asileiros e <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> promover discussões sobre o preconceitoétnico-racial.Quando a discussão sobre a libertação dos escravos, emgeral como pano <strong>de</strong> fundo para uma trama mais romântica, étrazi<strong>da</strong> à luz, a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> heróica pelo <strong>de</strong>sfecho positivo éimputa<strong>da</strong> ao homem branco, em geral jovem, republicano e solidárioà causa dos negros e negras escravizados. Foi o que se viuna novela Escrava Isaura, leva<strong>da</strong> ao ar em 1976, com roteiro a<strong>da</strong>ptadopor Gilberto Braga do romance homônimo <strong>de</strong> BernardoGuimarães, e em Sinhá Moça, em que o ator Henrique Felipe <strong>da</strong>Costa interpretou um lí<strong>de</strong>r quilombola.Parece claro que os eventos acima relatados em na<strong>da</strong> contribuírampara a construção positiva <strong>da</strong> imagem <strong>de</strong> negros e negras.Posteriormente, o quadro, <strong>de</strong> alguma forma, começaria asofrer alterações.Em 1978, na telenovela Corpo a Corpo, a personagem Sônia,interpreta<strong>da</strong> pela atriz Zezé Motta, mantém um relacionamentoamoroso com uma personagem não-negra, Cláudio, interpreta<strong>da</strong>pelo ator Marcos Paulo. A família do rapaz se opõe ao relacionamentopor preconceito racial, até que Sônia salva a vi<strong>da</strong> do pai <strong>de</strong>Cláudio, Alfredo, vivido por Hugo Carvana, doando seu sangue.Tal atitu<strong>de</strong> provoca o arrependimento <strong>de</strong> Alfredo, que acaba consentindono casamento e pedindo perdão a Sônia. Ain<strong>da</strong> que tenhahavido um casamento inter-racial, o que é positivo para pensarmosa vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, outras questões merecem um olharmais cui<strong>da</strong>doso e atento às sutilezas do racismo à brasileira.Joel Zito, na obra A Negação do Brasil – O Negro na TelenovelaBrasileira, diz que as novelas veicula<strong>da</strong>s nessa época apresentam onegro sem apresentar a sua história própria, as suas questões <strong>cultura</strong>ise religiosas e tampouco a sua luta contra a discriminaçãoracial.Ain<strong>da</strong> segundo Zito, a primeira telenovela a ter a luta abolicionistacomo assunto central é Sinhá-Fuló, <strong>de</strong> Lafayette Galvão,leva<strong>da</strong> ao ar em 1978, também pela Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong> Televisão. Essanovela mostra os negros em um papel mais ativo na luta por suaprópria libertação, mas, ain<strong>da</strong> assim, reforça a idéia <strong>de</strong> que sem oherói branco não há êxito.De olho na Cultura 175
Em 1996, a Re<strong>de</strong> Manchete <strong>de</strong> Televisão produz a novelaChica <strong>da</strong> Silva. Escrita por Walcyr Carrasco, a trama é basea<strong>da</strong> nahistória <strong>da</strong> mulata mineira Chica <strong>da</strong> Silva, que conquista o rico epo<strong>de</strong>roso comerciante <strong>de</strong> diamantes João Fernan<strong>de</strong>s, servidor <strong>da</strong>Coroa Portuguesa, motivo, aliás, que impe<strong>de</strong> a oficialização <strong>da</strong> uniãodo casal. A história, que já inspirara Carlos Diegues para a produçãocinematográfica em 1976, cunha a imagem <strong>de</strong> Chica comouma mulher sensual, mima<strong>da</strong>, ardilosa e impiedosa, cujo principal<strong>de</strong>sejo é se impor na vi<strong>da</strong> social dos brancos, pouco se importandocom a questão <strong>da</strong> escravidão.No que se refere à participação negra na história <strong>da</strong> televisãobrasileira, a novela Da Cor do Pecado, escrita por João EmanuelCarneiro e leva<strong>da</strong> ao ar em 2004 pela Re<strong>de</strong> Globo <strong>de</strong> Televisão,significou um marco.Um dos <strong>de</strong>z programas mais vistos em 2004, primeira novela<strong>da</strong> emissora que apresenta uma protagonista negra e tem comotrama principal um romance inter-racial, alcançou gran<strong>de</strong>s índices<strong>de</strong> audiência no horário <strong>da</strong>s 19 horas, o que não ocorria na emissora<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996.A novela conta a história <strong>de</strong> amor entre Paco, um jovembranco e rico, criado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e Preta, uma jovem negrae pobre cria<strong>da</strong> no Maranhão.Alguns pontos merecem atenção, a começar pelo título.Da cor do pecado é título <strong>de</strong> uma música composta por Bororóna déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30 e interpreta<strong>da</strong> já por vários nomes <strong>da</strong> MPB. Nessacomposição se po<strong>de</strong> localizar a manifestação <strong>de</strong> preconceitoem frases como (...) é um corpo <strong>de</strong>lgado <strong>da</strong> cor do pecado e [...] a vergonhase escon<strong>de</strong> porque se revela a mal<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> raça [...].A <strong>de</strong>speito do título alusivo à música, a personagem vivi<strong>da</strong>pela atriz Taís Araújo não correspon<strong>de</strong> ao estereótipo <strong>da</strong> mulhersedutora e arrebatadora. O título induz à interpretação <strong>de</strong> que amulher negra traria na cor <strong>da</strong> pele a mal<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> raça, idéia explicita<strong>da</strong>pela antagonista Bárbara, que disputa com Preta o amor <strong>de</strong>Paco.Bárbara, personagem branca, exacerba o seu preconceitoracial disparando expressões como “aquela negrinha” e “negra176 De olho na Cultura
- Page 4:
Andréia Lisboa de SouzaAna Lúcia
- Page 10 and 11:
IntroduçãoLivros circulam em todo
- Page 12 and 13:
A CRIAÇÃO DOS MUNDOSPELA CULTURAA
- Page 14:
Nomeando e julgandoO ser humano tem
- Page 18 and 19:
As lentes da culturana representaç
- Page 20 and 21:
Antigas colônias francesasAntigas
- Page 22 and 23:
de certas relações sociais e econ
- Page 24 and 25:
Mas nem sempre a cultura a ser cons
- Page 26 and 27:
CULTURAE FORMAÇÃO DE IDENTIDADESO
- Page 28 and 29:
Quais são as relações entre cult
- Page 30 and 31:
Identidades:pequenos grandes retrat
- Page 32 and 33:
Porém, independentemente da miscig
- Page 34 and 35:
Texto AFrechal: Terra de Preto 3Ter
- Page 36 and 37:
Na escola dos mestres das palavras
- Page 38 and 39:
REPRESENTAÇÕES DO HOMEME DA MULHE
- Page 40 and 41:
Em nossa sociedade muito se tem dis
- Page 42 and 43:
Mãe Hilda JitoluHilda Dias dos San
- Page 44 and 45:
Esta é uma conhecida frase da pesq
- Page 46 and 47:
E tu te lembras da Casa-Grandee vam
- Page 48 and 49:
Filhote no subúrbioMulato, pardo o
- Page 50:
mulher. Os adultos educam as crian
- Page 53 and 54:
52 De olho na Cultura
- Page 55 and 56:
Geralmente podemos observar, por me
- Page 57 and 58:
cabelos dreadlocks, em contraste à
- Page 59 and 60:
mada em mercadorias. As expansões
- Page 61 and 62:
criadas no Brasil. Essas classifica
- Page 63 and 64:
Dicas culturais:A Casa Branca do En
- Page 65 and 66:
Uma das maiores dificuldades na soc
- Page 67 and 68:
Nas irmandades, um dos princípios
- Page 69 and 70:
68 De olho na Cultura
- Page 71 and 72:
Sim, somos todos seres humanos, por
- Page 73 and 74:
Brincadeiras sem constrangimentosN
- Page 75 and 76:
Mais explicitamente agressora, do p
- Page 77 and 78:
Estudo sobre a relação entre tele
- Page 79 and 80:
Dicas culturais:Você sabia que, h
- Page 81 and 82:
Das ruas para as academiasNo ano de
- Page 83 and 84:
82 De olho na Cultura
- Page 85 and 86:
84 De olho na Cultura
- Page 87 and 88:
Essa interação envolve os reinos
- Page 89 and 90:
os valores e a memória são revivi
- Page 91 and 92:
Ancestral do metalDo ferro naturalD
- Page 93 and 94:
Muitos só tiveram a sorteda mortal
- Page 95 and 96:
prospectivo, vertical e horizontal,
- Page 97 and 98:
1. O Cacumbi, manifestação da reg
- Page 99 and 100:
tral — espécie de bateria — co
- Page 101 and 102:
Desafio no rap emboladaÉ o Rap emb
- Page 103 and 104:
Mente em açãoNote que o jogo desa
- Page 105 and 106:
104 De olho na Cultura
- Page 107 and 108:
Levante de Sabres Africanos(Guellwa
- Page 109 and 110:
línguas faladas no continente afri
- Page 111 and 112:
ar um movimento em direção oposta
- Page 113 and 114:
4. Um dos significados de territori
- Page 115 and 116:
Linguagem e poder... A começar do
- Page 117 and 118:
termos lingüísticos com a finalid
- Page 119 and 120:
da igreja/comprovante vai pro fogo/
- Page 122 and 123:
MODALIDADES CULTURAISDE LINGUAGEML
- Page 124 and 125:
Patrimônio oralNas unidades anteri
- Page 126 and 127: Soltando o verboO provérbio é out
- Page 128 and 129: Um traço marcante nas modalidades
- Page 130 and 131: Certo de que a Caveira não o decep
- Page 132 and 133: pre afirmam explicitamente uma verd
- Page 134 and 135: cas em histórias e tradições. Do
- Page 136 and 137: Mestre Lico: Tatu tá véio/ (coro)
- Page 138: Utilizando outras modalidades na fa
- Page 141 and 142: 140 De olho na Cultura
- Page 143 and 144: Os adornos corporais, os objetos ri
- Page 145 and 146: uso de madeira, que era entalhada c
- Page 147 and 148: Da África para o MundoPor muito te
- Page 149 and 150: pectiva e a ilusão de profundidade
- Page 151 and 152: Arte de MemóriaQuando o ser humano
- Page 153 and 154: Cultura e identidade na arteNem tod
- Page 155 and 156: África-Brasil - re/traduçãoNão
- Page 157 and 158: técnica e expressão artística, c
- Page 159 and 160: etratam suas lembranças de infânc
- Page 161 and 162: Pérolas do BrasilTambém nos anos
- Page 163 and 164: Afinal, o que é arte?Podemos aceit
- Page 165 and 166: Para dar certo: Encha a bexiga até
- Page 167 and 168: Caso esteja quebradiça, proceda da
- Page 169 and 170: 168 De olho na Cultura
- Page 171 and 172: A cara negra da imprensaA imprensa
- Page 173 and 174: Herbel e Tibério, o Teatro Experim
- Page 175: Televisão em questãoA televisão,
- Page 179 and 180: Cinema em preto e brancoNo Brasil d
- Page 181 and 182: Luz, câmera... re/açãoA represen
- Page 183 and 184: O papel da mídiana discussão étn
- Page 185 and 186: etomado, mas também é generoso, p
- Page 187 and 188: Capítulo 21. CARNEIRO, Sueli. Negr
- Page 189 and 190: Capítulo 51. AREIAS, Almir. O que
- Page 191 and 192: 3. __________. “Colaboração, An
- Page 193 and 194: 5. RODRIGUES, João Carlos. O Negro
- Page 195 and 196: 194 De olho na Cultura
- Page 197: Uma história do negro no Brasilde