, gênero<strong>de</strong> pintura que homenageava personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes. Omarinheiro Simão, carvoeiro do vapor <strong>de</strong> Pernambuco, foi consi<strong>de</strong>radoum herói por ter bravamente salvo pessoas <strong>de</strong> um naufrágioem Santa Catarina. Na época, talvez este fosse o único motivopor que um negro pô<strong>de</strong> ter o seu retrato pintado pelo artista mineiroe professor <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Belas Artes José Correia<strong>de</strong> Lima (1814-1857).Movimento Mo<strong>de</strong>rnista BrasileiroA história <strong>da</strong> arte <strong>de</strong>signa, genericamente, como mo<strong>de</strong>rnismo os váriosmovimentos artísticos e literários surgidos no fim do século XIXe no início do século XX que apresentaram novas concepções estéticas.Esse movimento <strong>de</strong> renovação estética influenciou artistas brasileiroscomo Di Cavalcanti e Lasar Segall. O Mo<strong>de</strong>rnismo Brasileiroencontrou campo fértil para o seu <strong>de</strong>senvolvimento em São Paulo.Naquele momento, a elite paulista procurava se distinguir <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>do Rio <strong>de</strong> Janeiro por meio <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> do progresso <strong>da</strong> região,que recebia muitos imigrantes, principalmente italianos.A Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> 1922 foi o marco do movimentomo<strong>de</strong>rnista, que buscava a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma arte autenticamentebrasileira, livre dos tradicionais mo<strong>de</strong>los europeus. Dentreoutros temas, os artistas mo<strong>de</strong>rnistas se ocuparam em retrataros vários fenótipos dos brasileiros.O artista brasileiro Cândido Portinari, <strong>de</strong> família bastantehumil<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno gostava <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar e pintar. Suas obrasDe olho na Cultura 157
etratam suas lembranças <strong>de</strong> infância, a preocupação com a digni<strong>da</strong><strong>de</strong>do ser humano e, o que mais lhe incomo<strong>da</strong>va, a pobrezaque via em sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando criança.Lasar Segall, o sexto <strong>de</strong> oito filhos <strong>de</strong> uma família ju<strong>da</strong>ica epobre, nasceu em 1891, na capital <strong>da</strong> Lituânia, e iniciou seus estudos<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho aos 14 anos. Em 19<strong>23</strong>, já um artista consagrado erespeitado na Europa, sofrendo perseguição por ser ju<strong>de</strong>u e tendosido prisioneiro durante a I Guerra Mundial (1914-1918), escolheuo Brasil como país para morar <strong>de</strong>finitivamente e passou afazer parte do grupo <strong>de</strong> artistas <strong>da</strong> corrente mo<strong>de</strong>rnista. Faleceuem 1957, em São Paulo, <strong>de</strong>ixando pinturas, <strong>de</strong>senhos, gravuras ees<strong>cultura</strong>s que refletem sua preocupação com as injustiças sociaise com o sofrimento humano.I<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong> por Di Cavalcanti, e abraça<strong>da</strong> por vários artistas<strong>da</strong> época, a Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna aconteceu entre 11 e 18 <strong>de</strong>fevereiro <strong>de</strong> 1922, no Teatro Municipal <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> foramapresenta<strong>da</strong>s exposições <strong>de</strong> arte, conferências, leituras <strong>de</strong> poesia eprosa, espetáculos <strong>de</strong> música e <strong>de</strong> <strong>da</strong>nça. A Semana causou inúmerasreações, negativas e positivas, no cenário <strong>cultura</strong>l. Este foi operíodo <strong>de</strong> <strong>maio</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s questões liga<strong>da</strong>s às relações étnico-raciaisna composição <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> brasileira.Estampa negraA gravura, como arte, firma-se no século XX e sua particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>é a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reprodução <strong>da</strong> imagem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> comouma obra original. Um trabalho <strong>de</strong> gravura divi<strong>de</strong>-se em quatroetapas igualmente importantes: a gravação, momento em que secava o suporte para configurar a imagem; a entintagem, momentoem que se passa tinta no suporte já gravado; a impressão, quandose transfere a imagem para o papel; e a finalização, quando a impressãoé numera<strong>da</strong> e assina<strong>da</strong>. Uma gravura é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> originalquando assina<strong>da</strong> e numera<strong>da</strong> pelo artista, <strong>de</strong>ntro dos padrõesestabelecidos internacionalmente.A impressão <strong>da</strong> imagem é feita diretamente <strong>da</strong> matriz peloartista ou por impressor especializado, mas sob a orientação doprimeiro. Quando consi<strong>de</strong>ra termina<strong>da</strong> a produção, o artista tira aprimeira prova, que é chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> PA. (prova do artista).158 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14:
Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19:
As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21:
Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23:
de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25:
Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27:
CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29:
Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31:
Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33:
Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35:
Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37:
Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39:
REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41:
Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43:
Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45:
Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47:
E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49:
Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50:
mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54:
52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56:
Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58:
cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60:
mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62:
criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63 and 64:
Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 65 and 66:
Uma das maiores dificuldades na soc
- Page 67 and 68:
Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70:
68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72:
Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74:
Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76:
Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78:
Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80:
Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82:
Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84:
82 De olho na Cultura
- Page 85 and 86:
84 De olho na Cultura
- Page 87 and 88:
Essa interação envolve os reinos
- Page 89 and 90:
os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92:
Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94:
Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96:
prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98:
1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100:
tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102:
Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104:
Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105 and 106:
104 De olho na Cultura
- Page 107 and 108: Levante de Sabres Africanos(Guellwa
- Page 109 and 110: línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112: ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114: 4. Um dos significados de territori
- Page 115 and 116: Linguagem e poder... A começar do
- Page 117 and 118: termos lingüísticos com a finalid
- Page 119 and 120: da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123: MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125: Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127: Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129: Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131: Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133: pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135: cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137: Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138: Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142: 140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144: Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146: uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148: Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150: pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152: Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154: Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156: África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157: técnica e expressão artística, c
- Page 161 and 162: Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164: Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166: Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168: Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170: 168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172: A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174: Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175 and 176: Televisão em questãoA televisão,
- Page 177 and 178: Em 1996, a Rede Manchete de Televis
- Page 179 and 180: Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182: Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184: O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186: etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188: Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190: Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192: 3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194: 5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196: 194 De olho na Cultura
- Page 197: Uma história do negro no Brasilde